Neocolonialismo

O neocolonialismo é um processo de colonização de países africanos e asiáticos empreendido por empresas europeias em busca de matéria-prima, mercado consumidor e mão de obra.
Imagem representativa da partilha da África, realizada no contexto do neocolonialismo.

Neocolonialismo é o nome dado ao processo de colonização de países da África e da Ásia, empreendido por países europeus financiados por grandes empresas europeias, a fim de explorar matérias-primas e de obter um grande mercado consumidor e mão de obra barata.

Sendo um processo iniciado no século XIX, motivado pela Segunda Revolução Industrial, as empresas e os banqueiros que patrocinaram as grandes expedições neocolonialistas utilizavam-se do discurso da importância de levarem a “civilidade” a esses povos, mas na verdade tinham como único interesse o lucro que poderiam obter.

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Resumo sobre neocolonialismo

  • Neocolonialismo é o nome dado ao processo de exploração de matérias-primas, à busca por mercado consumidor e mão de obra barata empreendida por países europeus, principalmente na África e na Ásia.

  • Ocorrido entre os séculos XIX e XX, o neocolonialismo foi patrocinado por empresários e banqueiros via Segunda Revolução Industrial.

  • Um dos pontos de maior destaque foi a partilha da África, realizada na Conferência de Berlim, quando literalmente dividiram o território africano tendo como único critério a busca por lucros.

  • Os EUA empreenderam também nessa corrida neocolonial e se fizeram presentes no Japão.

  • É possível dizer que o neocolonialismo é contemplado pela ideia do imperialismo no que se refere às expansões territoriais, mas, no imperialismo, as questões territoriais, sociais e econômicas estão muito atreladas às justificativas ideológicas.

  • Embora sejam usados como sinônimo em muitos lugares, neocolonialismo e colonialismo não são a mesma coisa, pois o colonialismo ocorreu entre os séculos XVI e XVIII, e foi financiado pelo Estado.

Videoaula sobre neocolonialismo

O que é neocolonialismo?

O neocolonialismo é um termo que se refere ao processo de colonização de países da África e da Ásia, realizado nos séculos XIX e XX, a fim de se obter matéria-prima e mão de obra barata, além de um mercado consumidor.

O prefixo neo significa “algo novo”, e seu uso decorre do fato de que o neocolonialismo é um “novo” colonialismo, valendo ressaltar que o colonialismo propriamente dito, realizado nos séculos XV e XVI, diz respeito ao domínio de um país sobre outro, no qual o dominador (colonizador) detém o poder político, militar, econômico, cultural e/ou religioso de um povo de um território a fim de explorar matérias-primas.

Características do neocolonialismo

Veja, a seguir, as principais características do neocolonialismo:

  • Os países europeus colonizadores foram Alemanha, Bélgica, França, Inglaterra, Itália e Holanda.

  • Os colonizados foram territórios e países dos continentes asiático e africano.

  • Várias ideologias foram difundidas nessa época, como o eurocentrismo (noção de que a Europa era o centro do mundo porque nela era onde havia “progresso”).

  • As empresas (burguesia industrial) aliadas a banqueiros — e com apoio do Estado — foram os maiores investidores da efetivação das colonizações europeias, pois buscavam mercado consumidor, mão de obra barata e matéria-prima e o lucro que adviria disso, inclusive investiram em transporte e comunicação nas colônias para facilitar os escoamentos.

  • Os colonizadores tinham alianças com as elites locais para alcançarem os interesses de ambas as partes de classes dominantes, e foi feito uso de força militar, que infligiu diversas violências nos povos locais.

História do neocolonialismo

No século XIX, o continente europeu passava pela Segunda Revolução Industrial, quando outros países, além da Inglaterra (onde a Primeira Revolução Industrial surgiu), entraram também (ou com mais força) na industrialização.

Assim, França, Bélgica, Holanda, Itália e Alemanha aumentaram exorbitantemente suas produções, e isso gerou novas necessidades. Os países passaram a precisar de mais matéria-prima bem como de mais gente para consumir tamanha produção, ou seja, novos mercados consumidores e, para garantir mais lucros, mão de obra barata — sobretudo onde a classe trabalhadora não estava ainda tão organizada a ponto de haver greves, sindicatos e exigência de direitos, como já acontecia na Europa.

Além disso, processos de unificações aconteciam, como os da Itália e Alemanha, fortalecidas ideologicamente pelo nacionalismo (também presente na Bélgica desde sua independência, em 1830). O ideário nacionalista contribuiu para a competição entre as potências. Foi nesse contexto histórico europeu que surgiu o neocolonialismo.

Neocolonialismo na África

A charge do colonizador britânico Cecil Rhodes evidencia a dimensão dos interesses ingleses em relação à África.

Os continentes africano e asiático eram considerados atrasados porque não tinham ainda indústrias como o europeu. A economia deles ainda era baseada, principalmente, na extração de minérios (necessários para indústrias) e agricultura. Assim, os colonizadores viram que ali encontrariam o que estavam querendo.

