Batalha das Ardenas

A Batalha das Ardenas, ocorrida entre dezembro de 1944 e janeiro de 1945, foi a última grande chance de a Alemanha reverter o curso da guerra.

Por Cassio Remus de Paula

Tropas alemãs passando por veículos aliados destruídos durante a Batalha das Ardenas.[1]
Tropas alemãs passando por veículos aliados destruídos durante a Batalha das Ardenas.[1]
Crédito da Imagem: Shutterstock.com
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A Batalha das Ardenas foi o último grande confronto travado entre as forças alemãs e aliadas sobre o front ocidental na Segunda Guerra Mundial. Resultado de uma incursão nazista sobre tropas norte-americanas estacionadas na Bélgica ao final de 1944, a batalha foi a última grande tentativa de Hitler em deter seus inimigos ocidentais, que, em decorrência do ataque, realizaram uma contraofensiva que auxiliaria no término da guerra na Europa em maio do ano seguinte.

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Resumo sobre a Batalha das Ardenas

  • A Batalha das Ardenas foi a última grande tentativa das forças alemãs de impedirem o avanço dos Aliados na frente ocidental no decorrer da Segunda Guerra Mundial.
  • A batalha, decorrente da Operação Wacht am Rein, resultou da tentativa de Hitler de alcançar o porto belga de Antuérpia, cuja incursão deveria dividir as forças aliadas em duas partes.
  • Caso a operação fosse bem-sucedida, Hitler estimava que seria possível negociar a paz com os Aliados ocidentais e derrotar os soviéticos, que se aproximavam da Alemanha.
  • Com cerca de 200 mil soldados e mil tanques, os três exércitos alemães utilizados na batalha acabaram sendo freados pelos Aliados, além de encontrarem desvantagens oriundas do clima e pesado fogo amigo.
  • O ataque alemão acabou gerando uma contraofensiva anglo-estadunidense, que, por sua vez, empurrou os nazistas de volta para o território da Alemanha.
  • Com a contraofensiva aliada originada nas Ardenas, os alemães sobre o território ocidental foram derrotados, acelerando o término da guerra na Europa, que foi finalmente decretado em maio de 1945.

O que foi a Batalha das Ardenas?

A Batalha das Ardenas (ou Batalha de Bulge, para os Aliados), ocorrida entre 16 de dezembro de 1944 e 25 de janeiro de 1945, foi um dos últimos e mais desafiadores confrontos travados entre os Aliados do Ocidente e a Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial. O confronto, ocorrido na Floresta de Ardenas entre Bélgica e Luxemburgo, significou não apenas os últimos esforços dos nazistas sobre a posse do oeste europeu, como também a chance derradeira de os alemães impedirem o avanço dos Aliados na frente de batalha ocidental.

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Contexto histórico da Batalha das Ardenas

Graças ao sucesso da Operação Overlord — também conhecido como o “Dia D, ocorrido em 6 de junho de 1944 —, as forças aliadas ocidentais conseguiram estabelecer cabeças-de-ponte ao norte francês, na Normandia, para estipular um fluxo constante de milhões de combatentes e veículos e, com isso, derrotar as forças alemãs invasoras sobre a Europa Ocidental.

Até o final daquele mesmo ano, os norte-americanos, britânicos, canadenses e outros aliados travaram diversos combates de grande porte contra os alemães, com resultados relativamente positivos. Ainda em setembro de 1944, em operações conjuntas entre estadunidenses e a resistência francesa, Paris foi retomada, e, em dezembro, as últimas forças alemãs se retiraram do país, das quais grande parte foi realocada para as fronteiras da Alemanha, enquanto parte dos norte-americanos seguiu para a Bélgica.

Sherman Mark IV, tanque norte-americano usado na Batalha das Ardenas.
Apesar de tecnicamente inferiores aos Panzer alemães, os Sherman Mark IV norte-americanos protagonizaram a libertação dos Aliados em Bastogne.

Ao contrário do que se pode pensar, no entanto, não foram os Aliados que atacaram os alemães em Ardenas, mas o contrário: a Operação Wacht am Rein (“Vigília sobre o Reno”), mais tarde Herbstnebel (“Névoa de Outono”), consistia em concentrar um grande número de combatentes alemães para irromper as linhas aliadas estacionadas na cidade belga de Antuérpia e, com isso, dividir as forças inimigas em duas partes — mais ou menos como ocorrera no Fall Gelb (Plano Amarelo) em maio de 1940, quando a Alemanha invadiu a Bélgica, Luxemburgo e Holanda e conseguiu dividir em dois o contingente total de combatentes aliados. 

