Maio de 1968

Maio de 1968 ficou marcado na história do século XX como um mês da agitação estudantil. Os estudantes franceses estavam insatisfeitos com a sociedade e a educação.
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Maio de 1968 ficou marcado na história mundial como o mês em que estudantes demonstraram sua intenção de transformar o mundo. Influenciados por ideais anarquistas e marxistas, os estudantes franceses iniciaram protestos contra o sistema educacional francês e contra a sociedade capitalista da França. Contando com o apoio dos trabalhadores, esses jovens pararam a França e marcaram gerações de pessoas.

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Contexto

Os protestos de maio de 1968 foram o resultado de um mundo que estava em agitação. Acontecimentos marcantes contribuíam para a agitação popular em diferentes partes do mundo, e isso, de certa maneira, reforçou o desejo por mudanças na França, o que resultou num movimento estudantil.

Os Estados Unidos viam o país ser varrido por protestos contra a Guerra do Vietnã e passavam por transformações significativas no combate ao racismo; a Checoslováquia era agitada por um reformismo que procurava democratizar o socialismo no país; na Alemanha, protestos estudantis aconteciam em Berlim; e aqui no Brasil, lutava-se contra a ditadura.

Maio de 1968 mobilizou milhões de estudantes e trabalhadores em defesa de mudanças na sociedade francesa e influenciou gerações.
Maio de 1968 mobilizou milhões de estudantes e trabalhadores em defesa de mudanças na sociedade francesa e influenciou gerações.

Esses acontecimentos reforçavam a retórica inspirada nos ideais socialistas entre os estudantes franceses. Uma das correntes mais influentes naquele período era a maoista, e, desde 1966, a China passava pela Revolução Cultural, acontecimento em que Mao Tsé-Tung mobilizou os estudantes para defendê-lo sob o mote do combate às “velhas ideias”.

A Revolução Cultural foi de grande inspiração para os estudantes franceses, principalmente, porque, segundo o professor Michel Thiollent, ainda não se conheciam os excessos cometidos por Mao Tsé-Tung durante os 10 anos dessa revolução|1|.

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Causas para Maio de 1968

Embora as mobilizações estudantis tivessem sido influenciadas por acontecimentos globais, havia também problemas relacionados com a própria sociedade francesa que serviram de catalisadores. Havia insatisfações com o desemprego, que estava em crescimento na década de 1960, com o sistema educacional francês e com o governo de Charles De Gaulle.

Daniel Cohn-Bendit foi um dos estudantes que lideraram os protestos em Nanterre. Esses protestos serviram de estopim para Maio de 1968.[1]
Daniel Cohn-Bendit foi um dos estudantes que lideraram os protestos em Nanterre. Esses protestos serviram de estopim para Maio de 1968.[1]

As universidades francesas ainda funcionavam sob normas bastante conservadoras, e a expansão do número de vagas universitárias criou incertezas acerca das perspectivas de carreira no mercado de trabalho na França. A maioria dos professores era considerada muito reacionária e considerava-se que o ensino francês não conseguiria atender as demandas das novas gerações.

O aumento no número de estudantes na França possibilitou o fortalecimento do movimento estudantil, e protestos contra o sistema educacional francês já existiam desde, pelo menos, 1966. O estopim dos acontecimentos na França foi a prisão de seis estudantes que mobilizou cerca de 150 estudantes para um novo protesto.

Em março de 1968, estudantes decidiram ocupar o prédio da administração da Universidade de Paris em Nanterre, região metropolitana de Paris. Nesse momento nasceu o Mouvement du 22 Mars (Movimento de 22 de Março), sob a liderança de Daniel Cohn-Bendit, um estudante anarquista.

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Maio de 1968

O protesto dos estudantes em Nanterre foi encerrado após a chegada da polícia, convocada pela própria administração de Nanterre. Novos protestos seguiram acontecendo nos meses de março e abril, e a ação policial era baseada na truculência, o que indignava os estudantes. Os protestos, no entanto, continuaram.

