Guerra do Afeganistão de 1979

Guerra do Afeganistão de 1979 foi um conflito que se iniciou com a invasão do Afeganistão pelas tropas soviéticas e se estendeu por 10 anos.
Restos de um tanque soviético utilizado durante a Guerra do Afeganistão de 1979.
Restos de um tanque soviético utilizado durante a Guerra do Afeganistão de 1979.
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A Guerra do Afeganistão de 1979 foi um conflito que se iniciou quando a União Soviética decidiu invadir o Afeganistão para defender o governo comunista que governava o país desde 1978. Na luta, os soviéticos enfrentaram os mujahidin, rebeldes que não concordavam com o governo comunista. Os mujahidin receberam apoio norte-americano e conseguiram forçar a saída dos soviéticos 10 anos depois.

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Resumo sobre a Guerra do Afeganistão

  • Em 1978, os comunistas tomaram o poder soviético por meio de um golpe conhecido como Revolução de Saur.
  • As reformas promovidas pelos comunistas desagradaram parte da sociedade afegã, e revoltas começaram a acontecer no país.
  • Os mujahidin eram financiados pelos Estados Unidos e outros países, como a Arábia Saudita.
  • Para proteger o governo comunista do Afeganistão e impedir que o exemplo afegão se espalhasse, a União Soviética decidiu invadir o país em dezembro de 1979.
  • Os soviéticos lutaram no Afeganistão por 10 anos, mas não foram capazes de conquistar o país, e se retiraram em 1989.

Videoaula sobre a Guerra do Afeganistão

Antecedentes da Guerra do Afeganistão

Em 1973, um golpe foi realizado no Afeganistão e a monarquia do país foi substituída pelo regime republicano. Esse golpe foi liderado por Mohammad Daoud, que se tornou presidente do Afeganistão a partir de então. Daoud havia sido primeiro-ministro do país durante a década de 1950 e tinha uma boa relação com os comunistas.

No entanto, a partir de sua presidência, ele passou a promover uma série de ações para retirar os comunistas da política e de cargos do governo afegão. Os comunistas do Afeganistão se reuniam no Partido Democrático do Povo Afegão (PDPA). Além disso, Daoud procurou aproximar-se do Irã e da Arábia Saudita, nações islâmicas e conservadoras.

A perseguição de Daoud e sua aproximação com as nações vizinhas fizeram com os comunistas passassem a conspirar contra o presidente. Essa conspiração deu origem a um golpe que se iniciou em 27 de abril de 1978. Esse evento recebeu o nome de Revolução de Saur e, segundo o historiador Gregory Fremont-Barnes, não contou com envolvimento soviético.|1|

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Ainda assim, uma vez instalado o regime comunista no Afeganistão, o governo soviético mostrou-se aberto a cooperar. Com o governo do PDPA, uma série de reformas drásticas começaram a ser implantadas nesse país asiático. Essas mudanças acabaram dividindo a sociedade afegã, o que abriu caminho para a guerra.

Primeiramente, o PDPA iniciou uma campanha de repressão aos opositores como forma de se sustentar no poder e promoveu reformas nos direitos das mulheres e na questão da terra. Uma reforma agrária foi iniciada no país, desapropriando terras que pertenciam a grandes proprietários e dando-as aos camponeses.

Além disso, os comunistas iniciaram um processo de secularização da sociedade afegã e decidiram pelo fim das leis religiosas, limitaram o funcionamento de mesquitas e aboliram o véu muçulmano. Outras mudanças significativas foram no que se refere aos direitos das mulheres, dando a elas o direito de escolher com que se casar e de serem educadas.

Todas essas mudanças promovidas pelos comunistas desagradaram a uma parte expressiva da sociedade afegã extremamente conservadora e religiosa. Essa situação levou ao início de uma série de revoltas da população contra o governo do PDPA. A repressão do governo comunista a essas revoltas fizeram com que a oposição ao partido crescesse no Afeganistão.

Lideranças religiosas do Afeganistão passaram a convocar a população para uma jihad, uma guerra santa contra os comunistas, acusados de serem ateístas e antimuçulmanos. Foi nesse contexto que os Estados Unidos passaram a intervir na situação afegã.

O governo norte-americano, na época liderado por Jimmy Carter, identificou na crise do Afeganistão uma excelente oportunidade para enfraquecer os soviéticos. O governo norte-americano, em julho de 1979, passou a financiar alguns dos grupos rebeldes que surgiam no Afeganistão, os mujahidin.

O objetivo do governo norte-americano nisso era criar uma armadilha para o governo soviético e levá-lo a invadir o Afeganistão para salvar o governo comunista do PDPA. Os Estados Unidos esperavam que o Afeganistão se tornasse no “Vietnã soviético” e que contribuísse para afetar a economia soviética.

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Principais acontecimentos da Guerra do Afeganistão

O governo soviético passou a se preocupar com as rebeliões dos mujahidin, primeiro porque desejavam manter um Estado-satélite na Ásia Central. Além disso, os soviéticos temiam que uma revolta conservadora e islâmica no Afeganistão pudesse se espalhar para territórios da União Soviética que faziam fronteira com o Afeganistão e que tinham expressiva população muçulmana, como os casos de Uzbequistão, Tadjiquistão e Turcomenistão.

