Proclamação da República
A Proclamação da República foi o evento responsável pela derrubada da monarquia e peli estabelecimento da república no Brasil. Ela aconteceu em 15 de novembro de 1889.
Por Daniel Neves Silva
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A Proclamação da República foi o evento histórico que aconteceu em 15 de novembro de 1889 e resultou na derrubada da monarquia e na instauração da república no Brasil. Esse acontecimento foi resultado de um longo enfraquecimento que a monarquia enfrentou no país a partir da década de 1870. Um dos grupos mais insatisfeitos foi o dos militares.
A conspiração contra a monarquia contou com a adesão do marechal Deodoro da Fonseca, responsável por liderar a derrubada do gabinete ministerial. No decorrer do dia 15, as movimentações políticas fizeram José do Patrocínio proclamar a república na Câmara Municipal do Rio de Janeiro.
Leia também: Independência do Brasil — acontecimento histórico que pôs fim à relação colonial entre Brasil e Portugal
Resumo sobre Proclamação da República
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A Proclamação da República foi o evento responsável pela derrubada da monarquia e pelo estabelecimento da república no Brasil.
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Essa mudança de regime aconteceu por meio de um golpe realizado em 15 de novembro de 1889.
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A Proclamação da República foi um movimento realizado, em grande parte, pelos militares, contando com algum apoio civil.
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Havia muitas insatisfações com a monarquia no final do século XIX.
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A república foi proclamada por José do Patrocínio, vereador no Rio de Janeiro, durante discurso na Câmara Municipal do Rio de Janeiro.
O que foi a Proclamação da República?
A Proclamação da República foi o evento responsável pela derrubada da monarquia e pelo estabelecimento da república no Brasil. Esse acontecimento deu-se no dia 15 de novembro de 1889, sendo considerado pelos historiadores como um golpe que foi realizado, em grande parte, pelos militares, mas que também contou com o envolvimento civil.
Esse ato ocorreu por conta do enfraquecimento e da impopularidade da monarquia no Brasil daquele período. O enfraquecimento da monarquia iniciou-se na década de 1870, permitindo que as ideias republicanas ganhassem adeptos no Brasil. Com a derrubada da monarquia, o marechal Deodoro da Fonseca foi convidado para assumir provisoriamente a presidência, e a família real foi expulsa do Brasil.
Quem proclamou a república no Brasil?
A república foi proclamada no Brasil pelo vereador José do Patrocínio, participante do golpe que derrubou a monarquia no Brasil. O ato aconteceu em 15 de novembro, durante sessão na Câmara Municipal na cidade do Rio de Janeiro. Muitos acreditam que o marechal Deodoro da Fonseca foi o responsável pelo ato, mas isso não aconteceu. O envolvimento de Deodoro da Fonseca com a Proclamação da República foi sua ação na derrubada do Gabinete Ministerial.
Contexto histórico da Proclamação da República
A Proclamação da República foi resultado da crise do império e da sua incapacidade de atender às novas demandas que foram surgindo na sociedade brasileira. Essas insatisfações convergiram-se para o movimento republicano, que, um tanto na base do planejamento e um tanto na base do improviso, realizou um golpe que colocou fim na monarquia no Brasil.
Podemos considerar que essa crise da monarquia no Brasil iniciou-se na década de 1870, logo após a Guerra do Paraguai. O Brasil venceu a guerra, mas a monarquia saiu enfraquecida, e os novos rearranjos políticos que estavam em formação no Brasil, desde a década de 1860, começaram a ganhar espaço no debate político.
Os dois principais grupos insatisfeitos e que diretamente influenciaram no fim da monarquia foram certos grupos políticos, que reivindicavam a modernização do país e novas agendas para política brasileira, e os militares. Ambos orbitavam ao redor do republicanismo, forma de governo que passou a ser enxergada como moderna e como solução para o país.
Causas da Proclamação da República
A Proclamação da República foi um golpe motivado por razões diversas, as quais estão associadas a insatisfações diversas que se estabeleceram no Brasil em relação à monarquia. A seguir, vejamos as motivações.
→ Insatisfação militar
Entre os militares, a insatisfação com a monarquia iniciou-se após a Guerra do Paraguai, justamente quando o Exército brasileiro estabeleceu-se como uma instituição profissional. Isso fez com que os militares passassem a organizar-se na defesa por seus direitos. Suas duas principais exigências passaram a ser aumento salarial e melhora no sistema de carreira.