Se bem-sucedido, de acordo com Hitler, a Alemanha poderia entrar em acordo com os Estados Unidos e Grã-Bretanha para assinar uma paz à parte da União Soviética e, com isso, concentrar todo o seu contingente e as novas tecnologias bélicas alemãs contra os seus inimigos ao leste.

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Causas da Batalha das Ardenas

As causas da Batalha das Ardenas consistiam em concentrar um último esforço de Hitler contra os Aliados na frente ocidental da Europa. Devido à captura canadense da cidade portuária de Antuérpia, na Bélgica, em setembro de 1944, os Aliados poderiam contar com um melhor afluxo de suprimentos de combate e, com isso, acelerar o término da guerra no front a oeste.

O objetivo de Hitler era cortar o avanço norte-americano sobre a Bélgica por meio de uma Blitzkrieg (guerra-relâmpago) e isolar quatro exércitos Aliados (que compunham de 30% a 40% de seu efetivo) essenciais para a incursão anglo-estadunidense sobre a Alemanha. Doravante, por meio de negociações extraoficiais, Hitler poderia entrar em acordo com os Aliados e assegurar a paz no Ocidente.

Com isso, a Alemanha poderia concentrar seus esforços contra o seu maior inimigo: a União Soviética, que havia revertido a invasão alemã na cidade de Stalingrado em 1943.

Quais os objetivos da Batalha das Ardenas?

Os objetivos da Batalha das Ardenas, lançada pelos alemães sobre as tropas aliadas estacionadas na Bélgica, eram:

  • Enfraquecer quase irreversivelmente o contingente aliado por meio de uma Blitzkrieg bem concentrada, ou seja, por meio da combinação de rápidos ataques compostos por bombardeios aéreos, apoio blindado e avanço da infantaria.
Bombardeio da Royal Air Force britânica sobre a belga St. Vith em 26 de dezembro de 1944, no contexto da Batalha das Ardenas.
Bombardeio da Royal Air Force britânica sobre a belga St. Vith em 26 de dezembro de 1944, no contexto da Batalha das Ardenas.
  • Dividir as forças aliadas em duas partes a partir da retomada do porto de Antuérpia, cidade belga de grande importância estratégica, devido à possibilidade de um grande afluxo de suprimentos essenciais para a continuidade do combate e, doravante, cercar quatro exércitos essenciais para o avanço anglo-estadunidense sobre a Alemanha.
  • Negociar a paz com os Aliados do Ocidente para que o contingente de combatentes alemães pudesse ser realocado para o front oriental e, com isso, procurar impedir o contra-ataque soviético sobre a Alemanha.

Por sua vez, mesmo que Hitler obtivesse sucesso em sua operação, a probabilidade de um acordo entre os Aliados e a Alemanha era baixíssima. Os objetivos da Batalha das Ardenas apenas refletiam os delírios do ditador austro-alemão quanto a incursões milagrosas e o alcance de suas influências diplomáticas.

Como foi a Batalha das Ardenas?

A Batalha das Ardenas, ocorrida entre dezembro de 1944 e janeiro de 1945, foi travada na densa Floresta das Ardenas em pleno inverno europeu. No contexto, a derrota da Alemanha era praticamente inevitável, mas suas forças de combate eram ainda bastante ameaçadoras, pois constituídas pelo recém-formado 6º Exército Panzer (ao norte da incursão), sob comando do general da Waffen-SS, Josef “Sepp” Dietrich; pelo 5º Exército Panzer (ao centro), comandado por Hasso von Manteuffel; e pelo 7º Exército (ao sul), sob a liderança de Erich Brandenberger. Seus inimigos eram renomados veteranos, entre os quais se destacavam Dwight Eisenhower, George Patton e Bernard Montgomery.

Um abrigo antiaéreo norte-americano conservado da batalha na densa Floresta de Ardenas.[2]
Um abrigo antiaéreo norte-americano conservado da batalha na densa Floresta de Ardenas.[2]

Os três exércitos alemães deveriam cobrir uma área de 100 quilômetros de extensão por meio da força de mais de 200 mil soldados (algumas fontes apontam até 300 mil), apoiados inicialmente por mais de mil tanques, cuja vanguarda tinha como objetivo surpreender os cerca de 80 mil combatentes norte-americanos e seus 400 tanques. A Força Aérea contava com mais ou menos 800 bombardeiros e caças. De acordo com o Estado-Maior Alemão, o ataque tinha grandes chances de ser bem-sucedido, pois estimavam que os norte-americanos possuíam fracas defesas sobre a Bélgica.

