Totalitarismo

Ao longo do século XX, uma série de regimes totalitários surgiu, sobretudo no continente europeu. Os regimes totalitários destacados foram: nazismo, fascismo e stalinismo.
Placa com os escritos "Totalitarismo" e "Democracia".

O totalitarismo é um sistema político caracterizado pelo domínio absoluto de uma pessoa ou partido político sobre uma nação. Dentro do totalitarismo, a pessoa ou partido político no poder controla todos os aspectos da vida pública e da vida privada por meio de um governo abertamente autoritário.

O totalitarismo também é marcado pela forte presença de um militarismo na sociedade e é acompanhado por ações do regime com o objetivo de promover sua ideologia por meio de um sistema de doutrinação da população. Os regimes totalitários utilizam-se do terror como arma política para conter e perseguir seus opositores políticos, e a propaganda política é usada de maneira consistente para que a população seja convencida das medidas extremas tomadas por esses regimes.

O totalitarismo foi um sistema político que esteve no auge durante as décadas de 1920 e 1930. Seu surgimento aconteceu após a Primeira Guerra Mundial e é considerado pelos historiadores como um reflexo causado por toda a destruição causada por esse conflito. Assim, o autoritarismo começou a ganhar força como solução política para as crises que o mundo enfrentava no pós-guerra, conseguindo adeptos mundo afora.

A ascensão do autoritarismo marcou a queda dos valores do liberalismo, que são definidos, da seguinte maneira, pelo historiador Eric Hobsbawm:

Esses valores eram a desconfiança da ditadura e do governo absoluto; o compromisso com um governo constitucional com ou sob governos e assembleias representativas livremente eleitos, que garantissem o domínio da lei; e um conjunto aceito de direitos e liberdades dos cidadãos, incluindo a liberdade de expressão, publicação e reunião.|1|

O termo “totalitarismo” surgiu durante a década de 1920 para referir-se ao fascismo italiano. Esse sistema político, inclusive, surgiu com o próprio fascismo italiano, regime que alcançou o poder na Itália em 1922, quando Mussolini tornou-se primeiro-ministro do país. Ao longo da década de 1920, a tendência política mundial pendia para o autoritarismo, e o totalitarismo ganhou considerável força após a ascensão do nazismo ao poder na Alemanha.

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Características dos regimes totalitários

Alemães realizando a saudação nazista “Heil Hitler”. O culto ao líder é uma das características de regimes totalitários. [1]

O consenso entre os historiadores determina que as características básicas do totalitarismo inspiram-se em três regimes: fascismo, nazismo e stalinismo. Existe um intenso debate entre esses profissionais sobre se outros regimes, como o Khmer Vermelho, no Camboja, e o atual regime norte-coreano, encaixam-se dentro do conceito de totalitarismo. Apesar desse debate, neste texto levaremos em consideração apenas o nazismo, o fascismo e o stalinismo.

As características básicas do totalitarismo são:

  • Culto ao líder: Os três regimes possuíam um forte culto ao líder, e sua imagem era espalhada em todos os locais possíveis, como escolas, por exemplo.

  • Unipartidarismo: Todos os totalitarismos suprimiam a existência dos partidos, e somente o partido do governo tinha a permissão de funcionar.

  • Doutrinação: A população dos regimes totalitários era alvo de intensa doutrinação, que se iniciava com o ensino infantil. Essa doutrinação visava propagar a ideologia do governo.

  • Centralização do poder: O poder político no totalitarismo é centralizado no líder e/ou no partido.

  • Uso do terror: O terror era uma arma dos regimes totalitários para amedrontar seus opositores e perseguir grupos enxergados como “inimigos do Estado”.

  • Censura: A censura era uma prática comum a jornais e à população em geral. Regimes totalitários não aceitavam críticas, denúncias e não aturavam a existência de uma oposição.

  • Militarização: Exaltação do exército e militarização da sociedade.

  • Criação de inimigos internos e/ou externos: Esse mecanismo era utilizado como distração ou justificativa para explicar as ações e o autoritarismo do regime.

  • Nacionalismo exacerbado: O nacionalismo no totalitarismo assumia um viés extremista que pregava a exclusão e perseguição de outros povos ou etnias.

Regimes totalitários na Europa

Como mencionado, destacaremos neste texto as principais experiências totalitárias que existiram na Europa durante o período entreguerras. Na extrema-direita do espectro político, estão o fascismo italiano e o nazismo alemão, e na extrema-esquerda, está o stalinismo soviético.

  • Nazismo

O Partido Nazista surgiu na Alemanha em 1919 e assumiu o poder do país em 1933, quando Hitler foi nomeado primeiro-ministro alemão. [1]

O nazismo surgiu na Alemanha, com o nome de Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães, em 1919. O grande líder do partido foi Adolf Hitler, austríaco nomeado primeiro-ministro da Alemanha em 1933. O crescimento do Partido Nazista na Alemanha foi resultado da crise que se instalou no país após a Primeira Guerra Mundial e a Grande Depressão.

Os nazistas organizaram tropas de assaltos (SA) que atuavam para intimidar os opositores do partido, principalmente, os social-democratas e os comunistas. A ideologia do nazismo foi articulada por Hitler em um livro chamado Minha Luta (Mein Kampf, em alemão), escrito durante o período em que esteve preso.