Os militares também exigiam para si o direito de manifestar suas opiniões políticas, uma vez que passaram a enxergar-se como os responsáveis pela tutela do Estado. Além disso, havia insatisfações entre eles pelo fato de o Brasil não ser um país laico, e todas essas questões fizeram com que eles abraçassem o positivismo, conjunto de ideias defendidas pelo sociólogo francês Augusto Comte.
O positivismo tornou-se o discurso oficial para o questionamento da monarquia por parte dos militares. No fim, grande parte deles passou a defender que a modernização do país fosse realizada com base em uma república ditatorial, na qual um governante representaria os interesses do povo. Para agravar a situação, a insatisfação dos militares ainda era incentivada por outros grupos da sociedade.
→ Insatisfação política
Na política, havia uma grande insatisfação com a monarquia, principalmente em províncias como São Paulo, pela sub-representação política. Economicamente, São Paulo já era o principal estado do Brasil, mas, politicamente, sua representação era muito pequena em relação a outros estados com economias decadentes, como Bahia, Pernambuco e o próprio Rio de Janeiro. Isso mobilizava as elites políticas da província na exigência de maior participação.
A socióloga Ângela Alonso também fala da insatisfação em grupos emergentes nas cidades que desejavam ter voz política, mas que não conseguiam porque o sistema político da monarquia era abertamente excludente. |1| Os liberais até tentaram incluir parte da sociedade no eleitorado, mas a realidade que se impôs foi contrária: a Lei Saraiva, de 1881, reduziu drasticamente o eleitorado brasileiro.
Os problemas da monarquia, portanto, criaram um grupo de insatisfeitos que passou a ver na república uma alternativa para o desenvolvimento do Brasil. Pontos de partida extremamente importantes para o fortalecimento do republicanismo no país foram a fundação do Partido Republicano Paulista (PRP) e o lançamento do Manifesto Republicano, em 1870.
O PRP surgiu por meio do Clube Radical e era formado por um grupo de republicanos paulistas que estavam insatisfeitos com a política na monarquia, sobretudo por conta da centralização do poder e da falta de autonomia das províncias. Entretanto, o PRP, surgido em 1873, só foi possível graças ao Manifesto Republicano, publicado três anos antes.
Esse manifesto tornou-se um balizador dos defensores da república no Brasil e defendia a ideia de que os grandes males do país advinham da monarquia. O manifesto também criticava o centralismo e propunha o federalismo como a principal ação em benefício do país. A questão federalista, na defesa por autonomia para as províncias, foi uma das grandes motivações dos defensores da república no Brasil.
→ Outras demandas
Outras grandes demandas da época eram o estabelecimento do laicismo no Brasil, isto é, a transformação do Brasil em um Estado laico, e a questão do abolicionismo, uma das pautas que moveram a sociedade brasileira na década de 1880. A grande maioria dos abolicionistas era adepta dos ideais republicanos, e a mobilização em defesa do movimento inclinou-se para a implantação da república.
Por fim, havia uma insatisfação a respeito da sucessão do trono. A Princesa Isabel não era considerada a pessoal ideal para assumir o trono e a possibilidade de que seu marido, um francês, fosse o imperador também não era muito bem-aceita. Chegou-se até a cogitar que seu filho mais velho fosse coroado, mas essa ideia não avançou.
O que aconteceu no dia da Proclamação da República?
Havia inúmeras razões de insatisfação contra a monarquia. Nas palavras de Ângela Alonso, “as crises políticas sobrepostas, somadas à mobilização social, produziram a conjuntura propícia para a mudança de regime”. Ela completa dizendo que, em 1889, a questão não era se a monarquia cairia, mas quando ela cairia. |2|
Associações e grupos defensores do republicanismo começaram a fazer ações na rua em defesa da implantação da república, e jornais da época propagavam esses ideais. Em julho de 1889, a monarquia proibiu essas manifestações, mas já era tarde. Conspirações contra a monarquia aconteciam, em meios civis e militares.
