Marcha para o oeste nos EUA

A marcha para o oeste nos EUA, no século XIX, foi um processo sistemático e violento de expansão e ocupação do território norte-americano pelos pioneiros estadunidenses.

Por Cassio Remus de Paula

Pintura retratando uma vila de pioneiros estabelecida na marcha para o oeste nos EUA.
Durante marcha para o oeste, os pioneiros estabeleciam novas vilas no território norte-americano.
Crédito da Imagem: Shutterstock.com
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A marcha para o oeste nos EUA foi um processo de expansão ocorrido no século XIX que tinha por objetivo consolidar a ascensão econômica do país como potência do continente americano. O pretexto utilizado para essa expansão foi a doutrina do Destino Manifesto, uma teoria determinista que defendia a ideia de que o território norte-americano havia sido destinado, por Deus, para ser ocupado pelos habitantes das antigas Treze Colônias.

Por meio de um processo sistemático, os pioneiros da expansão foram responsáveis pelo domínio e ocupação do território estadunidense desde suas fronteiras iniciais, ao leste, até o extremo oposto do continente, nas margens do Oceano Pacífico. Essa marcha ocorreu, principalmente, de maneira violenta e predatória, ocasionando o extermínio de milhões de indígenas, guerras, desmatamentos e a extinção de espécies animais, apesar de cumprir o seu objetivo: dominar o norte americano e levar, consigo, o “progresso” da civilidade.

Leia também: Guerra Civil Americana — como a questão da escravidão dividiu os EUA no século XIX

Resumo sobre marcha para o oeste nos EUA

  • A marcha para o oeste nos EUA foi um processo de expansão territorial que ocorreu no século XIX.
  • Seu objetivo era consolidar os Estados Unidos como uma potência do continente americano.
  • A doutrina do Destino Manifesto foi um pretexto usado para justificar a necessidade de ocupação do continente norte-americano por parte dos colonos estadunidenses.
  • Parte desta ocupação ocorreu por meio de negociações diplomáticas, incluindo a compra de estados e tratados com outros países.
  • Entretanto, a maior parte das ocupações ocorreu de maneira violenta, como por meio da Guerra Mexicano-Americana ou o extermínio dos povos nativos fixados em suas terras.
  • Os recursos naturais encontrados pela marcha foram extraídos sem sustentabilidade, acarretando o empobrecimento do solo, desmatamentos e a extinção de espécies animais.
  • Os principais recursos extraídos pelos pioneiros foram a madeira, o ouro, os alimentos e, mais tarde, o petróleo.
  • A expansão territorial norte-americana resultou na construção de uma complexa rede ferroviária, que, por sua vez, incentivou o transporte das riquezas extraídas e o fluxo de milhões de migrantes e imigrantes.
  • A marcha para o oeste alcançou o Oceano Pacífico, consolidando o recorte geopolítico semelhante ao dos atuais EUA.
  • Parte da marcha dos EUA sobre o continente veio a ser romantizada pelo mito do Velho Oeste.
  • Em combinação com a Doutrina Monroe, a marcha para o oeste nos EUA acabou por ascender o país como uma potência antes do final do século XIX.

O que foi a marcha para o oeste nos EUA?

A marcha para o oeste nos EUA foi um processo de expansão territorial norte-americano ocorrido no decorrer do século XIX. Sob o pretexto da doutrina do Destino Manifesto, os Estados Unidos financiaram o expansionismo de seu domínio até o Oceano Pacífico, exercendo genocídios de povos nativos e extraindo recursos naturais por onde passavam.

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Contexto histórico da marcha para o oeste nos EUA

No decorrer do século XIX, os Estados Unidos recebiam um intenso fluxo de imigrantes. Naquele contexto, cerca de 30 milhões de estrangeiros, principalmente europeus e asiáticos, desembarcaram na América do Norte, atraídos por motivos diversos, mas principalmente pela tendência de ascenderem economicamente.

Essa ascensão, promovida por, ao menos, sete presidentes dos EUA (entre os quais, Thomas Jefferson, James Monroe e James Polk), seria possível graças à exploração das riquezas do continente, ainda praticamente intocadas antes de sua expansão territorial.

Mapa dos 13 estados que constituíam os EUA antes da marcha para o oeste.
Originalmente, apenas 13 estados constituíam os EUA.

→ O Destino Manifesto 

Na segunda metade do século XVIII, os Estados Unidos eram compostos por treze estados que haviam adquirido a independência sobre a Inglaterra no ano de 1776. Com o reconhecimento da potência derrotada sobre a independência norte-americana, em 1783, por meio do Tratado de Paris, não demorou para que os governantes dos Estados Unidos procurassem pretextos para expandir o país para terras mais distantes.

