Vinda da família real para o Brasil

Vinda da família real (1807-1808) foi consequência direta do Período Napoleônico e do desentendimento entre França e Portugal sobre o Bloqueio Continental.
Família real embarcando para o Brasil.
O embarque da família real para o Brasil aconteceu, às pressas, entre os dias 25 e 27 de novembro de 1807.
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A vinda da família real foi um acontecimento iniciado em 29 de novembro de 1807, e o seu desembarque em terras brasileiras ocorreu em 22 de janeiro de 1808, na cidade de Salvador. A vinda foi consequência direta do Período Napoleônico e do desentendimento existente entre França e Portugal na questão do Bloqueio Continental.

Com isso, a família real portuguesa mudou-se para o Brasil e instalou-se no Rio de Janeiro, junto à toda estrutura de governo de Portugal. Isso iniciou o Período Joanino e resultou em uma série de transformações, como a abertura dos portos brasileiros, que contribuíram para levar o Brasil na direção de seu processo de independência.

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Período napoleônico

A vinda da família real para o Brasil é consequência direta do período napoleônico, mais especificamente, na disputa travada entre França e Inglaterra. Esse certame entre as duas nações estava em curso desde a Revolução Francesa e intensificou-se quando Napoleão Bonaparte assumiu o poder da França, por meio do Golpe 18 de Brumário, em 1799.

O início da Revolução Francesa colocou em xeque a existência das monarquias absolutistas, e, assim, esses países uniram-se contra a França, concretizando uma série de conflitos no final do século XVIII. Com a posse de Napoleão, as guerras continuaram, mas, agora, porque a França havia decidido dominar todo o continente europeu.

Assim, a rivalidade entre França e Inglaterra acirrou-se porque os ingleses eram o grande obstáculo para Napoleão no seu projeto de dominar o continente. Esse impasse refletiu-se em toda a Europa, e Portugal não escapou disso. As disputas internas entre os apoiadores da França e da Inglaterra aumentaram a ponto de interferência no governo português.

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O governo português, no entanto, buscava, desde o tempo da Revolução Francesa, manter uma posição neutra para não desagradar as duas nações. A situação agravou-se para ele quando franceses e espanhóis aproximaram-se, o que fez que as relações entre Portugal e Espanha ficassem tensas.

Com a aproximação entre Espanha e França, uma série de exigências foram feitas a Portugal, e, como não foram aceitas, um pequeno conflito entre este país e a Espanha foi travado em 1801, sendo conhecido como Guerra das Laranjas. Portugal perdeu a cidade de Olivença para os espanhóis em definitivo. Com isso, d. João, regente de Portugal, decidiu reforçar as defesas nas regiões de fronteira a fim de evitar novas perdas.

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Por que a família real veio para o Brasil?

 D. João, regente de Portugal que ordenou a vinda da família real para o Brasil para evitar a sua captura pelas tropas francesas.
D. João era o regente de Portugal e ordenou a vinda da família real para o Brasil para evitar a sua captura pelas tropas francesas.

A vinda da família real portuguesa para o Brasil foi um desdobramento da crise entre Portugal e França por conta da disputa desta com a Inglaterra. Desde a derrota dos portugueses na Guerra das Laranjas, em 1801, as relações diplomáticas entre Portugal e França eram delicadas. Os franceses pressionavam os portugueses para que eles cortassem relações diplomáticas com a Inglaterra.

Isso foi manifestado pela primeira vez logo após serem derrotados na Guerra das Laranjas, uma vez que os franceses, aliados dos espanhóis, exigiram na rendição o aceite do fechamento dos portos portugueses para embarcações inglesas. A exigência foi acatada, porém nunca foi aplicada de fato pelos portugueses.

Em 1806, os franceses não tinham conseguido derrotar os ingleses e não tinham conseguido invadir seu território, protegido pela poderosa marinha inglesa. Sendo assim, como forma de enfraquecer a Inglaterra, Napoleão Bonaparte decidiu impor o Bloqueio Continental. Com essa medida, as nações europeias ficavam proibidas de receber embarcações inglesas e de enviar as suas a portos ingleses.