Nomes como Benjamin Constant, Quintino Bocaiuva, Antônio da Silva Jardim, José do Patrocínio, entre outros, movimentavam-se pela implantação da república no Brasil. O Exército também era cada vez mais agitado pela possibilidade de agir contra a monarquia. Em novembro de 1889, os boatos sobre um levante militar eram fortes no Rio de Janeiro.
A proclamação da república foi resultado de um golpe encabeçado pelos militares, mas que contou com envolvimento civil, e foi, em parte, planejada, e, em parte, improvisada. No começo de novembro, os boatos sobre uma conspiração eram muito fortes, e o passo decisivo para que a proclamação fosse deflagrada foi a adesão do marechal Deodoro da Fonseca.
No dia 10 de novembro, republicanos foram até a casa do marechal para convencê-lo a juntar-se a eles em um movimento para derrubar o Visconde de Ouro Preto do Gabinete Ministerial. Entre os presentes, estavam Rui Barbosa, Benjamin Constant e Aristides Lobo. O marechal foi convencido a aderir ao golpe após uma série de argumentos baseados em muitos boatos.
A adesão do marechal Deodoro da Fonseca aconteceu visando ao seguinte objetivo: a destituição do Visconde de Ouro Preto. Os acontecimentos da proclamação da república foram divididos, pela historiadora Ângela Alonso, em oito episódios, que se estenderam por 81 horas, a começarem no dia 14 de novembro de 1889. |3| Os episódios narrados por ela foram os seguintes:
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Desencadeamento da sublevação civil-militar
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Deposição do Gabinete Ministerial
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Reação monarquista
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Mobilização no espaço público e proclamação da república
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Formação do governo republicano
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Tentativa de formação de um gabinete monarquista
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Cerco da família imperial e posse do governo provisório
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Deportação da dinastia
Dentro dessa composição, o golpe que levou à proclamação da república foi realizado no dia 15 de novembro de 1889. Entretanto, as ações relacionadas a esse acontecimento iniciaram-se no dia anterior, 14, por meio de notícias falsas veiculadas com o objetivo de gerar adesão ao golpe em curso. Isso colocou alguns grupos militares em ação contra a monarquia.
No dia seguinte, 15, tropas lideradas por Deodoro da Fonseca cercaram o quartel-general que ficava no Campo do Santana. Ele ordenou que o Visconde de Ouro Preto e o ministro da Justiça, Cândido de Oliveira, fossem presos. Após prender os dois, o marechal fez um elogio ao imperador e foi para sua casa, à espera de que Dom Pedro II formasse um novo gabinete.
No entanto, isso não aconteceu. Enquanto isso, outras pessoas envolvidas na conspiração começaram a agir para tornar esse acontecimento o responsável pela proclamação da república. Durante a tarde do dia 15, foi proposto que a república fosse proclamada na Câmara Municipal ou no Senado.
Ficou decidido que a proclamação aconteceria em uma sessão da Câmara Municipal, e nela, José do Patrocínio foi o responsável pela proclamação da república no Brasil. Houve alguma celebração nas ruas do Rio de Janeiro, com desfiles e vivas sendo puxados pelos envolvidos na conspiração. Nessas comemorações, fala-se da participação de populares.
Houve uma tentativa de resistência organizada por monarquistas, como Conde d’Eu e André Rebouças, mas ela não avançou. O imperador Dom Pedro II, que estava em Petrópolis, ainda tentou formar um novo gabinete, mas sua proposta não foi aceita. Os republicanos, em seguida, formaram um governo provisório.
O Governo Provisório contou com muitos dos envolvidos na conspiração contra a monarquia. Quintino Bocaiuva assumiu a pasta das Relações Exteriores, Benjamin Constant assumiu a pasta da Guerra, Aristides Lobo assumiu a pasta do Interior, Rui Barbosa assumiu a pasta da Fazenda etc. O marechal Deodoro da Fonseca, por sua vez, foi indicado à presidência.
Por fim, a família imperial foi expulsa do Brasil. No dia 16 de novembro, ela recebeu a ordem de deixar o país em até 24 horas, e, no mesmo dia, um decreto do governo provisório anunciou que a ela receberia a quantia de cinco mil réis. Entretanto, essa medida indenizatória foi revogada em dezembro de 1889. No dia 17 de novembro, a família real embarcava para Lisboa.
