Maquinofatura

Maquinofatura é um sistema de produção de bens que foi desenvolvido durante o início da Revolução Industrial, usado para produzir grande parte dos bens que consumimos hoje.
Robôs operando na fabricação de um automóvel, exemplo de maquinofatura.
As maquinofaturas produzem a maior parte dos bens que utilizamos em nossas vidas atualmente.
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Maquinofatura, também chamada de indústria, é um sistema de produção de bens que passou a ser utilizado na Revolução Industrial, ocorrida na Inglaterra no século XVIII. A maquinofatura, também chamada de sistema maquinofatureiro, utiliza diversas máquinas e motores no processo produtivo, gera divisão do trabalho e produz em grande escala.

O artesanato foi o primeiro processo de produção de bens utilizado pela humanidade, que passou a utilizar o sistema de manufaturas na Idade Moderna. Esse sistema aprofundou cada vez mais a divisão do trabalho, e cada trabalhador passou a realizar uma etapa específica da produção do bem. Com a introdução de máquinas e do motor a vapor, passaram a funcionar as primeiras maquinofaturas inglesas.

Atualmente vivemos uma etapa da industrialização chamada de Indústria 4.0, etapa na qual as maquinofaturas utilizam diversas tecnologias que possibilitam o aumento da produção e dos lucros.

Leia também: Capitalismo — sistema econômico dominante que foi consolidado a partir da Primeira Revolução Industrial

Resumo sobre maquinofatura

  • Maquinofatura significa literalmente “feito por máquinas”. Ela também pode ser chamada de fábrica ou indústria.

  • É considerada a terceira etapa na evolução do processo de produção de bens.

  • Atualmente a maior parte dos bens consumidos por nós são produzidos em maquinofaturas.

  • A maquinofatura surgiu com a Revolução Industrial. Na sua primeira fase o carvão foi sua principal fonte de energia.

  • O desenvolvimento do motor a vapor possibilitou o surgimento das maquinofaturas.

  • Os trabalhadores das primeiras maquinofaturas cumpriam jornadas de trabalho extenuantes e não possuíam direitos trabalhistas.

  • Antes da maquinofatura os trabalhadores eram donos dos meios de produção e do seu tempo e ritmo de trabalho. Com as manufaturas o proprietário da maquinofatura também se tornou proprietário dos meios de produção, tempo e ritmo de trabalho.

O que é maquinofatura?

Maquinofatura é um processo de produção de bens caracterizado pelo uso de máquinas movidas por motores, divisão do trabalho e produção em grande escala. As primeiras maquinofaturas surgiram na Inglaterra, no início da Revolução Industrial, após o desenvolvimento de máquinas do setor têxtil e dos motores movidos a vapor.

O uso de uma esteira rolante no processo produtivo revolucionou a maquinofatura, isso ocorreu no início do século XX, na indústria automotiva. É atribuída a Henry Ford a introdução da linha de montagem. Na terceira fase da Revolução Industrial, iniciada em meados do século XX, introduziu-se nas fábricas novas tecnologias, como a informática, os robôs, diferentes sensores e inteligência artificial.

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Funcionamento da maquinofatura

A primeira característica do funcionamento de uma maquinofatura é o uso de máquinas no processo produtivo. Na primeira fase da Revolução Industrial, diversas máquinas foram desenvolvidas, principalmente no setor têxtil. O motor a vapor foi outro importante invento do início da Revolução Industrial, as máquinas passaram a ser movimentadas com o uso dos motores que aumentaram drasticamente a capacidade de produção.

Hoje, na chamada Indústria 4.0, muitas maquinofaturas são automatizadas e robotizadas, com máquinas e robôs realizando quase todo o processo produtivo. Outra característica presente no funcionamento de toda maquinofatura é a divisão do trabalho no processo produtivo.

No artesanato, sistema que a humanidade utilizou para produzir seus bens por milênios, o trabalhador executava todas as etapas do processo produtivo. Na Idade Média as manufaturas se tornaram populares, e nelas o processo de aumento da divisão do trabalhou se aprofundou até dar origem às primeiras fábricas no final do período.