Já nesse momento, os portugueses começaram a cogitar a possibilidade de mudarem-se para o Brasil. Isso garantiria a liberdade de d. João, uma vez que ele estaria inalcançável a Napoleão Bonaparte. A tensão em Portugal era evidente pelo fato de que o país não queria ser forçado a abrir mão de sua aliança com a Inglaterra.

Mesmo com o Bloqueio Continental, os portugueses continuaram recebendo as embarcações inglesas, e, por isso, Napoleão Bonaparte deu um ultimato a eles para que acatassem uma série de imposições contra a Inglaterra até setembro de 1807. Isso levou a semanas de negociações entre franceses e portugueses para que a situação fosse resolvida, mas não houve acordo.

Uma das imposições dos franceses era que Portugal confiscasse os bens de ingleses instalados no país e aprisionasse-os. Como Portugal recusou-se a aceitar esse e outros termos, Napoleão decidiu colocar em prática a sua promessa de acabar com a Casa de Bragança, e, assim, enviou tropas para Portugal a fim de ocupar o país. A ideia era dividir o território português com a Espanha, aliada da França.

Vinda da família para o Brasil

A decisão que determinou a transferência da corte portuguesa para o Brasil foi emitida pelo próprio regente de Portugal, d. João, no dia 24 de novembro de 1807. Na ocasião, ele anunciou para membros do governo que os franceses poderiam chegar a Lisboa em até quatro dias. Isso deu início aos preparativos para embarcar, o mais rápido possível, tudo que fosse necessário para que os Bragança pudessem continuar reinando no Brasil.

Como a vinda da família real deu-se em uma situação emergencial, os preparativos foram feitos às pressas, e os relatos contam do pânico que dominou as pessoas durante os dias de embarque, de 25 a 27 de novembro de 1807. Os historiadores contam que entre 10 mil e 15 mil pessoas embarcaram junto à família real portuguesa.

Sendo assim, a embarque da corte portuguesa foi um evento, uma vez que todo o aparelho administrativo de Portugal foi embarcado em três dias. Naturalmente, o grau de desorganização de tudo que aconteceu fez com que muita coisa fosse deixada para trás. Em Portugal, não ficou nenhum membro da corte que fazia parte da linha sucessória dos Bragança, e o território ficou sob responsabilidade de uma junta governativa.

Em 29 de novembro de 1807, as embarcações portuguesas iniciaram sua viagem na direção do Brasil e, no alto-mar, encontraram-se com embarcações de guerra dos ingleses. Estas escoltaram os portugueses em segurança até o Brasil. No fim do dia 29, os franceses entraram em Lisboa.

O percurso foi cheio de problemas. Os recursos disponíveis não eram suficientes para a quantidade de pessoas que estavam nos navios, por isso, alimentos e água foram racionados ao máximo. Também não havia espaço para todos, e os dormitórios precisaram ser improvisados. A quantidade de gente e os problemas de higiene resultaram em um surto de piolhos, o que forçou as mulheres a rasparem os seus cabelos.

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Família real no Brasil

A chegada dos Bragança no Brasil aconteceu em 22 de janeiro de 1808. Após 54 dias de viagem, os portugueses chegaram a Salvador, e lá se estabeleceram por alguns dias. Com isso se iniciou um período da história brasileira conhecido como Período Joanino. Em Salvador, d. João tomou uma medida muito importante para o Brasil: abertura dos portos brasileiros às nações amigas.

Essa medida promoveu mudanças para a economia brasileira e aumentou a influência dos ingleses no comércio de nosso país. Em 8 de março, a corte portuguesa chegou ao Rio de Janeiro, seguida de outras embarcações que tinham se perdido durante a viagem. A presença da família real aqui, ainda, trouxe transformações significativas que adiantaram o percurso do Brasil na direção da independência.

Créditos da imagem

[1] StockPhotosArt e Shutterstock

[2] Commons

Por Daniel Neves Silva

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