Consequências da Proclamação da República
A Proclamação da República foi um acontecimento marcante na história de nosso país e trouxe mudanças significativas. Entre elas, podemos mencionar:
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implantação da república;
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implantação do federalismo;
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estabelecimento do sufrágio universal masculino e fim do voto censitário;
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implantação do Estado laico;
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estabelecimento do presidencialismo.
A década de 1890 ficou marcada como uma década de conflitos, frutos da disputa entre monarquistas e republicanos e das disputas entre os diferentes interesses políticos que lutavam pelo poder na recém-instalada república.
Início da República no Brasil
Após a Proclamação da República, foi formado um governo provisório que foi responsável pelas primeiras ações de governo com o Brasil sendo uma república. Esse governo provisório foi o responsável por convidar o marechal Deodoro da Fonseca a assumir a posição de presidente em caráter provisório até que o país tivesse uma Constituição e uma eleição presidencial marcada.
O governo de Deodoro da Fonseca estendeu-se até 1891, sendo marcado por instabilidade, por medidas autoritárias e por brigas com o Congresso Nacional. Ele foi sucedido por Floriano Peixoto, seu vice-presidente. Esse primeiro momento da república no Brasil ficou conhecido como Primeira República, tendo como grande símbolo o domínio das oligarquias na política nacional.
Veja também: Como foi a Primeira República (ou República Velha)?
Exercícios resolvidos sobre Proclamação da República
Questão 1
A insatisfação do Exército com a monarquia ganhou força a partir de qual evento da história brasileira?
A) Abolição da Escravatura
B) Lei do Ventre Livre
C) Guerra do Paraguai
D) Guerra da Cisplatina
E) Revolução Praieira
Resolução:
Alternativa C.
Foi após a Guerra do Paraguai que o Exército ficou insatisfeito com a monarquia. Os militares queriam ser reconhecidos pelo papel que cumpriram nesse conflito, passando a exigir melhorias salariais e um melhor plano de promoção de carreira. Os círculos militares aderiram ao positivismo, passando a defender o estabelecimento de uma república autoritária no Brasil.
Questão 2
Qual das figuras abaixo teve um papel relevante no movimento que resultou a Proclamação da República?
A) Deodoro da Fonseca
B) Aristides Lobo
C) Benjamin Constant
D) José do Patrocínio
E) Todos os nomes citados.
Resolução:
Alternativa E.
Todos os nomes mencionados tiveram envolvimento direto com o golpe que resultou na Proclamação da República. Dos nomes mencionados, o que teve o envolvimento mais tardio foi o marechal Deodoro da Fonseca, convencido poucos dias antes do golpe a aderir ao movimento contra a monarquia.
Notas
|1| ALONSO, Ângela. Instauração da República no Brasil. In.: SCHWARCZ, Lília M. e STARLING, Heloísa M (orgs.). Dicionário da República: 51 textos críticos. São Paulo: Companhia das Letras, 2019, p. 164.
|2| ALONSO, Ângela. Instauração da República no Brasil. In.: SCHWARCZ, Lília M. e STARLING, Heloísa M (orgs.). Dicionário da República: 51 textos críticos. São Paulo: Companhia das Letras, 2019, p. 166.
|3| ALONSO, Ângela. Instauração da República no Brasil. In.: SCHWARCZ, Lília M. e STARLING, Heloísa M (orgs.). Dicionário da República: 51 textos críticos. São Paulo: Companhia das Letras, 2019, p. 167-171.
Fontes
BACHA, Edmar; CARVALHO, J. M. de; FALCÃO, Joaquim; TRINDADE, Marcelo; MALAN, Pedro e SCHWARTZMAN, Simon (orgs.). 130 anos: em busca da república. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2019.
FAUSTO, Boris. História concisa do Brasil. São Paulo: Edusp, 2018.
FERREIRA, Jorge e DELGADO, Lucília de Almeida Neves (orgs.). O tempo do liberalismo oligárquico: da Proclamação da República à Revolução de 1930. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2018.
LESSA, Renato. A invenção republicana: Campos Sales, as bases e a decadência da Primeira República Brasileira. Rio de Janeiro: Topbooks, 2015.
SCHWARCZ, Lilia Moritz e STARLING, Heloísa Murgel. Brasil: Uma Biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
SCHWARCZ, Lília M. e STARLING, Heloísa M (orgs.). Dicionário da República: 51 textos críticos. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.