Em 2 de maio, a administração da universidade em Nanterre decidiu autorizar o fechamento do campus e ameaçou expulsar os estudantes que participavam dos protestos. No dia seguinte, 3 de maio, os estudantes de Nanterre começaram a contar com o apoio dos estudantes do campus da Universidade de Sorbonne, em Paris.

Milhares de estudantes da Sorbonne, em Paris, aderiram aos protestos de Maio de 1968.[2]
Milhares de estudantes da Sorbonne, em Paris, aderiram aos protestos de Maio de 1968.[2]

Nesse dia, os confrontos entre policiais e estudantes foram violentos. A polícia incendiava carros para incriminá-los e usava da violência para dispersá-los, e os estudantes responderam construindo barricadas para impedir o avanço policial e lançando paralelepípedos nas forças de polícia.

Novas pautas foram adicionadas às reivindicações estudantis, como o fim da separação de gêneros nos alojamentos, e a força do movimento cresceu porque a violência policial fez com que ele passasse a contar com o apoio de outras classes, principalmente a dos trabalhadores.

Os sindicatos decidiram convocar greve geral na França, e funcionários públicos, metalúrgicos, eletricistas, professores etc. decidiram aderir à paralisação. Estima-se que, nesse mês de maio, cerca de 10 milhões de trabalhadores estiveram em greve no território francês. Em muitos lugares, eles ocuparam as fábricas e assumiram o controle da produção.

A adesão dos trabalhadores aos protestos estudantis forçou o governo do presidente De Gaulle a negociar. Governo, representantes dos sindicatos e empresários sentaram-se à mesa para debater condições para que os trabalhadores voltassem ao trabalho. As negociações estenderam-se por todo o mês de maio, e, ao final, chegou-se aos Acordos de Grenelle.

Os trabalhadores ganharam uma série de benefícios, como aumentos salariais e redução na jornada de trabalho, e os sindicatos ganharam maior liberdade para organizar-se. Parte dos trabalhadores decidiu retomar os trabalhos, mas outra parte considerou que as concessões realizadas não eram suficientes. Charles De Gaulle decidiu usar a violência policial contra os trabalhadores.

Enquanto o governo negociava com os trabalhadores, os estudantes seguiam firmes na sua mobilização. Dezenas de barricadas foram construídas nas ruas de Paris, e os estudantes, além dos protestos, engajaram-se em produzir cartazes que manifestavam suas intenções e insatisfações. Mensagens contra o capitalismo e contra o governo De Gaulle eram comuns. Uma das expressões mais populares desse período foi “é proibido proibir”, uma mensagem clara contra os padrões da sociedade francesa, enxergados pelos estudantes como conservadores.

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Fim dos protestos

O ímpeto dos protestos seguiu-se durante o mês de maio, mas perderam força no final dele. A decisão de parte dos trabalhadores de retornarem ao trabalho também enfraqueceu a mobilização. A repressão de De Gaulle e uma reação conservadora de parte da sociedade francesa também foram fatores que desarticularam os estudantes.

Em 30 de maio de 1968, Charles De Gaulle anunciou que não renunciaria ao governo, como reivindicava os estudantes e que as medidas para ampliar a participação popular que ele havia anunciado dias antes seriam canceladas. Ele também ameaçou os trabalhadores a retornarem ao trabalho, ou seriam reprimidos pela polícia. Por fim, ele convocou eleições legislativas para junho.

Em meados de junho, os 10 milhões de trabalhadores em greve tornaram-se apenas 150 mil. O ímpeto revolucionário dos estudantes também perdeu força, e a normalidade foi retomada nas ruas parisienses. As eleições de junho aconteceram, e o partido de Charles De Gaulle saiu fortalecido.

Maio de 1968 tornou-se um símbolo da mobilização estudantil e influenciou gerações no mundo, mas, no final, não foi a revolução que muitos enxergavam, principalmente porque não houve apoio político consistente para as causas estudantis.

Nota

|1| THIOLLENT, Michel. Maio de 1968 em Paris: testemunho de um estudante. Para acessar, clique aqui.

Créditos das imagens

[1] Iembi e Shutterstock

[2] 360b e Shutterstock

Por Daniel Neves Silva