Ao longo de 1979, a oposição dos mujahidin se tornou mais poderosa e colocou em risco o governo do PDPA. Isso fez com que o governo de Leonid Brejnev intervisse na situação do Afeganistão, e a invasão do país aconteceu no dia 24 de dezembro de 1979, esse foi o início da Guerra do Afeganistão.

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A invasão soviética no Afeganistão se estendeu por 10 anos, e, nesse período, os mujahidin utilizaram táticas de guerrilha contra os invasores. O terreno montanhoso de parte do território afegão era perfeito para a guerra de guerrilha e atrapalhava a atuação de blindados e artilharia soviética.

Os mujahidin faziam uso intenso do elemento surpresa, isto é, realizavam ataques inesperados com grande intensidade e então se retiravam rapidamente. As tropas dos mujahidin raramente promoviam conflitos com confronto aberto, e, quando se sentiam ameaçadas, não hesitavam em fugir. Por fim, tinham um grande conhecimento do terreno e preferiam os combates noturnos.

Houve uma grande adesão da população à luta contra os soviéticos, e Gregory Fremont-Barnes aponta que era comum que crianças de 12 anos participassem da luta junto de seus pais e avós.|2| A maioria dos mujahidin lutava motivada pela convocação da jihad, a guerra santa, a luta contra os ateístas soviéticos.

Ao longo do conflito, os mujahidin não tiveram grande força de ataque aéreo nem grande artilharia. Eles se armavam, em grande medida, de Kalashnikov que eram obtidas pelo financiamento que recebiam dos Estados Unidos, Arábia Saudita, Irã, entre outros. Ainda assim, no final da guerra, os mujahidin contavam também com equipamentos antiaéreos.

Depois de invadir o Afeganistão, os soviéticos controlaram uma estrada estratégica que ligava a fronteira soviética até Cabul, além de algumas grandes cidades. Eles também procuraram atacar uma região conhecida como Vale de Panjshir, mas fracassaram. Em boa parte do território afegão, a presença soviética era inexistente ou diminuta.

Em geral, os resultados obtidos pelas tropas soviéticas foram ruins. O exército soviético acumulava fracassos no Afeganistão e tinha dificuldades de lidar com a geografia afegã e com a grande resistência dos mujahadin. Os soviéticos também adotaram a tática de bombardear vilas e plantações que ficavam nas proximidades de locais com atuação dos guerrilheiros.

Com o tempo, a guerra se tornou muito dispendiosa para a União Soviética, pois a quantidade de soldados que morriam se tornou muito grande e os gastos do conflito eram muito altos. Até o ano de 1987, por exemplo, a União Soviética já tinha gastado com ele um valor de cerca de 50 bilhões de dólares.|3| Os soviéticos decidiram se retirar completamente do Afeganistão em 1989.

Acesse também: Guerra do Vietnã e a derrota norte-americana

Consequências da Guerra do Afeganistão

Memorial em homenagem aos soldados soviéticos que morreram durante a Guerra do Afeganistão de 1979.[1]
Memorial em homenagem aos soldados soviéticos que morreram durante a Guerra do Afeganistão de 1979.[1]

A Guerra do Afeganistão de 1979 deu início a um processo de desestabilização do Afeganistão, que se estende até hoje. Esse conflito contribuiu para destruir a infraestrutura do país e aumentar o seu nível de pobreza. Além disso, a Guerra do Afeganistão serviu como ponto de partida para o fortalecimento do fundamentalismo islâmico.

Os mujahidin, em grande parte, foram financiados pelos Estados Unidos e eram fortemente influenciados por ideais extremistas exportados pela Arábia Saudita. O resultado disso foi que o fundamentalismo islâmico se desenvolveu no Afeganistão, e nomes importantes, como Osama bin Laden, tomaram parte nesse conflito. Bin Laden é conhecido por ter sido um dos fundadores da Al-Qaeda e um dos arquitetos dos atentados de 11 de setembro.

Por fim, esse cenário de fundamentalismo religioso permitiu que o Talibã se desenvolvesse no país na década de 1990. O grupo surgiu durante o cenário de guerra civil que se instalou no país.

A Guerra Civil se consolidou depois da derrota do PDPA, em 1992. Com a saída dos soviéticos, o PDPA prosseguiu na luta contra os mujahidin, mas, em 1992, foi derrotado e um novo governo foi formado. O novo governo continuou em luta, uma vez que havia grupos mujahidin que queriam o poder para impor um regime fundamentalista. Um desses grupos era o próprio Talibã.

Por fim, o conflito contribuiu para intensificar o quadro de crise econômica que atingiu a União Soviética na década de 1980. A crise econômica soviética foi fundamental para o fracasso do modelo soviético e a dissolução do país, em 1991. Estima-se que até 1,5 milhão de afegãos possam ter morrido nesse conflito.

  • Talibã e a retomada do poder no Afeganistão

Notas

|1| FREMONT-BARNES, Greogry. The Soviet-Afghan War 1979-89. Oxford: Osprey Publishing, 2012. p. 32.

|2| Idem, p. 28.

|3| The Costs of Soviet Involvement in Afghanistan. Para acessar, clique aqui [em inglês].

Créditos da imagem

[1] Madhourse e Shutterstock

Por Daniel Neves Silva