Josef Mengele
Josef Mengele foi um médico nazista que atuou em Auschwitz realizando experimentos em humanos, motivo pelo qual ficou conhecido como Anjo da Morte.
Por Daniel Neves Silva
Josef Mengele foi um médico alemão que ficou marcado na história como um dos médicos nazistas que atuaram nos campos de concentração e extermínio de Auschwitz. Ele ingressou no Partido Nazista no final da década de 1930, sendo enviado a Auschwitz em 1944. Lá ele demonstrou toda a sua crueldade e sadismo.
Em Auschwitz, Mengele escolhia quem seria enviado para o trabalho escravizado e quem seria executado nas câmaras de gás. Além disso, fez diversos experimentos médicos cruéis com os prisioneiros do campo. Em 1949, fugiu para a Argentina e chegou ao Brasil em 1961, onde morreu, livre, em 1979.
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Resumo sobre Josef Mengele
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Josef Mengele foi um médio alemão que atuou em Auschwitz.
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Ele nasceu em Günzburg, na Alemanha, em 16 de março de 1911.
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Pertencia a uma família bastante rica, formando-se em Medicina.
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Ingressou no Partido Nazista no final da década de 1930, sendo enviado para Auschwitz em 1944.
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Em Auschwitz, escolhia os prisioneiros que seriam encaminhados para a escravidão e aqueles que seriam executados nas câmaras de gás.
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Promoveu experimentos médicos bizarros em seres humanos.
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Fugiu para a América do Sul, vivendo em liberdade na Argentina, no Paraguai e, por último, no Brasil.
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Faleceu em Bertioga, em 1979.
Quem foi Josef Mengele?
Josef Mengele foi um alemão que ficou marcado na história como um dos médicos nazistas que atuaram nos campos de concentração e extermínio de Auschwitz. Ele conduziu diversos experimentos médicos bizarros com humanos e escolhia os prisioneiros que seriam encaminhados para a escravidão e aqueles que seriam executados nas câmaras de gás, motivo pelo qual ficou conhecido como Anjo da Morte.
→ Biografia de Josef Mengele
Josef Mengele nasceu na cidade de Günzburg, na Alemanha, em 16 de março de 1911. Era filho de Karl Mengele e de Walburga Mengele, pertencendo a uma família de ótima condição financeira, pois seu pai era dono de uma indústria que fabricava máquinas agrícolas. Era o filho mais velho do casal, que teve três ao todo. Nesse ambiente, ele teve acesso a todas as oportunidades necessárias para se desenvolver.
Mengele demonstrava grande interesse pelas artes e pelos estudos e, depois que finalizou o seu ensino médio, ingressou no curso de Medicina em 1930 pela Universidade de Frankfurt. Em 1935, ele obteve um doutorado em Antropologia pela Universidade de Munique.
Durante sua formação acadêmica, Mengele aderiu a ideias higienistas e eugenistas, defendendo, por exemplo, que havia diferenças no crânio humano de acordo com a raça de cada indivíduo. Ele chegou a ser assistente de um conhecido médico alemão que também defendia ideias higienistas, o Dr. Otmar von Verschuer.
No que se refere a sua vida pessoal, Josef Mengele casou-se duas vezes, sendo que sua primeira esposa foi Irene Schönbein, com quem se casou em 1939. Seu relacionamento com Irene foi esfriando à medida que Mengele se tornava atuante no Partido Nazista. Em 1954, eles se divorciaram, e desse relacionamento nasceu um filho chamado Rolf. Em 1958, ele se casou com Martha Mengele.
Josef Mengele em Auschwitz
Em 1937, Josef Mengele ingressou no Partido Nazista e na Schtuzstaffel, em 1938. Com o início da guerra, Mengele se voluntariou, passando por um treinamento e ingressando no serviço médico da SS militar em 1940. Nesse ano, ele foi enviado para a frente de guerra como médico.
Na guerra, ele chegou a ser condecorado com a Cruz de Ferro, foi ferido em combate, sendo enviado para atuar no Escritório Central de Economia e Administração da SS. A partir de 1944, ingressou em Auschwitz, o maior campo de concentração e extermínio mantido pelos nazistas na Segunda Guerra Mundial.
Os relatos contam que, em Auschwitz, Mengele usou o local como base para promover uma série de experimentos em seres humanos sob o verniz de estudo científico. Seu objetivo era utilizar a oportunidade em Auschwitz para retomar sua carreira como pesquisador científico.