O motivo mais convincente, para a época, consistia no Destino Manifesto, uma doutrina que acreditava que Deus havia fadado as ex-colônias estadunidenses a conquistarem o território norte-americano.

Essa doutrina foi inserida no imaginário do povo dos EUA, com insistência, por meio de jornais e instituições, facilitando o número de adeptos ao que viria a ser a marcha para o oeste no continente — ideia que seria constantemente elaborada e fundamentaria os pretextos imperialistas do país décadas mais tarde.

  • Videoaula sobre o Destino Manifesto 

→ A aquisição de territórios 

A princípio, a marcha para o oeste nos EUA ocorreu de maneira tímida e por meio de negociações com outros países colonialistas do norte-americano: em 1803, compraram da França o território de Louisiana.

Em 1819, o Tratado de Adams-Onís, assinado com a Espanha, proporcionou aos EUA o estado da Flórida; a principal “troca” oferecida pelos Estados Unidos foi o reconhecimento do território do Texas como parte do decadente Vice-Reino da Nova Espanha (com a garantia do local no norte americano, doravante, os espanhóis poderiam agora explorar suas colônias na América Central com maior segurança).

Em 1821, porém, o México adquiriu sua independência sobre a Espanha (um fato importante para a conclusão da marcha sobre o oeste, como veremos mais adiante). Em 1846, os EUA adquiriram também a região noroeste do atual país por meio de concessões da Inglaterra (que inclui os estados de Washington, Oregon, Idaho etc.), e mais além, em 1867, o Alasca foi comprado da Rússia.

Os demais domínios que definem o atual recorte geopolítico do país foram adquiridos por meios menos diplomáticos, como a Guerra Mexicano-Americana, travada entre os EUA e o recém-independente México.

→ A Guerra Mexicano-Americana 

No ano de 1836, o território do Texas havia se autodeclarado independente, principalmente por meio do incentivo de pecuaristas estadunidenses (que tinham concessão de trabalho, naquela região, por parte do Estado mexicano) e escravocratas que eram contra a abolição imposta pelo governo da ex-colônia espanhola.

Neste ínterim, tanto os EUA quanto o México tinham uma “interpretação” própria dos limites territoriais referentes ao Texas e, consigo, seus potenciais recursos econômicos. Aproveitando-se da ruptura do Texas com o México, os EUA anexaram o seu território (que também englobava parte do Novo México, Colorado, Kansas e outros), ocasionando uma declaração de guerra, por parte do governo mexicano, no ano de 1846.

Na pintura, um retrato da Batalha de Molino del Rey, travada entre EUA e México, no contexto da marcha para o oeste.
Na pintura, um retrato da Batalha de Molino del Rey, travada entre EUA e México, no contexto da marcha para o oeste.

Esse conflito foi uma das principais causas de expansão territorial norte-americana; por meio do Tratado de Guadalupe-Hidalgo, de 1848, o México perdeu cerca de 55% de seu território, cedendo espaço para o domínio dos EUA sobre os atuais estados da Califórnia, Arizona, Nevada, Utah e porções do Novo México, Colorado e Wyoming; na segunda metade do século XIX, a marcha para o oeste estava concluída — não sem o custo de milhares de vidas de povos nativos e a extração predatória de recursos da natureza, como veremos mais adiante.

Veja também: Marcha para o oeste no Brasil — uma política da Era Vargas

Quais os objetivos da marcha para o oeste nos EUA?

Na pintura, uma mulher vestida de branco representa o progresso guiando os pioneiros na marcha para o oeste, nos EUA.
Os EUA usaram o Destino Manifesto como pretexto moral para a expansão do país sobre as terras consideradas “incivilizadas”.

No decorrer do século XIX, a disseminação do positivismo incentivou a criação de diversos movimentos intelectuais, muitos dos quais com embasamento pseudocientífico, como a eugenia e o determinismo, que serviram de base para a doutrina norte-americana do Destino Manifesto. Por meio dessa doutrina, os EUA dispersaram a apologia de que o oeste norte-americano havia sido destinado ao seu povo, o que serviu de pretexto moral para a expansão do país sobre aquelas terras consideradas “incivilizadas” por conta dos povos nativos que a habitavam.

Um dos motivos mais realistas por trás do Destino Manifesto era a consolidação dos EUA como uma potência capaz de rivalizar com as grandes nações europeias e controlar, eles mesmos, os demais Estados consolidados no continente (algo estabelecido pela Doutrina Monroe, de 1823).