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A ideologia nazista incorporava elementos como o antissemitismo, isto é, o ódio aos judeus que foi manifestado durante o Holocausto, genocídio responsável pela morte de, aproximadamente, seis milhões de judeus. Além do antissemitismo, outras características do nazismo eram o nacionalismo extremado e o racismo que deram origem à ideia dos germânicos como raça “pura” e “superior” (chamados pelos nazistas de “arianos”). O nazismo também incorporava o antimarxismo, o antiliberalismo, o militarismo, a exaltação da guerra etc.

O nazismo governou a Alemanha de 1933 a 1945, período no qual conduziu esse país à guerra. Nesse momento, uma verdadeira ditadura foi instalada, e Hitler preparou seu país, que havia sido derrotado na Primeira Guerra Mundial, para uma guerra contra as potências europeias que haviam participado do combate anterior e vencido a Alemanha. Ao longo da década de 1930, esse último país desrespeitou os termos do Tratado de Versalhes e foi expandindo seu território pela Europa. Para saber mais sobre o nazismo, leia: Nazismo: contexto, características e consequências.

  • Fascismo

Benito Mussolini e Adolf Hitler, líderes do fascismo e nazismo, respectivamente. [3]

O fascismo surgiu na Itália em 1919, quando Benito Mussolini criou a Fasci Italiani di Combattimento, grupo que, posteriormente, passou a chamar-se Partido Nacional Fascista. A ascensão do fascismo ao poder na Itália aconteceu em 1922, quando foi organizada a Marcha sobre Roma.

Durante esse evento, milhares de fascistas de toda a Itália marcharam em direção à Roma, capital do país, para pressionar o rei Vitor Emanuel III a fim de que ele nomeasse Benito Mussolini como primeiro-ministro italiano. A nomeação de Mussolini aconteceu e, em 1925, o primeiro-ministro italiano autoproclamou-se ditador da Itália.

O fascismo italiano é considerado o precursor do nazismo na Alemanha e, por conta disso, existem inúmeras semelhanças entre essas duas vertentes totalitárias. Entre as características do fascismo italiano estão:

  1. Antiliberalismo;

  2. Imposição de um sistema unipartidário no país;

  3. Desprezo pelo marxismo;

  4. Exaltação de valores tradicionais;

  5. Negação de valores modernos;

  6. Controle total do Estado sobre a economia, política e cultura.

O fascismo governou a Itália de 1922 e 1945 e, durante o período entreguerras, aliou-se com a Alemanha. Quando a Segunda Guerra Mundial iniciou-se, em 1939, italianos e alemães fizeram parte do Eixo, grupo que lutou contra os Aliados. Para saber mais sobre o fascismo, leia: Fascismo – contexto histórico e características.

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  • Stalinismo

Josef Stalin foi líder da União Soviética entre 1924 e 1953. [4]

O stalinismo é usado para referir-se ao período em que a União Soviética foi governada por Josef Stalin. A aplicação da noção de totalitarismo para o stalinismo também é alvo de debates, pois historiadores, como Eric Hobsbawm|2|, afirmam que esse não foi um regime totalitário, enquanto outros, como Hannah Arendt|3| e Timothy Snyder|4| |5|, afirmam o contrário.

Josef Stalin assumiu o poder da União Soviética logo após o falecimento de Vladimir Lênin em 1924, mas considera-se o ponto de partida para o stalinismo o ano de 1929, momento em que Stálin tornou-se líder supremo da União Soviética. Manteve-se no poder de maneira tirânica até 1953, quando acabou falecendo.

O governo de Stálin é entendido como a experiência totalitária da extrema-esquerda e ficou marcado por perseguições de opositores, expurgos, crise de fome etc. Entre as características do stalinismo, estão:

  1. Exclusão da religião da vida pública;

  2. Coletivização da economia;

  3. Fim da propriedade privada;

  4. Censura;

  5. Unipartidarismo;

  6. Centralização do poder;

  7. Perseguição de opositores;

  8. Militarização da sociedade etc.

Ao longo dos anos em que esteve no poder, o governo de Stalin foi responsável pela execução de milhares de pessoas enxergadas como inimigas do Estado. Além disso, milhões de pessoas foram enviadas para gulags — campos de trabalho forçados —, e milhões também morreram de fome durante o processo de coletivização da terra que ocorreu na década de 1930.

Regimes totalitários no Brasil

No Brasil não existiu nenhum governo totalitário, mas existiram governos autoritários. Entre os governos autoritários que estiveram no poder em nosso país, estão o Estado Novo, que aconteceu entre 1937 e 1945, e a Ditadura Militar, que aconteceu entre 1964 e 1985. Os dois períodos ficaram marcados pela ausência de liberdades individuais, censura, perseguição, tortura, execução de opositores etc.

Notas

|1| HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos: o breve século XX 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 1995, p. 113.

|2| HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos: o breve século XX 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

|3| ARENDT, Hannah. Origens do Totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

|4| SNYDER, Timothy. Terras de Sangue: a Europa entre Hitler e Stálin. Rio de Janeiro: Record, 2012.

|5| SNYDER, Timothy. Sobre a Tirania: vinte lições do século XX para o presente. Companhia das Letras: São Paulo, 2017.

Créditos de imagem

[1] [2] [3] Everett Historical e Shutterstock

[4] Bissig e Shutterstock

Por Daniel Neves Silva