A África foi o território que mais sofreu as consequências do neocolonialismo, pois foi toda repartida entre exploradores. Ao se observar o mapa do continente, percebe-se fronteiras retilíneas. Todas as vezes que se vê fronteiras demarcadas dessa forma, quer dizer que elas foram traçadas de maneira artificial, como se tivesse passado uma régua para dividir territórios com diversas etnias e culturas diferentes, desrespeitando-as completamente.

Até os dias atuais, muitos países africanos ainda passam por conflitos étnicos por conta dessa divisão autoritária e externa feita por europeus interessados na exploração da região reunidos na Conferência de Berlim (novembro de 1884 a fevereiro de 1885). Esse conjunto de reuniões visava encontrar uma saída diplomática para as disputas entre as potências europeias na corrida em busca de mais lucros.

 Conferência de Berlim sobre a partilha da África, retratada em um jornal da época (1884).

A força bélica europeia também foi utilizada, sobretudo para que as rebeliões dos explorados e colonizados fossem contidas. No entanto, talvez um dos maiores prejuízos que os europeus deram aos africanos, além da retirada de suas riquezas naturais, tenha sido ideológico.

O racismo foi muito propagado, assim como o darwinismo social, uma tentativa de justificar o neocolonialismo ao afirmar-se que os países que tinham se industrializado e se tornado ricos em detrimento dos mais pobres (no caso, os africanos) foi porque “evoluíram” mais.

Também ligada ao darwinismo social, existia a teoria do evolucionismo social, segundo a qual as sociedades passavam por três etapas de desenvolvimento: bárbara, primitiva e civilizada. Assim, os europeus eram civilizados, os asiáticos eram primitivos, e os africanos, bárbaros. Cabia, portanto, ao europeu, levar civilidade a esses povos atrasados.

Essas teorias circulavam entre filósofos, poetas e o senso comum. Um exemplo na literatura é o poema de Rudyard Kipling, chamado “O fardo do homem branco”. Esse autor chegou a ganhar o Prêmio Nobel de Literatura no começo do século XX. Veja um trecho do poema a seguir:

O fardo do homem branco

Tomai o fardo do Homem Branco

Enviai vossos melhores filhos

Ide, condenai seus filhos ao exílio

Para servirem aos vossos cativos;

Para esperar, com chicotes pesados

O povo agitado e selvagem

Vossos cativos, tristes povos,

Metade demônio, metade criança.

Veja também: Nazismo — a ideologia que estabeleceu a superioridade do homem branco germânico

Neocolonialismo no Brasil

O Brasil, no contexto do neocolonialismo, sofreu uma consequência benéfica, pois, com a obsessão por novos mercados consumidores, aumentou-se a pressão europeia, principalmente inglesa, pela abolição da escravatura, liberando-os para se tornarem possíveis consumidores mas também, e principalmente, mão de obra barata.

A industrialização brasileira ainda dava seus primeiros passos no século XIX e só foi se desenvolver mesmo a partir de 1930. Até então, o país passava pelo ciclo do café — importante energético para abastecer trabalhadores europeus nas fábricas para aguentarem horas seguidas de trabalho — e desenvolvia suas primeiras ferrovias.

Neocolonialismo no mundo

Além dos países europeus, na América, os Estados Unidos também já entravam no mesmo processo de industrialização. Quando foi descoberto ouro na Califórnia e após a Guerra de Secessão, ingleses investiram no desenvolvimento de indústrias no país. Assim, no século XIX, sua produção já superava a do próprio investidor europeu.

De tal maneira, o neocolonialismo estadunidense se deu no Japão, que, naquele período, passava por intensa modernização, chamada de Revolução Meji, de 1868. O país asiático, por meio da incorporação de metodologias e técnicas norte-americanas, obteve industrialização de forma sistematizada.

A Índia, colonizada por franceses inicialmente, foi tomada pelos ingleses em 1858, após a Revolta do Cipaios, uma rebelião de indianos que serviam ao exército colonial que foi duramente reprimida. De tal modo, uma companhia inglesa ficou encarregada da exploração local.

O domínio inglês também se fez presente na China após a Guerra do Ópio, quando chineses destruíram cargas do produto que iam para a Inglaterra. Os boxers, um grupo que atentava contra estrangeiros vivendo em seu país, foram os realizadores da insurreição. Para reprimi-los, os europeus se unificaram no episódio que ficou conhecido como Guerra dos Boxers. Logo em seguida, a Europa conseguiu o domínio completo da China.

Charge do francês Henri Meyer representando a partilha da China.

Qual a diferença entre neocolonialismo e imperialismo?