Ao mesmo tempo, a marcha consolidaria o reconhecimento de uma identidade norte-americana que superaria aquelas estipuladas pelas antigas Treze Colônias. Na prática, isso significava que os EUA não admitiriam nenhuma intervenção europeia em toda a América; entretanto, esse domínio deveria ser estabelecido por eles mesmos como reflexo do Destino Manifesto.

A fim de se alcançar uma postura de potência civilizada, o governo norte-americano estipulou diversos genocídios indígenas. Apesar da carência de fontes, estima-se que tais mortes tenham ultrapassado a casa dos milhões — ou até 80% de toda a população nativa norte-americana — apenas no decorrer da marcha, tanto por assassinatos em massa quanto por doenças. Para os EUA, esses extermínios eram consequências da “guerra justa”, que justificava o preço do progresso norte-americano.

Em contrapartida, os colonos estadunidenses e imigrantes, principalmente vindos da Europa, recebiam constante incentivo para dominar as áreas expropriadas e, com isso, incentivar sua economia. A extração de recursos, que serviu de incentivo inicial aos migrantes, ocorreu de forma predatória e não sustentável. Entre eles, citam-se a caça irrestrita (que levou à quase extinção dos milhões de bisões nativos) e a extração de madeira, carvão e minérios de cobre, prata e, principalmente, de ouro.

Na metade do século XIX, os EUA viveram o início da chamada Febre do Ouro, ou Corrida do Ouro, principalmente na região da Califórnia. A promessa de fortunas rápidas atraiu mais de 300 mil pessoas para o oeste do continente, aliviando a grande concentração populacional a leste do país, o que resultou na fundação de diversos vilarejos auríferos e no crescimento de importantes cidades californianas, como São Francisco e Sacramento. No final do século XIX, “cidades fantasma” surgiram no cenário norte-americano em decorrência do esgotamento do ouro.

Outro importante recurso foi explorado no oeste recém-dominado ao final do século XIX, consolidando os EUA como potência americana: as jazidas de petróleo.

Como foi a marcha para o oeste nos EUA?

A marcha para o oeste nos EUA consistia em um processo metódico de dominação territorial por meio de compras, tratados e guerras. O reconhecimento de terras a oeste era geralmente realizado por exploradores financiados pelo governo estadunidense (os mais notórios, nesse contexto, foram Meriwether Lewis e William Clark), que, consigo, levavam uma equipe que exercia ofícios diversos, como caçadores, mercadores e cartógrafos, muitas vezes já com suas famílias.

Doravante, os pioneiros migrantes estabeleciam novas vilas, geralmente protegidas por militares, que garantiam suas seguranças e deslocavam, forçadamente, os indígenas encontrados pelo caminho (muitos deles não aceitavam se submeter à expulsão de suas terras, oferecendo grande resistência aos invasores estadunidenses). As expansões demandavam o uso de novas trilhas, como a Trilha de Oregon, uma rota de quase 3,5 quilômetros que conectava o centro do norte americano ao extremo oeste.

Mapa de 1843 com rotas dos peregrinos da marcha para o oeste nos EUA.
Mapa de 1843 destaca rotas norte-americanas, com destaque para a Trilha de Oregon, ao centro.

A partir de 1862, sistematicamente, a lei Homestead Act, assinada pelo presidente Abraham Lincoln, concedia terras gratuitamente a migrantes e imigrantes comprometidos com a ocupação a oeste do país. O governo investiu grandes subsídios à construção de rotas ferroviárias, utilizadas para movimentar as riquezas e o fluxo migratório por toda a extensão territorial.

O incentivo à construção das ferrovias chegou a superar os sistemas de transporte instaurados na Europa, permitindo que grandes empresas se beneficiassem da extração de recursos. Esse violento período, romantizado pelos filmes western, incentivou a criação do mito do Velho Oeste, de progresso e civilidade, contra a “selvageria” das terras nativas e seus ocupantes tradicionais.

Consequências da marcha para o oeste nos EUA

Pintura retratando homem branco atirando em um nativo norte-americano, em texto sobre marcha para o oeste nos EUA.
A marcha para o oeste resultou no extermínio de milhões de nativos norte-americanos.

