Crise dos Mísseis de Cuba

A Crise dos Mísseis de Cuba foi uma grave crise política entre Estados Unidos e União Soviética, em outubro de 1962, causada pela instalação de mísseis soviéticos em Cuba.

Por Jair Messias Ferreira Junior

Fotografia aérea feita pelos estadunidenses que iniciou a Crise dos Mísseis de Cuba.

A Crise dos Mísseis de Cuba foi uma grave crise diplomática entre os Estados Unidos e a União Soviética ocorrida entre 16 e 28 de outubro de 1962, no auge da Guerra Fria.

A crise se iniciou quando o presidente dos Estados Unidos, John F. Kennedy, foi informado de que mísseis nucleares soviéticos haviam sido instalados em Cuba, a pouco mais de 100 quilômetros do território estadunidense.

Durante treze dias, tensas negociações ocorreram entre os governos das duas superpotências da Guerra Fria. Para os historiadores, foi o momento no qual o mundo esteve mais perto de uma guerra nuclear.

A crise se encerrou com um acordo entre Estados Unidos e União Soviética em que os soviéticos retirariam suas ogivas nucleares de Cuba e os norte-americanos retirariam seus mísseis da Turquia e Itália.

Leia também: Comunismo — o que é realmente essa ideologia formulada por Marx e Engels?

Resumo sobre a Crise dos Mísseis de Cuba

  • A Crise dos Mísseis de Cuba foi um atrito diplomático entre Estados Unidos e União Soviética ocorrido em outubro de 1962.
  • Em 1959, após a Revolução Cubana, Cuba se tornou um país socialista e aliado da União Soviética.
  • Em 1961, os Estados Unidos apoiaram uma tentativa de invasão de Cuba com o objetivo de derrubar o governo de Fidel Castro.
  • No dia 14 de outubro de 1962, um avião norte-americano fotografou mísseis soviéticos em Cuba.
  • No dia 16 de outubro, o presidente dos Estados Unidos foi informado de mísseis nucleares em Cuba, o que iniciou a crise.
  • Durante 13 dias tensas negociações foram realizadas entre autoridades das duas superpotências da Guerra Fria.
  • Em 28 de outubro, um acordo foi estabelecido entre EUA e URSS, pondo fim à Crise dos Mísseis de Cuba.

Videoaula sobre a Crise dos Mísseis de Cuba

O que foi a Crise dos Mísseis de Cuba?

A Crise dos Mísseis de Cuba, chamada ainda de Crise do Caribe ou Crise de Outubro, foi uma grave crise política entre Estados Unidos e União Soviética ocorrida no contexto da Guerra Fria. É considerada um dos momentos mais críticos da Guerra Fria, porque nunca se esteve tão próximo de uma guerra nuclear.

A crise durou treze dias e envolveu tensas negociações entre as autoridades soviéticas e norte-americanas, encerrando-se com um acordo entre as duas superpotências.

Antecedentes históricos da Crise dos Mísseis de Cuba

A Crise dos Mísseis de Cuba ocorreu no contexto da Guerra Fria, disputa política-ideológica entre os Estados Unidos e a União Soviética.

Para a maioria dos historiadores, a Guerra Fria se iniciou em 1947 com o discurso de Harry Truman no Congresso dos Estados Unidos no qual ele declarou que o comunismo soviético era o novo inimigo do país. Em 1949, a União Soviética testou com sucesso sua primeira bomba nuclear, os comunistas conquistaram o poder na China e a Alemanha foi oficialmente dividida em duas.

No ano seguinte, eclodiu a Guerra da Coreia, na qual os Estados Unidos enviaram suas tropas para enfrentar tropas norte-coreanas e chinesas, além da força aérea soviética. Pela Teoria do Dominó, os Estados Unidos acreditavam que deveriam frear o avanço comunista na Coreia do Sul, evitando assim que outros países da região se tornassem aliados da União Soviética. A guerra terminou com um armistício e com as duas Coreias divididas em uma fronteira semelhante à do início da guerra, no Paralelo 38.