Em Auschwitz, Mengele era um dos examinadores que determinavam o destino das pessoas que chegavam ao local. Os relatos contam que o médico examinava as pessoas que chagavam a Auschwitz com uma expressão de satisfação, determinando aqueles que poderiam trabalhar e os que não poderiam. Os últimos eram encaminhados para a execução nas câmaras de gás.
A respeito disso, o historiador Richard Evans afirma o seguinte:
Mengele conquistou notoriedade entre os sobreviventes dos campos não tanto por suas experiências, mas por seu papel na seleção dos prisioneiros para extermínio. Geralmente sozinho, com sua aparência imaculada parado na rampa e com um chicote nas mãos, ele olhava rapidamente cada Chegada antes de pronunciar “esquerda” ou “direita”, segundo o que julgasse fosse a condição física e a utilidade (ou não) dos recém-chegados para os programas de trabalho do campo. Ele estava lá com tanta frequência que muitos prisioneiros assumiam, erroneamente, que ele era o único médico dos campos a se dedicar a tal tarefa.|1|
Os relatos contam que Mengele se apresentava em vestimentas impecáveis, demonstrando um grande prazer em realizar o seu trabalho. O relato de um sobrevivente de Auschwitz chamado Leonardo de Benedetti reforça o papel cumprido por Mengele e sua satisfação e sadismo em realizar seu trabalho. Vejamos o relato:
Dr. Mengele sempre se apresentava com uniforme impecável, muito elegante e quase refinado, com botas de cano alto perfeitamente engraxadas, luvas de couro e um chicote na mão; durante o terrível exame, assumia um ar sorridente e quase gentil; conforme os examinandos corriam nus diante de seu olhar e se detinham um instante à sua frente, totalmente indiferente, ele indicava com o chicote o grupo para o qual seu juízo infalível designara o prisioneiro: à esquerda os condenados, à direita os pouquíssimos afortunados que ele julgava ainda aptos para o trabalho, pelo menos até a próxima seleção.|2|
Ele foi o responsável pela morte de tantas pessoas em Auschwitz que recebeu o apelido de Anjo da Morte. Escolhia aqueles que morreriam com base em critérios aleatórios, e os relatos contam que ele enviou para a morte pessoas que tinham cicatrizes grandes ou pessoas com altura baixa, além de muitas vezes injetar substâncias letais em pessoas que havia escolhido para serem mortas.
Além de decidir sobre a morte de milhares de pessoas e encaminhar outras tantas para o trabalho escravizado, Josef Mengele também ficou famoso pelos experimentos médicos que executava nos prisioneiros em Auschwitz.
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Experimentos de Josef Mengele
Josef Mengele ficou conhecido por seus experimentos médicos com seres humanos, demonstrando uma enorme crueldade com os prisioneiros em Auschwitz.
Ele injetava diversos tipos de produtos nas colunas de suas cobaias para ver como o corpo de cada vítima reagiria ao experimento. Os experimentos causavam dor profunda em suas vítimas, além de fazer com que elas tivessem reações diversas, ficassem doentes e até morressem em decorrência dos experimentos.
Ele tinha um interesse particular por gêmeos, não permitindo que eles fossem levados para a execução e separando-os para seus experimentos. Também tinha um grande interesse por outros grupos de pessoas, como corcundas e anões, fazendo experimentos com esses prisioneiros para determinar os motivos de suas condições.
Ele também tinha grande interesse por pacientes com heterocromia (pessoas que têm os olhos de cores diferentes). Ele fez testes injetando azul de metileno em algumas de suas cobaias para buscar mudar a cor de seus olhos, tornando-os azul, mas seus testes, evidentemente, fracassaram e causaram grande sofrimento naqueles que foram submetidos.
Ele também fez pesquisas com o intuito de curar uma doença chamada noma, que causa uma gangrena na boca. Testou vários prisioneiros, sobretudo ciganos, que estavam com a doença, encontrando um tratamento eficaz para a cura. Iniciou o tratamento com os prisioneiros, obtendo resultados positivos. No entanto, interrompeu-o, fazendo com que os prisioneiros voltassem a sofrer com a condição, e logo encaminhou as vítimas às câmaras de gás.
Mengele também submetia pessoas a testes de temperatura, colocando-as em caldeirões de água quente para determinar a resistência de um ser humano. Além disso, submetia humanos a temperaturas muito elevadas e, então, colocava-os, repentinamente, em temperaturas muito baixas. Ele promoveu experimentos para esterilização, chegando a injetar cimento líquido no útero de suas prisioneiras.
Josef Mengele no Brasil
Todos os horrores cometidos por Mengele fizeram dele um criminoso de guerra que, se capturado, poderia ser condenado à morte. Sabendo disso, Mengele decidiu fugir de Auschwitz poucos dias antes do campo de concentração ser liberado pelas tropas soviéticas. Em 17 de janeiro, foi para o campo de concentração de Gross-Rosen.