As principais consequências da marcha para o oeste nos EUA foram:

  • A expansão territorial dos EUA para quase o triplo do tamanho das Treze Colônias originais;
  • A atração de 30 milhões de imigrantes, principalmente europeus e asiáticos;
  • A Guerra Mexicano-Americana, que resultou na perda de cerca de 55% do território do México;
  • O crescimento econômico baseado na mineração, madeira, petróleo, agropecuária e outros bens;
  • A instalação de um eficiente sistema ferroviário por todo o país, que levou o “progresso” até a costa norte-americana do Pacífico;
  • O extermínio de milhões de nativos norte-americanos (cerca de 80% de sua população);
  • A aprovação de leis xenofóbicas contra não europeus (Lei de Naturalização, Lei de Exclusão Chinesa, Lei de Remoção Indígena etc.)
  • A destruição da fauna e flora, resultando no empobrecimento do solo, na poluição e na extinção ou quase extinção de espécies animais (o bisão-americano, por exemplo, caiu de 50 milhões para mil espécimes no século XIX);
  • O mito do Velho Oeste, que romantizou a violência praticada durante a expansão dos EUA;
  • O estabelecimento dos EUA como potência americana e suas eventuais incursões e influências sobre todo o continente.

Saiba mais: Como foi o processo de independência da América Espanhola

Exercícios sobre marcha para o oeste nos EUA

1. (Fuvest-SP) “A ideia de ocupação do continente pelo povo americano teve também raízes populares, no senso comum e também em fundamentos religiosos. O sonho de estender o princípio da “união” até o Pacífico foi chamado de ‘Destino Manifesto’”. Nancy Priscilla S. Naro. A formação dos Estados Unidos. São Paulo: Atual, 1986. p. 19.

A concepção de “Destino Manifesto”, cunhada nos Estados Unidos da década de 1840:

a) difundiu a ideia de que os norte-americanos eram um povo eleito e contribuiu para justificar o desbravamento de fronteiras e a expansão em direção ao Oeste.

b) tinha origem na doutrina judaica e enfatizava que os homens deviam temer a Deus e respeitar a todos os semelhantes, independentemente de sua etnia ou posição social.

c) baseava-se no princípio do multiculturalismo e impediu a propagação de projetos ou ideologias racistas no Sul e no Norte dos Estados Unidos.

d) derivou de princípios calvinistas e rejeitava a valorização do individualismo e do aventureirismo nas campanhas militares de conquista territorial, privilegiando as ações coordenadas pelo Estado.

e) defendia a necessidade de se preservar a natureza e impediu o prosseguimento das guerras contra indígenas, na conquista do Centro e do Oeste do território norte-americano.

Resposta: A

O Destino Manifesto foi uma doutrina determinista que disseminava a ideia de que Deus havia escolhido a América do Norte para ser ocupada pelos estadunidenses.

2. (UEM-PR) Sobre a expansão territorial dos Estados Unidos da América ao longo do século XIX, assinale a(s) alternativa(s) correta(s).

01) A ocupação do Texas pelos Estados Unidos decorreu do abandono da região por parte do México, que, após sua independência, não teve interesse na ocupação efetiva daquele território.

02) Um dos resultados da expansão dos Estados Unidos para o oeste foi o extermínio de populações indígenas, porque os índios eram encarados como inimigos que impediam o avanço dos colonizadores.

04) A expansão norte-americana foi resultado de uma preocupação com a preservação ambiental, pois, antes da ocupação dos territórios, foram estabelecidas reservas para onde a população nativa deveria ser deslocada.

08) Um dos impulsos para o deslocamento de milhares de pessoas para a conquista do oeste foi dado pela descoberta de ouro na Califórnia.

16) A marcha para o oeste, um dos principais episódios da expansão territorial, conduziu os Estados Unidos a uma guerra contra a Espanha pelo controle do México.

Resposta: 10 (02+08)

A expansão territorial dos EUA para o oeste ocorreu de maneira violenta, por meio do extermínio de povos indígenas que impediam o progresso civilizatório dos pioneiros. Em meados do século XIX, a descoberta de minas auríferas no oeste norte-americano incentivou o fluxo de milhões de migrantes sob a promessa de rápido enriquecimento.

Fontes

BROWN, Dee. Bury my heart at Wounded Knee. Nova York: Holt, Rineart and Winston, 1971.

HINE, Robert V.; FARAGHER, John M. The American West: A New Interpretative History. New Haven: Yale University Press, 2000.

KARNAL, Leandro (Org). História dos Estados Unidos: Das origens ao século XX. São Paulo: Contexto, 2020.

PAUL, Heike. Agrarianism, Expansionism, and the Myth of the American West. The Myths That Made America: An Introduction to American Studies. Kentucky: University Press of Kentucky, p.3-27, 1968.

STELTER, Gilbert. The City and Westward Expansion. The Western Historical Quartertly. Oxford: Oxford University Press, v.4, n.2, p.187-202, 1973.

VANDENBROUCKE, Guillaume. The U.S. Westward Expansion. International Economic Review. Hoboken: Wiley, v.49, n.1, p.81-110, 2008.

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