Embora usados quase sempre como sinônimos, os termos neocolonialismo e imperialismo não têm um mesmo significado, apresentando algumas diferenças:

  • Imperialismo

    • É um conceito que foi e é utilizado em diversos contextos históricos para representar a ideia de expansão e dominação territorial, cultural e econômica.

    • Faz uso intenso de “justificativas” para essa expansão e dominação, justificadas por ideologias, que geralmente são racistas e/ou culturais.

  • Neocolonialismo:

    • Diz respeito ao fenômeno colonizatório ocorrido no século XIX, principalmente por parte de países europeus em relação aos africanos e asiáticos, a fim de obterem matéria-prima, mercado consumidor e mão de obra barata.

    • Utilizou-se de aparatos ideológicos, mas seu conceito denota, muito mais, aspectos territoriais.

Importante: É possível dizer que o neocolonialismo está abarcado pelo conceito do imperialismo, tendo em vista os aspectos territoriais que ele contempla.

Qual a diferença entre colonialismo e neocolonialismo?

Embora usados quase sempre como sinônimos, os termos colonialismo e neocolonialismo têm significados diferentes:

  • Colonialismo:

    • Aconteceu no século XVI.

    • Teve como maiores potências Portugal e Espanha, pioneiras na expansão marítima.

    • Tinha o objetivo de explorar matérias-primas somente.

    • Economicamente, vivia-se o mercantilismo.

    • Politicamente, vivia-se o absolutismo.

    • Deu-se, sobretudo, nas Américas.

    • Era financiado pelo Estado.

  • Neocolonialismo:

    • Aconteceu no século XIX e início do XX.

    • Teve como expoentes colonizadores: Reino Unido, Bélgica, Prússia, França e Itália.

    • Seus objetivos eram, além da matéria-prima: formar de mercado consumidor e obter mão de obra barata.

    • Economicamente, a Europa passava pela Segunda Revolução Industrial, a burguesia já estava grande e querendo expandir e enriquecer mais.

    • Politicamente, questionava-se os governos monárquicos, e alguns já eram repúblicas. Além disso, em outros, aflorava-se o nacionalismo e o liberalismo.

    • As colônias eram, principalmente, na África e na Ásia.

    • Era financiado por empresários e banqueiros.

Saiba mais: Neoliberalismo — uma doutrina socioeconômica que retoma alguns ideais do liberalismo clássico

Exercícios resolvidos sobre neocolonialismo

Questão 1

(UFG) Leia o texto a seguir:

Por mais que retrocedamos na História, acharemos que a África está sempre fechada no contato com o resto do mundo, é um país criança envolvido na escuridão da noite, aquém da luz da história consciente. O negro representa o homem natural em toda a sua barbárie e violência; para compreendê-lo, devemos esquecer todas as representações europeias. Devemos esquecer Deus e as leis morais.

HEGEL, Georg W. F. Filosofia de la historia universal. Apud HERNANDEZ, Leila M.G. A África na sala de aula: visita à história contemporânea. São Paulo: Selo Negro, 2005. p. 20-21. [Adaptado]

O fragmento é um indicador da forma predominante como os europeus observavam o continente africano no século XIX. Essa observação relacionava-se a uma definição sobre a cultura, que se identificava com a ideia de:

A) progresso social, materializado pelas realizações humanas como forma de se opor à natureza.

B) tolerância cívica, verificada no respeito ao contato com o outro, com vistas a manter seus hábitos.

C) autonomia política, expressa na escolha do homem negro por uma vida apartada da comunidade.

D) liberdade religiosa, manifesta na relativização dos padrões éticos europeus.

E) respeito às tradições, associado ao reconhecimento do valor do passado para as comunidades locais.

Resolução:

Alternativa A

A visão de Hegel expressa o pensamento de muitos filósofos europeus sobre a África. Tal percepção também ficou conhecida no senso comum do século XIX, que via os africanos como atrasados e a Europa como sinal de progresso.

Questão 2

(FGV) Entre novembro de 1884 e fevereiro de 1885, representantes de países europeus, dos Estados Unidos e do Império Otomano participaram de negociações sobre o continente africano. O conjunto de reuniões, que ficou conhecido como a Conferência de Berlim, tratou da:

A) incorporação da Libéria aos domínios norte-americanos, em troca do controle da África do Sul pela Inglaterra e Holanda.

B) independência de Angola e Moçambique e da incorporação do Congo ao império ultramarino português.

C) ocupação e do controle do território africano de acordo com os interesses das diversas potências representadas.

D) condenação do regime do Apartheid estabelecido na África do Sul e denunciado pelo governo britânico.

E) incorporação da Etiópia aos domínios italianos e à transformação do Egito em protetorado da Alemanha.

Resolução:

Alternativa C

A Conferência de Berlim buscou sanar diplomaticamente a crise que existia entre os países europeus colonialistas em relação ao território africano, autoritariamente fracionado depois da Conferência, de forma que cada um desses países ficou com uma parte dele.

Por Mariana de Oliveira Lopes Barbosa