República Velha

A República Velha, conhecida pelos historiadores como Primeira República, foi uma fase da história brasileira que se estendeu de 1889 a 1930, sendo marcada pelas oligarquias.

Por Daniel Neves Silva

Proclamação da República, óleo sobre tela de Benedito Calixto que retrata o evento que inaugurou a República Velha.

A República Velha foi a primeira fase da república brasileira, iniciando-se em 1889, com a Proclamação da República, e se encerrando em 1930, com a Revolução de 1930. Mais conhecida pelos historiadores como Primeira República, essa fase ficou marcada pelo controle de nossa política pelas oligarquias, além da desigualdade social, pobreza, autoritarismo político, dependência da agricultura de exportação, etc. Esse também foi um período de inúmeras revoltas em diversas partes do território brasileiro.

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Resumo sobre a República Velha

  • A República Velha ou Primeira República foi um período da história brasileira que se estendeu de 1889 a 1930.

  • Esse período foi a primeira fase da história da república brasileira, iniciando-se logo após a Proclamação da República.

  • Teve fim com o levante armado conhecido como Revolução de 1930.

  • Ficou marcado pelo domínio das oligarquias, coronelismo e clientelismo.

  • Teve inúmeras revoltas que demonstraram a insatisfação popular, tais como a Guerra dos Canudos, Revolta da Vacina, Revolta da Chibata, etc.

  • A Política dos governadores e a política do café com leite foram dois arranjos políticos muito importantes desse período.

Videoaula sobre a República Velha

O que foi a República Velha?

A República Velha, também conhecida como República Oligárquica ou Primeira República, foi a primeira fase da república no Brasil. Essa fase se iniciou no ano de 1889, quando aconteceu a Proclamação da República, e se encerrou em 1930, quando a Revolução de 1930 levou Getúlio Vargas ao poder.

A Primeira República, nome mais adotado pelos historiadores, tem como grande destaque o domínio que as oligarquias exerceram na política brasileira. Esses grupos sustentavam seu poder na posse das terras, dominando a política regional e usando-a como meio para controlar os rumos do país.

Essa primeira fase da república brasileira também se consolidou sobre bases liberais e não é entendida como um período democrático, uma vez que não havia muitas garantias aos direitos individuais, os movimentos sociais eram violentamente reprimidos e as eleições eram fraudadas pelos grupos dominantes.

A corrupção, a pobreza e a desigualdade social são marcas flagrantes do Brasil nessa fase. Até por isso que esse período de nossa história é amplamente marcado pelo engajamento popular e por diferentes revoltas que demonstravam a insatisfação popular com esse cenário. A política brasileira se orientou com base em dois arranjos políticos muito importantes a esse período: a política dos governadores e a política do café com leite.

Características da República Velha

O domínio das oligarquias é uma das características mais evidentes da Primeira República. Esses grupos detinham o poderio econômico, baseado em nosso país na posse das terras. Assim, essas oligarquias estavam diretamente ligadas ao latifúndio. Esse poderio econômico era convertido em poderio político, sendo a política o meio que essas oligarquias utilizavam para atender aos seus próprios interesses.

O domínio das oligarquias foi exercido por meio de três aspectos fundamentais da Primeira República e que permeiam grande parte da história do Brasil: coronelismo, clientelismo e mandonismo. Vejamos cada um deles:

  • Coronelismo: o domínio das oligarquias se manifestava por meio dos coronéis, figuras que dominavam determinada região com base no seu poder econômico e na violência. Eram os coronéis que sustentavam os arranjos políticos e eram figuras fundamentais na manipulação das eleições.

  • Clientelismo: o sistema de favores que existia na Primeira República. Esse sistema se estendia em todos os níveis da sociedade brasileira, sendo uma maneira de sustentar o poder dos coronéis e da oligarquia, garantindo uma rede de apoios corruptos na sociedade.

  • Mandonismo: é o poder autoritário que os coronéis exerciam para dominar a sociedade.

A Primeira República, além disso, ficou marcada pela ausência de democracia, com eleições fraudadas pelas oligarquias. Além das fraudes e do autoritarismo das autoridades nesse período, a Primeira República era marcada por arranjos políticos que eram fundamentais para o sistema político brasileiro.