Devido à pesada neblina, os alemães conseguiram se aproximar quase furtivamente dos Aliados, mas a alta densidade da floresta atrasou o avanço dos tanques. Ao Norte, Dietrich encontrou forte resistência norte-americana, conquistando pouco território em seu avanço; ao centro, Brandenberger tentou cercar seus inimigos em Bastogne, formando um bolsão — ou seja, isolando-os do contingente principal —, mas foi surpreendido por um violento contra-ataque, revertendo a situação quando receberam o apoio da 4ª Divisão Blindada norte-americana. Finalmente, ao sul, von Manteuffel não obteve verdadeiros avanços, já que seu principal objetivo era defender os flancos dos demais exércitos alemães.

Nesse ínterim, às vésperas do Natal, a névoa havia se dissipado em boa parte da floresta, tornando os alemães alvos fáceis para quase 5 mil aeronaves aliadas, com destaque para os caças-bombardeiros norte-americanos Republic P-47 Thunderbolt. A fim de não permitir que os alemães se reorganizassem para novas ofensivas, o alto-escalão aliado decidiu contra-atacar o inimigo.

Sabendo do contra-ataque estadunidense, no dia 1º de janeiro de 1945, Hitler lançou o último suspiro da operação em Ardenas, mas os alemães só conquistaram um avanço de 20 quilômetros. A maior vantagem obtida pelos alemães, no entanto, foi o relativo sucesso na Operação Bodenplatte (algo como “Placa de Base”), em que mais de mil aviões alemães bombardearam cerca de 300 aviões aliados estacionados sobre os aeródromos belgas e holandeses.

Acontece que, a médio e longo prazo, a operação foi desvantajosa, porque a Luftwaffe (Força Aérea alemã) perdeu quase a mesma quantidade de aeronaves, grande parte decorrente de “fogo amigo” — principalmente pelo fato de se tratar de uma operação de imenso segredo, sem o conhecimento das forças antiaéreas nazistas. Enquanto isso, os Aliados conseguiram recuperar seu efetivo aéreo em poucas semanas.

Sepp" Dietrich, comandante alemão durante a Batalha das Ardenas.
O comandante da Waffen-SS "Sepp" Dietrich (esq.) era altamente respeitado por seus subordinados.

Do final de dezembro ao início de janeiro, o contra-ataque aliado, composto por 34 divisões lideradas pelo general britânico Bernard Montgomery, obteve resultados mistos, mas finalmente se sobressaiu às forças alemãs principalmente graças ao apoio do 37º Batalhão de Tanques do 3º Exército comandado pelo general George Patton. Com a dissipação da neblina, o avanço aliado conseguiu derrotar milhares de alemães ao solo com sua força aérea.

A Batalha das Ardenas se encerrou oficialmente em 25 de janeiro de 1945, após a Alemanha perder cerca de 600 tanques (aproximadamente 40% do efetivo inicial) e quase 80 mil soldados — apesar de, por outro lado, a batalha custar quase a mesma quantidade de vidas para os Aliados. A vitória sobre os alemães nesse confronto reacendeu as ofensivas aliadas ao Ocidente, de forma que, entre fevereiro e março de 1945, as forças anglo-estadunidenses, principalmente, obtiveram importantes avanços, finalmente, em território alemão, rompendo finalmente com a última linha de defesa nazista estacionada às margens do rio Reno. Ao início de maio, encerrava-se a guerra na Europa, após a rendição incondicional da Alemanha.

Quais as consequências da Batalha das Ardenas?