Outra característica do sistema maquinofatureiro é o grande uso de energia. Antes da Revolução Industrial a força humana, animal, eólica e hidráulica foram as principais utilizadas no processo de produção de bens. Mas, com as maquinofaturas, isso mudou. Na primeira fase da Revolução Industrial o carvão foi o principal combustível e, na segunda, o carvão e o petróleo. Esses combustíveis são altamente poluentes e trouxeram graves consequências para o planeta e a vida humana.

A terceira fase da Revolução, momento da Revolução Industrial na qual vivemos para a maior parte dos historiadores, é marcada pela tentativa de parte da humanidade de voltar a utilizar fontes de energia limpa para produzirmos os bens que utilizamos.

Veja também: Proletariado — características da classe trabalhadora e sua relação com a burguesia

Quais são os tipos de maquinofatura?

Existem muitas formas de classificar as maquinofaturas, neste artigo optamos por classificá-las de acordo com o seu processo de fabricação.

  • Fabricação em oficina: são maquinofaturas que fabricam peças e componentes para outras indústrias, tendo capacidade de modificar o bem produzido, de acordo com a demanda do cliente. Maquinofaturas que produzem para a indústria automobilística são um exemplo de produção em oficina, como maquinofaturas que produzem parafusos, mangueiras, válvulas, entre outras peças e componentes.

  • Fabricação repetitiva: é o mais clássico dos processos de produção industrial, conhecido popularmente como fordismo. Nesse processo um único bem é produzido durante todos os dias, dessa forma a velocidade de produção pode ser controlada conforme a demanda.

  • Fabricação discreta: não ocorre em uma linha de montagem, mas em um galpão onde o bem produzido não se movimenta, ou se movimenta muito pouco durante o processo produtivo. Esse tipo de fabricação produz bens personalizados de forma unitária ou em pequenos lotes. Iates e jatos executivos são muitas vezes fabricados nesse processo.

Homem trabalhando em uma fábrica de iates, exemplo de maquinofatura discreta.
Produção de iate, exemplo de fabricação discreta.[1]
  • Fabricação contínua: tipo de maquinofatura que produz um único bem, em grande escala, 24 horas por dia e sete dias por semana. São exemplos de maquinofaturas de fabricação contínua algumas mineradoras, fábricas de cimento, de garrafas, siderúrgicas, entre outras.
  • Fabricação em lotes: a maquinofatura produz um bem em lotes, ou seja, em quantidades variáveis, de acordo com a demanda. Mudanças podem ser feitas de lote para lote. Por exemplo, um lote pode produzir sorvete de morango e, o próximo, de baunilha, com pouca ou nenhuma mudança na linha de montagem. Esse tipo de produção é flexível e permite maior diversidade de bens do que a fabricação repetitiva.

  • Fabricação aditiva ou impressão 3D: os bens produzidos são produzidos através de adição de diferentes materiais em camadas. Esses materiais podem ser diferentes tipos de plástico, metais, concretos, materiais biológicos, dentre uma infinidade de possibilidades. Atualmente peças metálicas, ossos humanos, dentes, proteína animal, residências, já são produzidos com a técnica.

História da maquinofatura

A história das maquinofaturas é organizada de acordo com as fases da Revolução Industrial. A maior parte dos historiadores divide a Revolução Industrial em três fases, alguns defendem que ela pode ser dividida em quatro, com a quarta fase se iniciando no século XXI.

O início da Revolução Industrial ocorreu na Inglaterra na metade do século XVIII, essa fase foi marcada pelo uso do motor a vapor, pelo surgimento do sistema fabril e pela rápida urbanização das grandes cidades inglesas. O telégrafo foi desenvolvido no final dessa fase da revolução.

A segunda fase se iniciou um século depois, em meados do século XIX. Essa fase foi marcada pelo uso de motores à explosão, de geradores elétricos e dos motores elétricos. Essas invenções permitiram o desenvolvimento do automóvel, do avião, da lâmpada e diversos aparelhos eletrônicos.

Nessa fase da revolução os problemas urbanos se agravaram nos grandes centros industriais. Cidades como Londres enfrentaram problemas como a superpopulação, habitações inadequadas, excesso de lixo e dejetos nas ruas, miséria, poluição das águas, do ar, violência urbana e diversas epidemias.

