Talibã e seu retorno ao poder do Afeganistão

Talibã é um grupo fundamentalista islâmico que retornou ao poder do Afeganistão depois de quase 20 anos de ocupação norte-americana no país.
Em agosto de 2021, o Talibã conquistou Cabul, capital do Afeganistão, e retornou ao poder do país depois de 20 anos.[1]
Em agosto de 2021, o Talibã conquistou Cabul, capital do Afeganistão, e retornou ao poder do país depois de 20 anos.[1]
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O Talibã, grupo fundamentalista islâmico sunita, retornou ao poder do Afeganistão em agosto de 2021, depois de reconquistar praticamente todo o território afegão. Isso aconteceu com a retirada das tropas norte-americanas do Afeganistão, após quase 20 anos de ocupação. O retorno do Talibã é visto como uma grande ameaça ao bem-estar da população afegã.

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Resumo sobre o Talibã e seu retorno ao poder do Afeganistão

  • Em 15 de agosto de 2021, o Talibã conquistou Cabul, marcando o retorno desse grupo ao poder do Afeganistão.
  • O retorno do Talibã ao poder do Afeganistão foi resultado da retirada das tropas norte-americanas desse país.
  • Há um grande temor de que o Talibã perseguirá pessoas que colaboraram com os norte-americanos, além de minorias étnicas e religiosas e mulheres.
  • O Talibã governou o Afeganistão de 1996 a 2001, sendo derrubado depois que o país foi invadido por tropas norte-americanas, em 2001.

Videoaula sobre o Talibã e a retomada do poder no Afeganistão

Retorno do Talibã ao poder no Afeganistão

Em 15 agosto de 2021, o mundo tomou conhecimento de que o Talibã, grupo fundamentalista islâmico, havia retornado ao poder do Afeganistão. Isso aconteceu 20 anos depois de eles terem sido derrubados por meio da expedição liderada pelos Estados Unidos, que invadiram o país em 2001.

O Talibã retornou ao poder do Afeganistão, oficialmente falando, depois de ter conquistado a capital do país, Cabul. Isso foi a conclusão de uma ofensiva militar iniciada em agosto de 2021 e que teve efeitos devastadores, pois, em praticamente duas semanas de ataque, o grupo conquistou todas as grandes províncias afegãs e a capital do país.

Isso foi uma consequência da retirada das tropas norte-americanas do Afeganistão depois de quase 20 anos de ocupação. A retirada das tropas foi algo cogitado pelos governos norte-americanos desde Barack Obama, e, durante a presidência de Donald Trump, houve até negociações com as lideranças do grupo extremista para que os norte-americanos saíssem do país.

A saída das tropas norte-americanas se explica pela longa duração desse conflito, pelos altos gastos que a guerra causa e por sua baixa popularidade atualmente na população dos Estados Unidos. A longa duração da guerra demonstrou a incapacidade dos EUA em reconstruírem o Afeganistão.

Além disso, os altos gastos do conflito, que já ultrapassaram a quantia de dois trilhões de dólares, explicam o desejo norte-americano em retirar suas tropas do país. O presidente Joe Biden decidiu que era o momento de saída dos militares. Os analistas internacionais previam que isso traria riscos para o Afeganistão.

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A grande questão é que as autoridades norte-americanas não esperavam que o Talibã fosse reconquistar o Afeganistão com tamanha facilidade, e o grande choque se deu porque o grupo conquistou todo o Afeganistão em menos de duas semanas, além da capital do país ter sido conquistada sem nenhuma resistência. Muitos se perguntaram por que o Talibã teve tamanha facilidade em reconquistar o Afeganistão, e analistas internacionais levantaram as seguintes hipóteses:

  • O exército afegão ficou sem apoio aéreo com a retirada dos norte-americanos;
  • A desmoralização das tropas afegãs;
  • O governo afegão foi fraco e não motivou as tropas a lutarem;
  • A corrupção no governo e exército afegãos.

Nesse cenário de caos e derrotas aceleradas, o presidente do Afeganistão Ashraf Ghani fugiu do país e está exilado nos Emirados Árabes Unidos. Ele, ainda, foi acusado de fugir do Afeganistão com 169 milhões de dólares, acusação não comprovada. O vice-presidente afegão Amrullah Saleh se escondeu na única área que ainda resiste ao Afeganistão, o vale de Panjshir.

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Qual vai ser o futuro do Afeganistão?

Lideranças do Talibã reunidas para pronunciamento.
As lideranças do Talibã anunciaram que o país se chamaria Emirado Islâmico do Afeganistão e que não seria uma democracia.[1]

O retorno do Talibã ao poder do Afeganistão depois de 20 anos não foi visto de maneira positiva, nem pela comunidade internacional nem pela maioria da população afegã. Sua chegada a Cabul levou milhares de pessoas ao aeroporto da cidade em uma busca desesperada para fugirem do país. Essas pessoas temem o histórico de violência dos fundamentalistas.

