Eugenia nazista
A eugenia nazista foi uma política social imposta pelos nazistas com o intuito de “purificar” a raça ariana. Esse plano deu origem a um programa de extermínio, o Aktion T4.
Por Daniel Neves Silva
![Prédio onde aconteceram ações relacionadas ao Aktion T4, um plano de eutanásia advindo da eugenia nazista.[1] Prédio onde aconteceram ações relacionadas ao Aktion T4, um plano de eutanásia advindo da eugenia nazista.[1]](https://static.historiadomundo.com.br/2025/08/1-predio-onde-aconteceram-acoes-relacionadas-ao-aktion-t4-um-plano-de-eutanasia-advindo-da-eugenia-nazista1.jpg)
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A eugenia nazista foi um dos elementos da ideologia nazista, sendo uma política social baseada em ideias racistas, aporofóbicas e xenofóbicas. A eugenia nazista buscava estabelecer critérios para a purificação da raça ariana, esterilizando ou eliminando indivíduos que eram considerados inferiores. Entre as vítimas dessa política estavam os deficientes físicos e mentais, pessoas que sofriam de alcoolismo etc.
A eugenia era diretamente apoiada por Adolf Hitler, líder do nazismo, e as primeiras medidas eugênicas foram tomadas na Alemanha Nazista já em 1933, quando uma lei para a esterilização forçada de alguns indivíduos foi estabelecida. A eugenia nazista também deu origem a um plano de “eutanásia” de “pessoas indesejadas” chamado Aktion T4.
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Resumo sobre eugenia nazista
- A eugenia nazista era uma política social adotada pelos nazistas que procurava promover a “purificação” da raça alemã.
- Por meio da eugenia, os nazistas estabeleceram medidas para esterilizar ou exterminar indivíduos considerados inferiores.
- Entre os alvos da eugenia nazista, estavam deficientes físicos e mentais, pessoas que sofriam com alcoolismo, pessoas pobres, criminosos etc.
- Os nazistas definiam que os alvos de sua política eram “vidas que não merecem viver”.
- A eugenia nazista deu origem a um programa de “eutanásia” que resultou na morte de cerca de 250 mil pessoas.
O que foi a eugenia nazista?
A eugenia foi uma política social estabelecida pelos nazistas na Alemanha, a partir da década de 1930, com o intuito de promover a “melhoria” da raça ariana, combatendo grupos considerados “degenerados”, no sentindo de evitar sua reprodução e atuar por sua eliminação. A eugenia nazista estabelecia quais eram os grupos marginalizados.
Por meio dessa política eugênica, os nazistas promoveram a esterilização forçada de milhares de pessoas e o extermínio daquelas que eram consideradas inferiores, fracas. Entre as vítimas da eugenia nazista, estavam:
- criminosos;
- pessoas que sofriam de doenças mentais;
- pessoas que sofriam de alcoolismo;
- pessoas com doenças degenerativas etc.
O objetivo da eugenia nazista era “melhorar a raça” por meio da seleção daqueles que poderiam se reproduzir e gerar herdeiros. Dentro dessa teoria, buscava-se eliminar os fatores hereditários, isto é, problemas e males genéticos que se acreditava que seriam transmitidos. Essa seleção, supostamente, seria a responsável pelo desenvolvimento da sociedade.
Os eugenistas afirmavam que a existência desses grupos era um grande risco para o país e a eles se atribuía a responsabilidade por diversos males da sociedade, como a criminalidade. Além disso, os eugenistas consideravam esses grupos um fardo financeiro para a sociedade, por isso defendiam sua esterilização e eliminação.
Hitler e a eugenia nazista
Adolf Hitler, líder do nazismo, cultivava ideias eugenistas, defendendo a eliminação de grupos considerados degenerados como forma de garantir a pureza da raça ariana e o desenvolvimento da Alemanha. A eugenia era uma ideologia presente na sociedade alemã desde o final do século XIX, influenciando Hitler.
Enquanto estava preso, Hitler leu livros que tratavam de eugenia, passando a defender uma série de teorias eugênicas daquele período. Ele acreditava que era necessário promover essa “higiene social” para livrar a Alemanha de elementos considerados fracos e impuros. Para Hitler, o desenvolvimento da Alemanha passava obrigatoriamente pelo incentivo à reprodução daqueles considerados puros e fortes.
As teorias e ideias eugenistas, inspiradas na deturpação da teoria da evolução das espécies, foram exploradas pelos nazistas para reforçar a ideia da supremacia do povo ariano, abrindo caminho para que a segregação e o genocídio desses indivíduos considerados “indesejáveis” fossem justificados sob um falso verniz de conhecimento científico.
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Métodos de eugenia nazista
As primeiras medidas de eugenia foram tomadas pelos nazistas tão logo eles assumiram o poder da Alemanha. Em 4 de julho de 1933, por exemplo, foi estabelecida a Lei para a Prevenção de Prole com Doença Hereditária, que estabelecia a esterilização compulsória para indivíduos com debilidades mentais hereditárias, esquizofrenia, psicose maníaco-depressiva, epilepsia hereditária, surdez, alcoolismo severo, deformidade física hereditária, entre outros.
A partir dessa lei, foram estabelecidos tribunais que tomavam decisões sobre esterilizações forçadas para indivíduos que sofriam de algumas dessas condições. A lei foi justificada como meio para combater problemas hereditários, visando reduzir a pobreza, a miséria e outros desvios de comportamento.