Em 18 de fevereiro de 1945, ele fugiu de Gross-Rosen disfarçado de oficial do exército alemão, deixando diversos documentos de seus experimentos em Auschwitz com uma enfermeira que ele conhecida. Ainda em 1945, ele foi preso por tropas estadunidenses, mas libertado. Os historiadores apontam que a desorganização das tropas aliadas deve ter contribuído para que Mengele não fosse identificado como um dos médicos de Auschwitz.
Entre o final de 1945 e 1949, ele trabalhou em uma plantação de batatas em Rosenheim. Em 1949, temendo ser preso, fugiu para a Suíça, indo posteriormente para a Itália e, então, embarcando em um navio que veio para a Argentina, destino de vários nazistas que fugiram após a Segunda Guerra Mundial.
Durante todo esse período, ele adotou nomes falsos, levando uma vida “comum”. Na Argentina contou com a ajuda de muitos ex-oficiais nazistas, que tinham uma rede de colaboração internacional. Ele prosperou na Argentina e chegou a ser dono de uma companhia farmacêutica. Temendo ser capturado, fugiu para o Paraguai em 1959.
No Paraguai, instalou-se em uma colônia de alemães até que, em 1961, decidiu fugir para o Brasil, onde passou o resto de sua vida. Ele chegou a retornar para a Europa em uma viagem aos Alpes Suíços, casou-se novamente, como mencionado, e no Brasil adotou o nome de Peter Hochbichler, indo morar em Nova Europa, no interior de São Paulo.
Mengele passou a trabalhar para um casal húngaro que possuía uma fazenda de café, tornando-se administrador do local. Em 1962, ele se mudou para Serra Negra, onde vivia junto do casal húngaro. Em 1963, o casal descobriu a real identidade dele, mas não o denunciou. Na propriedade que ele vivia em Serra Negra, foi construída uma torre que ele usava para monitorar a entrada da fazenda.
Os relatos contam que Mengele vivia em grande tensão, temendo ser preso. Em 1975, ele se mudou de Serra Negra, depois de ter tido um desentendimento com o casal húngaro, provavelmente por ter se envolvido com Gitta Stammer, esposa de Geza Stammer. O casal mudou-se para São Paulo e Mengele passou a peregrinar por diversas cidades do interior paulista.
Sua última residência foi na cidade de São Paulo. Sua saúde estava bastante deteriorada até que, em 7 de fevereiro de 1979, durante uma visita a Bertioga, Mengele sofreu uma parada cardíaca. Seu corpo foi encontrado na Praia da Enseada, e os documentos apresentados às autoridades traziam o nome de Wolfgang Gerhard (um dos muitos nomes falsos que ele usou).
As autoridades só descobriram o paradeiro de Mengele seis anos depois de sua morte, em 1985. As autoridades alemãs interceptaram cartas de um casal de amigos de Mengele que residiam em São Paulo (esse casal o abrigou na cidade). As cartas eram para um ex-funcionário da família Mengele.
A polícia alemã acionou a polícia brasileira, que interrogou os Bossert, que levaram a polícia até o túmulo de Mengele. O corpo dele foi exumado e as análises forenses demonstraram que se tratava mesmo de Josef Mengele.
Filmes sobre Josef Mengele
Algumas produções cinematográficas abordam a vida de Mengele, como:
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The Boys from Brazil (Os Meninos do Brasil), filme de 1978.
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Wakolda (O Médico Alemão, em português), filme de 2013.
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Das Verschwinden des Josef Mengele (O Desaparecimento de Josef Mengele), filme de 2025.
Notas
|1| EVANS, Richard J. Terceiro Reich em guerra. São Paulo: Planeta, 2016, p. 700.
|2| LEVI, Primo. Assim foi Auschwitz: testemunhos 1945-1986. São Paulo: Companhia das Letras, 2015, p. 70.
Fontes
BERNARDO, André. Josef Mengele: os 40 anos da morte do médico nazista que viveu 17 anos em SP. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-47121871.
EVANS, Richard J. Terceiro Reich em guerra. São Paulo: Planeta, 2016.
LEVI, Primo. Assim foi Auschwitz: testemunhos 1945-1986. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
POSNER, Gerald L. e WARE, John. Mengele: a história completa do anjo da morte de Auschwitz. São Paulo: Cultrix, 2019.
REDAÇÃO. Josef Mengele. Disponível em: https://encyclopedia.ushmm.org/content/pt-br/article/josef-mengele.