Desde que o Talibã chegou a Cabul, cerca de 37 mil pessoas abandonaram o país com auxílio das tropas norte-americanas que ainda estão controlando o aeroporto da cidade. O Talibã, por sua vez, determinou o dia 31 de agosto como o último em que essas operações seriam permitidas.

O grande temor a respeito do Talibã é que o Afeganistão seja governado da mesma maneira que foi entre 1996 e 2001, quando o grupo esteve no poder. O Talibã ficou marcado pelas violações dos Direitos Humanos, e, durante o seu governo, execuções de opositores eram comuns, assim como tortura, amputações e açoitamento de pessoas.

Existe um forte temor de que minorias étnicas e minorias religiosas sejam perseguidas no país. Além disso, as mulheres afegãs são um grupo que tem muito a temer com o retorno desses radicais, justamente porque eles ficaram conhecidos por impedirem que elas trabalhassem, estudassem e caminhassem sozinhas nas ruas. Também impuseram o uso da burca.

Uma personalidade internacional que sofreu na pele a violência dos Talibã contra as mulheres foi a ativista paquistanesa Malala Yousafzai, vítima e sobrevivente de um atentado promovido pelo grupo contra ela em 2012. Ela morava no vale do Swat, uma região do Paquistão ocupada pelo Talibã na época.

O grupo fundamentalista anunciou que daria anistia geral em seu governo e que não perseguiria os afegãos que trabalharam com os estrangeiros nos últimos 20 anos. Além disso, garantiram que permitiriam que mulheres estudassem e trabalhassem no país, mas dentro dos limites da lei islâmica. Apesar da mensagem, as ações do grupo seguiram outro sentido.

Até então, o Talibã anunciou que o país se chamaria Emirado Islâmico do Afeganistão (o mesmo nome do período de 1996 a 2001), além disso, anunciou que o país não será uma democracia e agiu conforme aquilo que se espera do grupo.

Assim, existem registros de mulheres que foram proibidas de continuar trabalhando, houve casos de minorias religiosas sendo massacradas e de críticos do Talibã sendo executados. Além disso, o Talibã reprimiu com violência manifestações pacíficas que aconteceram no país, e chegaram notícias de que o grupo perseguiu as pessoas que cooperaram com os estrangeiros.

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Como o Talibã surgiu?

Para entendermos o que é o Talibã e o seu peso na história recente do Afeganistão, precisamos retornar alguns anos na história desse país asiático. O Talibã surgiu no interior dos mujahidin, que lutavam entre si pelo poder do Afeganistão entre 1992 e 1996, no que ficou conhecido como Guerra Civil Afegã.

Os mujahidin eram rebeldes que surgiram no Afeganistão no final da década de 1970 com apoio do Paquistão, dos Estados Unidos e da Arábia Saudita. Os mujahidin foram treinados e armados para lutarem contra o governo socialista do Afeganistão e para resistirem aos soviéticos, que invadiram o país em 1979.

Depois que os soviéticos abandonaram o Afeganistão, em 1989, os mujahidin lutaram para derrubar os socialistas, o que aconteceu em 1992. Depois disso, a disputa foi entre os próprios mujahidin, pois havia muitas diferenças de interesses entre os rebeldes afegãos. Nesse conflito, uma parcela deles possuía ideais conservadores e fundamentalistas.

Esses ideais contribuíram para o surgimento do Talibã, em 1994. Essa milícia se estabeleceu como a principal força militar do Afeganistão e conquistou grande parte do território do país. Entre 1996 e 2001, o Talibã governou o Emirado Islâmico do Afeganistão, e, durante esse período, apenas o norte do país resistia ao domínio dos fundamentalistas.

Foi um governo autoritário e, como mencionado, marcado por violações dos Direitos Humanos. Os talibãs defendem a imposição de sua interpretação radical da Lei Islâmica, a Sharia. O Talibã perseguiu minorias étnicas e religiosas, além de mulheres e muçulmanos que não cumpriam com os cinco pilares da fé islâmica.

O grupo foi derrubado do poder em 2001, quando forças lideradas pelos Estados Unidos invadiram o Afeganistão e realizaram uma campanha militar que, junto da Aliança do Norte (resistência afegã ao Talibã), conseguiu conquistar o país. Essa invasão foi uma consequência dos atentados de 11 de setembro de 2001, coordenados pela Al-Qaeda.

A Al-Qaeda tinha bases militares instaladas no Afeganistão, e seu líder, Osama bin Laden, escondia-se no território afegão. O Talibã dava liberdade para que a Al-Qaeda pudesse atuar no país. Os Estados Unidos exigiram a expulsão da Al-Qaeda e a prisão de Bin Laden. Como o Talibã se recusou a atendê-los, os norte-americanos organizaram sua invasão no país.

Apesar de derrotado e enfraquecido em 2001, o Talibã nunca deixou de existir. Os membros desse grupo fundamentalista se espalharam por locais do interior do Afeganistão e do Paquistão e se financiaram de diversas maneiras. Nos últimos anos, passaram por um fortalecimento que permitiu seu retorno ao poder afegão.

Créditos das imagens

[1] john smith 2021 e Shutterstock

Por Daniel Neves Silva