Em 1956, em Cuba, uma guerrilha comandada por Fidel Castro passou a lutar contra as tropas do ditador Fulgêncio Batista, antigo aliado do governo norte-americano. Em 1959, Fulgêncio fugiu de Cuba e os guerrilheiros de Fidel conquistaram o poder. Em pouco tempo, o novo governo se aliou à União Soviética, adotando o socialismo na ilha.

Preocupados com o comunismo a poucos quilômetros do seu território, os Estados Unidos treinaram cerca de 1200 cubanos exilados, com apoio da CIA e das forças armadas, para derrubar o governo de Fidel Castro em abril de 1961, na chamada Invasão da Baía dos Porcos. A tentativa de invasão foi rechaçada pelas tropas cubanas, que utilizaram armas soviéticas no combate. Foi nesse contexto de Guerra Fria e Revolução Cubana que a Crise dos Mísseis de Cuba ocorreu.

Fotografia de prisioneiros capturados pelos cubanos após a fracassada tentativa da Invasão da Baía dos Porcos.

Quais as causas da Crise dos Mísseis de Cuba?

A Invasão da Baía dos Porcos, ocorrida em abril de 1961, foi um dos motivos que levaram à Crise dos Mísseis de Cuba. Por meio da Operação Mangusto, os norte-americanos buscaram invadir o território cubano, assassinar Fidel Castro e derrubar o socialismo no país. Após três dias de combate, os invasores foram derrotados.

Preocupado com uma nova tentativa de invasão, Fidel Castro solicitou que mísseis nucleares soviéticos fossem enviados para Cuba, e seu pedido foi atendido por Nikita Khrushchev.

Outro motivo da Crise dos Mísseis de Cuba foi a instalação de mísseis norte-americanos em regiões próximas da URSS. No início da década de 1960, os Estados Unidos instalaram mísseis nucleares na Turquia e na Itália, o que desagradou ao governo soviético, uma vez que esses mísseis poderiam atingir seu território. Tendo como objetivo retirar os mísseis das proximidades do seu território, os soviéticos utilizaram os mísseis de Cuba como moeda de troca nas negociações com os norte-americanos.

Como aconteceu a Crise dos Mísseis de Cuba?

Em agosto de 1962, espiões norte-americanos em Cuba passaram a relatar movimentações de grandes caminhões soviéticos transportando cilindros cobertos por lona. Em setembro, aviões norte-americanos fotografaram a construção de estruturas em Cuba que se assemelhavam às bases soviéticas de lançamento de mísseis e, em 14 de outubro, o avião do major Richard Heyser tirou as fotografias que comprovaram que mísseis soviéticos estavam sendo instalados em Cuba.

Após ser avisado pelos militares da presença de mísseis nucleares soviéticos em Cuba, John F. Kennedy criou o EXCOMM, o Comitê Executivo do Conselho de Segurança Nacional, formado por comandantes militares, CIA e outros órgão federais. A principal função do conselho era informar o presidente e auxiliá-lo em suas decisões.

No dia 22 de outubro, Kennedy informou a situação para os líderes do Congresso e para líderes de países aliados, como Canadá, Inglaterra e França. Às 19h, Kennedy realizou um discurso televisionado para todo o país informando os norte-americanos sobre a crise e afirmando que qualquer míssil lançado de Cuba sobre qualquer nação americana seria considerado um ataque direto da União Soviética. Por fim, ele informou que um bloqueio naval temporário havia sido estabelecido para evitar que mais mísseis soviéticos chegassem à Cuba.

Negociações entre autoridades soviéticas e norte-americanas se iniciaram, envolvendo embaixadores e a troca de telegramas entre Kennedy e Khrushchev. O embaixador dos Estados Unidos na Turquia informou ao presidente norte-americano que a retirada dos mísseis da Turquia era uma das exigências soviéticas.

Em um telegrama enviado a Kennedy, Khrushchev afirmou que os navios soviéticos não levavam armas e que não respeitaria o bloqueio imposto. O líder soviético ainda exigia que os Estados Unidos retirassem seus mísseis da Itália e Turquia e que se comprometesse a não invadir Cuba.