Nesse caso, estamos falando da política dos governadores e da política do café com leite. A política dos governadores foi implantada durante o governo de Campos Sales (1898-1902) e consistia em um acordo do governo federal com as oligarquias dominantes de cada estado, usando-as para eleger aliados do governo.

Para o funcionamento da política dos governadores, o coronel era figura fundamental, pois era ele quem garantia a manipulação das eleições para eleger os candidatos do governo federal. Por outro lado, o governo dava a essas oligarquias estaduais carta livre para conduzir seus estados. Já a política do café com leite foi um acordo entre as oligarquias de São Paulo e Minas Gerais para tentar controlar a presidência entre candidatos dos dois estados.

Campos Sales, o presidente na ocasião da implantação da política dos governadores.

Períodos da República Velha

Os historiadores consideram que a República Velha pode ser organizada em duas fases:

  • República da Espada (1889-1894): anos iniciais desse período, nos quais a presidência foi ocupada por dois militares.

  • República Oligárquica (1894-1930): período no qual as oligarquias foram as forças dominantes da política brasileira.

Além disso, muitos historiadores entendem que a Primeira República pode ser dividida da seguinte maneira:

  • Consolidação (1889-1898): período no qual os arranjos políticos estavam se estabelecendo e o sistema republicano e a política oligárquica estavam se consolidando.

  • Auge (1898-1922): auge da política oligárquica durante a Primeira República.

  • Decadência (1922-1930): o domínio das oligarquias perdeu força e o número de dissidências aumentou consideravelmente.

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Presidentes da República Velha

Durante a Primeira República, esses foram os presidentes que governaram o Brasil:

  • Deodoro da Fonseca (1889–1891);

  • Floriano Peixoto (1891–1894);

  • Prudente de Morais (1894–1898);

  • Campos Sales (1898–1902);

  • Rodrigues Alves (1902–1906);

  • Afonso Pena (1906–1909);

  • Nilo Peçanha (1909–1910);

  • Hermes da Fonseca (1910–1914);

  • Venceslau Brás (1914–1918);

  • Delfim Moreira (1918–1919);

  • Epitácio Pessoa (1919–1922);

  • Artur Bernardes (1922–1926);

  • Washington Luís (1926–1930).

Revoluções da República Velha

Não houve revoluções durante a República Velha, mas os historiadores apontam que houve uma série de revoltas e eventos históricos importantes que demonstraram a insatisfação popular. Essa insatisfação era motivada pelo domínio violento das oligarquias, autoritarismo dos governos, desigualdade social, racismo, falta de oportunidades, etc.

Todos esses movimentos foram reprimidos violentamente pelas autoridades da Primeira República, demonstrando a postura autoritária dos governos brasileiros desse período. São exemplos:

  • Revolta da Armada (1891 e 1893-1894): dois levantes da Marinha brasileira realizados contra os governos de Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto.

  • Guerra de Canudos (1896-1897): conflito travado entre o governo brasileiro e um arraial de sertanejos no interior da Bahia chamado Canudos. Esse arraial foi formado por sertanejos e ex-escravos que queriam se livrar dos domínios dos coronéis, sendo liderados por um líder religioso chamado Antônio Conselheiro. O arraial foi destruído pelo Exército brasileiro.

  • Revolta da Vacina (1904): revolta popular que aconteceu em novembro de 1904 em oposição à campanha de vacinação obrigatória contra sarampo no Rio de Janeiro.

  • Revolta da Chibata (1910): revolta dos marinheiros que aconteceu na Baía de Guanabara. Na ocasião, os marinheiros estavam insatisfeitos com os castigos físicos na corporação e com o racismo que sofriam. Apontaram os navios para a cidade de Rio de Janeiro, mas chegaram a um acordo. O governo não cumpriu o acordo, punindo os marinheiros rebelados.

  • Guerra do Contestado (1912-1914): guerra que foi travada do governo brasileiro contra os seguidores de um líder religioso chamado José Maria. Esses sertanejos queriam ter acesso à terra em uma região contestada, isto é, disputada pelos estados do Paraná e Santa Catarina.

  • Greve Geral de 1917: greve geral de trabalhadores que aconteceu em São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Influenciado pelos ideais anarquistas e socialistas, esses trabalhadores lutavam contra os baixos salários e contra o custo de vida.