Antes da Revolução Industrial os artesãos realizavam todas as etapas do processo produtivo, compravam as matérias-primas necessárias e comercializavam sua produção. Eles também controlavam o próprio tempo e ritmo de trabalho. Mas, com as maquinofaturas, isso mudou, todos os meios de produção passaram paras mãos do proprietário, assim como o tempo de trabalho e ritmo. A forte divisão do trabalho reduziu o trabalho a simples tarefas, o que fez com que as fábricas utilizassem crianças como mão de obra.

Na fotografia, Raoul Julien, um jovem trabalhador de uma fábrica nos Estados Unidos, no início do século XX.
Na fotografia, Raoul Julien, um jovem trabalhador de uma fábrica nos Estados Unidos, no início do século XX.

A terceira fase da Revolução Industrial se iniciou após a Segunda Guerra Mundial. Nessa fase o uso dos computadores, internet, GPS, transgenia, drones e robótica, e outras tecnologias passaram a fazer parte do cotidiano da maior parte da população mundial. O processo de globalização se aprofundou nessa fase da revolução, sobretudo depois de 1991, com o fim da União Soviética.

Maquinofatura na atualidade

Atualmente vivemos na chamada Indústria 4.0, momento no qual as maquinofaturas são automatizadas e robotizadas, além de contar com diversas tecnologias, como inteligência artificial, biotecnologia, nanotecnologia e internet das coisas.

Até meados do século XX o fordismo foi o principal modelo de produção adotado pelas maquinofaturas em todo o mundo. Nesse sistema os bens produzidos são padronizados, com poucas variações e grande divisão de tarefas no processo de produção. Esse sistema exige grandes estoques para matérias-primas e bens produzidos.

Após a Segunda Guerra Mundial o toyotismo passou a ser adotado como modelo de produção em diversas fábricas do mundo. A primeira característica desse modelo é a produção just in time, em que a produção se inicia assim que ocorre a compra, o que faz com que a necessidade de estoque caia drasticamente.

No toyotismo existe flexibilidade na linha de montagem, de forma que o bem possa ser customizado. Um automóvel pode, por exemplo, variar na cor, no tipo de farol, de aerofólio, de banco, entre outras variações.

O grande uso de tecnologias como os robôs exige pouca mão de obra nas maquinofaturas que adotam o toyotismo, mas os operários podem trabalhar em diversos setores da produção, de acordo com a necessidade, devendo possuir diversas habilidades e competências, ao contrário do especialista do fordismo.

Maquinofatura x manufatura

O primeiro sistema utilizado pelo ser humano para produzir bens foi o artesanato, utilizado desde a produção das primeiras ferramentas humanas ainda no Paleolítico. No período moderno as manufaturas passaram a ser importantes na economia europeia.

Em uma maquinofatura os trabalhadores exerciam suas atividades em um mesmo galpão, existia divisão do trabalho e uma jornada de trabalho estabelecida. As manufaturas exigiam ferramentas e máquinas simples, que eram movimentadas pelos seres humanos ou por rodas d’água.

A manufatura foi uma transição entre o artesanato e a maquinofatura. Com o desenvolvimento dos motores a vapor e o uso deles na movimentação das fábricas, nasceu o sistema maquinofatureiro.

Qual a importância da maquinofatura?

Fumaça de fábricas perto de prédios residenciais em texto sobre maquinofatura.
As fábricas proporcionaram o crescimento das cidades, mas agravaram problemas como a poluição.

A maquinofatura revolucionou a vida humana, modificando como os seres humanos produzem seus bens, trabalham, organizam seu tempo e se relacionam com a natureza. Antes das manufaturas o modo de vida humano era agrário, mas os seres humanos foram passando cada vez mais a viver em cidades, processo que continua ainda hoje.

A maquinofatura possibilitou a produção em larga escala de cabos telegráficos, de cabos oceânicos de internet, de satélites e de diversas outras tecnologias que possibilitam que a informação seja transmitida por todo o planeta na velocidade da luz.