Leia também: Revolução Chinesa — a ascensão dos comunistas ao poder na China

Crise dos Mísseis de Cuba e o “sábado negro”

O dia 27 de outubro foi o mais tenso da Crise dos Mísseis de Cuba e por isso foi chamado por autoridades dos Estados Unidos como “sábado negro”. Na manhã desse dia, um relatório informou a Kennedy que a maior parte dos mísseis em Cuba estava pronta para lançamento e que os militares cubanos estavam preparados para resistir a uma invasão dos Estados Unidos.

Em um pronunciamento a Rádio Moscou, às 9h, Khrushchev exigiu que os mísseis norte-americanos fossem retirados da Itália e Turquia, para que os soviéticos retirassem seus mísseis de Cuba. Por volta das 12h, um avião espião norte-americano em missão secreta, pilotado pelo major Rudolf Anderson, foi abatido sobre Cuba e o major morreu na queda da aeronave. A morte do oficial tornou mais tensas as negociações.

Ainda no dia 27, um submarino soviético B-59 perdeu a comunicação por rádio quando estava próximo de Cuba. Um navio norte-americano identificou o submarino e passou a jogar cargas de profundidade com o objetivo de advertir a tripulação soviética. Sem comunicação, parte dos tripulantes acreditava que a guerra havia começado.

Pelas normas soviéticas, os três militares de maior patente deveriam autorizar o uso das armas nucleares do submarino; dois militares, pensando estar em guerra, autorizaram. Apenas Vasili Alexandrovich Arkhipov foi contra, evitando assim uma guerra nuclear.

Logo depois a comunicação foi estabelecida com as autoridades soviéticas e os tripulantes foram informados de que a guerra não havia começado. Vasili Alexandrovich Arkhipov é considerado o homem que salvou o mundo de uma guerra nuclear.

Após 13 dias de tensas negociações, um acordo foi estabelecido entre norte-americanos e soviéticos. Os mísseis instalados na Turquia e Itália foram retirados pelos Estados Unidos, assim como os mísseis soviéticos foram retirados de Cuba. Kennedy ainda prometeu às autoridades soviéticas que não tentaria invadir Cuba outra vez.

Crise dos Mísseis de Cuba e o Brasil

O Brasil, na época governado por João Goulart, participou das negociações durante a Crise dos Mísseis de Cuba, com o presidente brasileiro negociando diretamente com autoridades cubanas. Após receber um telegrama de Kennedy solicitando apoio brasileiro à intervenção norte-americana, João Goulart respondeu que defendia a autodeterminação dos povos e a manutenção da paz no continente.

A crise ganhou destaque nos jornais nacionais e repercutiu na população brasileira, dividida politicamente entre esquerda e direita. Em Pernambuco, por exemplo, manifestações em defesa da autonomia de Cuba ocorreram, com apoio de Miguel Arraes; assim como manifestações de apoio aos Estados Unidos, lideradas por João Cleofas.

Quais as consequências da Crise dos Mísseis de Cuba?

A primeira consequência da Crise dos Mísseis de Cuba foi um tratado que selou a paz entre as duas superpotências da Guerra Fria, aceito por ambos em 28 de outubro de 1962. Pelo acordo, os soviéticos retiraram seus mísseis nucleares de Cuba e se comprometeriam a não enviar mais armas do tipo para o país. Os norte-americanos, por sua vez, retirariam seus mísseis da Itália e da Turquia e se comprometeriam a não intervir mais em Cuba.

Outra consequência da Crise dos Mísseis de Cuba foi a permanência do país caribenho na órbita da União Soviética, até o fim desta em 1991. Ainda hoje Cuba é um país socialista e sofre com o embargo econômico imposto pelos Estados Unidos durante o governo Kennedy.

Fontes

HASTINGS, Max. O abismo: a Crise dos mísseis de Cuba. Editora Dom Quixote, Porto Alegre, 2022.

MUNHOZ, Sidnei José. Guerra Fria: história e historiografia. Appris Editora, Curitiba, 2020.

KENNEDY, Robert F. 13 dias que abalaram o mundo. Citadel Editora, Porto Alegre, 2023.

Vídeoaulas