Ao longo da Primeira República, outros importantes acontecimentos e conflitos aconteceram, como a Revolução Federalista, o Levante do Forte de Copacabana, a Revolta Paulista de 1924, a Coluna Prestes e outros movimentos tenentistas que se opunham a Artur Bernardes e a política oligárquica.

Fim da República Velha

A década de 1920 marcou a decadência do domínio oligárquico com a crescente oposição aos arranjos que mantinham essas oligarquias no poder. O movimento tenentista é um importante caso de oposição ao domínio das oligarquias. Juntou-se a isso uma crescente dissidência das oligarquias que estavam fora do poder.

A eleição de 1930 foi o contexto em que se criou o cenário que resultou no final da República Velha. Em 1930, o Brasil era governado por Washington Luís, representante da oligarquia paulista e pelo acordo estabelecido na política do café com leite, ele deveria indicar um candidato mineiro à presidência.

O candidato em questão deveria ser Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, governador de Minas Gerais. Entretanto, o presidente indicou Júlio Prestes, outro membro da oligarquia paulista, frustrando o governador mineiro. Assim, a oligarquia mineira rompeu com São Paulo, juntando-se com outras oligarquias insatisfeitas com São Paulo, como a oligarquia gaúcha.

A união das oligarquias mineira, gaúcha e outras resultou na indicação de Getúlio Vargas para ser o candidato à presidência que concorreria com Júlio Prestes. A chapa de Vargas, chamada de Aliança Liberal, ainda recebeu como vice João Pessoa. Depois de uma extensa campanha, Júlio Prestes venceu com quase 60% dos votos.

Diversos membros da Aliança Liberal não aceitaram a derrota, passando a conspirar contra Washington Luís e o presidente eleito. Essa conspiração resultou em um levante armado que se iniciou em 3 de outubro de 1930 e se encerrou em 24 de outubro, quando Washington Luís foi deposto da presidência e Júlio Prestes foi impedido de assumir o cargo.

Um governo provisório se formou e Getúlio Vargas foi nomeado para ocupar o cargo provisoriamente. Encerrava-se então o período da Primeira República, iniciando-se a Era Vargas, período de quinze anos em que Vargas esteve no poder. Foi um período marcado pelas ações centralizadores do político gaúcho no poder. Vargas fez questão de tomar medidas que enfraqueceriam a influência das oligarquias na política brasileira.

Consequências da República Velha

Ao longo do seus mais de 40 anos, podem ser destacados como consequência da Primeira República:

  • desigualdade social;

  • economia agroexportadora dependente do café;

  • corrupção generalizada;

  • fraqueza institucional;

  • coronelismo;

  • autoritarismo e repressão dos movimentos sociais;

  • racismo, etc.

Mapa mental sobre a República Velha

Mapa mental sobre a República Velha. Créditos: Gabriel Franco | História do Mundo.

Exercícios sobre República Velha

Questão 01

Em 1904, a vacinação de varíola foi a solução encontrada pelo governo para combater as epidemias dessa doença na então capital do Brasil. Essa campanha foi liderada por qual sanitarista brasileiro:

a) Marechal Rondon.

b) Pereira Passos.

c) Rodrigues Alves.

d) Oswaldo Cruz.

e) Afonso Pena.

Resposta: Letra D.

Oswaldo Cruz foi um sanitarista e um dos maiores nomes da saúde pública no Brasil, sendo o responsável por combater diversas epidemias ao longo de nossa história. Em 1903, assumiu a Diretoria-Geral de Saúde Pública, liderando a campanha de vacinação contra a varíola no Rio de Janeiro no ano seguinte.

Questão 02

A respeito da Constituição de 1891, selecione a alternativa INCORRETA:

a) O cargo de presidente previa o direito de uma reeleição.

b) Essa constituição estabeleceu o presidencialismo como forma de governo.

c) Adotou o federalismo como sistema político.

d) Estabeleceu a divisão em três Poderes;

e) Estabeleceu o sufrágio universal masculino com algumas restrições.

Resposta: Letra A.

A Constituição de 1891 não concedia o direito à reeleição ao presidente, que poderia ter apenas um mandato com duração de quatro anos.

Fontes

FERREIRA, Jorge e DELGADO, Lucília de Almeida Neves (orgs.). O tempo do liberalismo oligárquico: da Proclamação da República à Revolução de 1930. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2018.

SCHWARCZ, Lilia Moritz e STARLING, Heloísa Murgel. Brasil: Uma Biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

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