Com a maquinofatura novos meios de transporte passaram a ser produzidos, como locomotivas a vapor, automóveis, motocicletas, caminhões, aviões e foguetes. Antes da Revolução Industrial serem humanos e mercadorias demoravam semanas para serem transportados de um continente para outro, hoje demoramos horas.

Mas, por outro lado as maquinofaturas trouxeram problemas para a humanidade e o planeta. A grande necessidade de energia para o funcionamento das manufaturas modificou a atmosfera do planeta, os recursos hídricos e tem agravado as mudanças climáticas.

Saiba mais: Revoluções tecnológicas que marcaram o mundo ao longo dos séculos

Exercícios resolvidos sobre maquinofatura

1 - (Enem) A Segunda Revolução Industrial, no final do século XIX e início do século XX, nos EUA, período em que a eletricidade passou gradativamente a fazer parte do cotidiano das cidades e a alimentar os motores das fábricas, caracterizou-se pela administração científica do trabalho e pela produção em série.

MERLO, A. R. C.; LAPIS, N. L. A saúde e os processos de trabalho no capitalismo: reflexões na interface da psicodinâmica do trabalho e a sociologia do trabalho. Psicologia e Sociedade, n. 1, abr. 2007.

De acordo com o texto, na primeira metade do século XX, o capitalismo produziu um novo espaço geoeconômico e uma revolução que está relacionada com a:

a) proliferação de pequenas e médias empresas, que se equiparam com as novas tecnologias e aumentaram a produção, com aporte do grande capital.
b) técnica de produção fordista, que instituiu a divisão e a hierarquização do trabalho, em que cada trabalhador realizava apenas uma etapa do processo produtivo.
c) passagem do sistema de produção artesanal para o sistema de produção fabril, concentrando-se, principalmente, na produção têxtil destinada ao mercado interno.
d) independência política das nações colonizadas, que permitiu igualdade nas relações econômicas entre os países produtores de matérias-primas e os países industrializados.
e) constituição de uma classe de assalariados, que possuíam como fonte de subsistência a venda de sua força de trabalho e que lutavam pela melhoria das condições de trabalho nas fábricas.

Alternativa B.

Durante a segunda fase da Revolução Industrial o sistema de produção predominante foi o fordista. Nesse sistema o automóvel era montado em uma esteira rolante, onde cada operário executava apenas uma tarefa, como parafusar as rodas no carro. Esse tipo de sistema produtivo ampliou a capacidade de produção.

2 - (PUC-Campinas) Entre as consequências sociais forjadas pela Revolução Industrial pode-se mencionar:

a) o desenvolvimento de uma camada social de trabalhadores, que, destituídos dos meios de produção, passaram a sobreviver apenas da venda de sua força de trabalho.
b) a melhoria das condições de habitação e sobrevivência para o operariado, proporcionada pelo surto de desenvolvimento econômico.
c) a ascensão social dos artesãos que reuniram suas capitais e suas ferramentas em oficinas ou domicílios rurais dispersos, aumentando os núcleos domésticos de produção.
d) a criação do Banco da Inglaterra, com o objetivo de financiar a monarquia e ser, também, uma instituição geradora de empregos.
e) o desenvolvimento de indústrias petroquímicas favorecendo a organização do mercado de trabalho, de maneira a assegurar emprego a todos os assalariados.

Alternativa A.

No artesanato o trabalhador era o dono de todos os meios de produção, como as ferramentas com as quais trabalhava e as matérias-primas. O artesão também escolhia os momentos nos quais trabalharia, além do seu ritmo de trabalho. Mas, com a Revolução Industrial, os meios de produção passaram para o controle do proprietário da fábrica. Este também passou a controlar o tempo e o ritmo de trabalho.

Créditos da imagem

[1]Algimantas Barzdzius/ Shutterstock

Fontes

HOBSBAWN, Erick. A Era das Revoluções. Editora Paz e Terra, São Paulo, 2012.

MENEGUELLO, Cristina. DECCA, Edgar Salvadori. Fábricas e homens: Revolução Industrial e o cotidiano dos trabalhadores. Editora Atual, São Paulo, 2019.

TEIXEIRA, Francisco M. P. Revolução Industrial. Editora Ática, São Paulo, 2019.  

Por Jair Messias Ferreira Junior