As consequências da Batalha das Ardenas foram, principalmente:

  • Perdas irreparáveis para a Alemanha Nazista: A operação Wacht am Rein significou, para a Alemanha, a aposta final para a sobrevivência do III Reich no oeste europeu, ou seja, a ofensiva envolveu as últimas forças alemãs que representavam, ainda, alguma ameaça para os Aliados na frente de batalha ocidental. O fracasso na operação encerrou essa ameaça devido à forte resistência aliada e o sucesso de coordenação entre as divisões anglo-estadunidenses.
  • Retomada de iniciativa aliada: A contraofensiva aliada resultou no avanço anglo-estadunidense sobre os territórios ocupados pelos alemães, inclusive sobre a própria Alemanha. Até então, os exércitos aliados estavam estacionados sobre a Bélgica, a França e parte da Holanda, esperando cuidadosamente por estratégias de batalha que diminuíssem perdas humanas e materiais nos próximos avanços sob domínio alemão.
  • Término da guerra na Europa: Devido à derrota de três exércitos alemães na Batalha das Ardenas, Hitler não pôde direcionar todo o seu efetivo sobre os cada vez mais próximos soviéticos ao Leste Europeu. Como consequência, o Exército Vermelho chegou a Berlim no início de maio de 1945, forçando a rendição total dos nazistas.

Mortes na Batalha das Ardenas

Apesar de divergências nos números de fatalidades, dependendo da fonte histórica, estima-se que uma média de 80 mil soldados tenham sido mortos para cada força beligerante do combate.

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Exercícios sobre Batalha das Ardenas

1. Assinale a alternativa que melhor explica o motivo que levou a Alemanha a lançar a operação Wacht am Rein, responsável por incitar a Batalha das Ardenas:

a) Isolar exércitos aliados a partir da reconquista da cidade belga de Antuérpia e, com isso, forçar um tratado de paz com as forças anglo-estadunidenses.

b) Contornar as fortificações francesas da Linha Maginot por meio da Floresta das Ardenas e impedir as forças britânicas estacionadas na Holanda de socorrerem os seus aliados franceses.

c) Destruir as últimas forças aliadas no ocidente europeu, que haviam resistido às contraofensivas alemãs após o fracasso da Operação Overlord no “Dia D”.

d) Aliar-se aos Aliados ocidentais a fim de, juntos, combaterem os soviéticos na frente de batalha oriental.

Resposta: a) Isolar exércitos Aliados a partir da reconquista da cidade belga de Antuérpia, e com isso, forçar um tratado de paz com as forças anglo-estadunidenses. O principal objetivo de Hitler, com a incursão militar em Ardenas, era isolar parte das forças aliadas na Bélgica. Com esse isolamento, o ditador delirava em conquistar a paz com os seus inimigos do Ocidente a fim de transferir todas as forças alemãs sobre o oeste europeu para a frente de batalha ao leste, contra os soviéticos.

2. Considere as alternativas a seguir e assinale a que não condiz com uma das consequências da Batalha das Ardenas.

a) Perdas irreparáveis para o contingente alemão, constituídas em cerca de 80 mil combatentes, 600 tanques e 300 aeronaves.

b) Extensão da duração da guerra, decorrente das pesadas perdas de Aliados estacionados na Bélgica, cuja substituição do efetivo duraria cerca de seis meses.

c) O incentivo à contraofensiva aliada, incentivada pelas notáveis perdas alemãs decorrentes da batalha.

d) A aceleração no término da guerra, em decorrência da prematura destruição de forças alemãs enviadas ao front ocidental.

Resposta: b) Extensão da duração da guerra, decorrente das pesadas perdas de Aliados estacionados na Bélgica, cuja substituição do efetivo duraria cerca de seis meses. Ao contrário da afirmação, a duração da guerra foi encurtada em decorrência das pesadas perdas que as Forças Armadas alemãs sofreram com a batalha.

Créditos da imagem

[1] Everett Collection / Shutterstock

[2] Wikimedia Commons

Fontes:

BEEVOR, Antony. A Batalha das Ardenas: A cartada final de Hitler.

CARDONA, Gabriel; VITORIA Rodrigo D. Batalha das Ardenas: A última chance para a Wehrmacht. Coleção 70° aniversário da II Guerra Mundial. São Paulo: Abril Coleções, v.27, 2009.

FEST, Joachim. Hitler. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2017.

FLOWER, Desmond; REEVES, James (Orgs). The war: 1939-1945. Nova York: Da Capo, 1997.

GILBERT, Adrian; ADAMS, Simon; FARNDON, John, et al. O livro da Segunda Guerra Mundial. Rio de Janeiro: Globo Livros, 2024.

KERSHAW, Ian. Hitler. Londres: Penguin Books, 2009.

WEINBERG, Gerhard L. A world at arms: A global history of World War II. Cambridge: Cambridge University Press, 1994.

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