Essa lei fez com que cerca de 360 mil pessoas fossem esterilizadas de maneira forçada pelo governo alemão, apesar de a maioria dessas vítimas não estar de acordo com a atitude. As pessoas que sofriam com a esterilização forçada passavam por uma vasectomia, no caso dos homens, e de ligadura de trompas, no caso das mulheres.
A esterilização de pessoas com doenças mentais, deformidades físicas e que sofriam de alcoolismo buscava a purificação da raça, como mencionado, impedindo a reprodução de indivíduos considerados indesejáveis. Além disso, a esterilização garantia que os gastos com essa população se reduzissem.
O historiador Richard J. Evans aponta que a política de esterilização foi uma forma encontrada pelos nazistas de aniquilar as camadas mais baixas da sociedade alemã que não se encaixam no ideal alemão de homem e mulher. Por isso, a maioria dos alvos dessa esterilização foi de mendigos, prostituas, egressos de orfanatos e reformatórios etc.|1|
Muitos dos esterilizados que ficavam em clínicas psiquiátricas e asilos eram dispensados meses após serem esterilizados, em uma demonstração de que o governo buscava se livrar das despesas que eles causavam estando nesses locais. Pouco tempo depois, o governo nazista estabeleceu que essas vítimas da eugenia nazista estavam proibidas de se casarem.
Rapidamente, as ações eugenistas dos nazistas se converteram em extermínio de seres humanos. Em 1939, foi estabelecido um programa eugenista na Alemanha que promoveu o extermínio de pessoas que eram classificadas como “vidas que não merecem viver” (Lebensunwertes Leben, no alemão).
As pessoas exterminadas eram indivíduos que sofriam de doenças mentais, psiquiátricas, neurológicas ou físicas, e com isso buscava-se concretizar uma suposta purificação da raça alemã, livrando o país do “risco genético” que essas pessoas representavam. Esse programa foi chamado pelo governo alemão de “programa de eutanásia”, sendo também conhecido como Aktion T4.
Por meio desse programa, o governo alemão desenvolveu uma campanha para incentivar as famílias a enviarem seus filhos com alguma doença mental ou deficiência física para clínicas pediátricas onde seriam “tratadas” e “cuidadas”. Nesses locais, os médicos eram orientados a tomar medidas para assassinar os “pacientes”.
Inicialmente, esse programa de eutanásia matava suas vítimas por doses de remédio muito altas ou por inanição. Posteriormente, foram criadas câmaras de gás para acelerar a quantidade de pessoas que eram mortas. Essas câmaras de gás usavam monóxido de carbono para matar as vítimas asfixiadas.
Logo após a morte, os nazistas cremavam o corpo de suas vítimas e as enviava para o endereço de suas famílias com um laudo de óbito falso. O programa era secreto, mas se tornou de conhecimento público, causando alguns protestos na Alemanha. Hitler ordenou que o programa de eutanásia fosse interrompido em agosto de 1941.
No total, estima-se que o programa de eutanásia Aktion T4 tenha sido responsável pela morte de mais de 70 mil pessoas nessa primeira fase. Apesar da ordem de Hitler, ações de “eutanásia” de pessoas com deficiências físicas e mentais se seguiram na Alemanha Nazista até o final da Segunda Guerra Mundial, resultando em cerca de 250 mil mortes.
O que é eugenia?
Eugenia é uma teoria social que busca, de um ponto de vista bem genérico, a melhoria genética da humanidade. Essa teoria nasceu no século XIX, sendo criada por Francis Galton e adotada por grande parte da comunidade médica internacional no final do século XIX e começo do século XX, incluindo o Brasil.
Essa teoria defendia que a melhoria genética seria o meio para combater alguns problemas que afetam a humanidade, como a criminalidade, as doenças mentais, a pobreza etc. Acreditava-se que era necessário descobrir as características genéticas que causavam esses males, estabelecendo-se medidas para impedir sua proliferação.
Galton defendia que se realizasse um processo de seletividade da reprodução, estabelecendo meios para impedir que problemas hereditários se transmitissem, gerando seres humanos “melhores”. A eugenia acabou se tornando uma pseudociência utilizada para justificar a aporofobia, o racismo e a xenofobia, sendo apropriada por diversos grupos supremacistas e radicais, como o nazismo.
Consequências da eugenia nazista
Entre as consequências da eugenia nazista, destacam-se:
- desumanização de pessoas pobres;
- desumanização de pessoas com deficiência física;
- desumanização de pessoas com deficiência mental;
- limitação dos direitos e do auxílio do governo a grupos carentes;
- genocídio dos grupos desumanizados etc.
Notas
|1| EVANS, Richard. J. O Terceiro Reich no Poder. São Paulo: Planeta, 2014, p. 577.
Créditos da imagem
[1] Maurizio Fabbroni / Shutterstock
Fontes
EVANS, Richard. J. O Terceiro Reich no Poder. São Paulo: Planeta, 2014.
REDAÇÃO. Eugenia. Disponível em: https://encyclopedia.ushmm.org/content/pt-br/article/eugenics
REDAÇÃO. Programa de eutanásia e Aktion T4. Disponível em: https://encyclopedia.ushmm.org/content/pt-br/article/euthanasia-program
LANG-STANTON, Peter e JACKSON, Steven. Eugenia: como movimento para criar seres humanos 'melhores' nos EUA influenciou Hitler. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-39625619
GUERRA, Andréa. Do holocausto nazista à nova eugenia no século XXI. Disponível em: Do holocausto nazista à nova eugenia no século XXI. Disponível em: http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0009-67252006000100002