Crise de 1929

A Crise de 1929 foi uma crise econômica de grandes proporções que atingiu os Estados Unidos. Um de seus efeitos mais críticos foi a quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque.
“O mais alto padrão de vida do mundo”, diz o letreiro, contrastando com a fila de espera por suprimentos na Crise de 1929.
“O mais alto padrão de vida do mundo”, diz o letreiro, contrastando com a fila de espera por suprimentos na Crise de 1929.
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A Crise de 1929 foi uma crise econômica de grandes proporções, considerada um dos principais abalos ao capitalismo liberal da história. Causada pela superprodução da indústria dos EUA e pelo subconsumo dos mercados consumidores nos anos 1926-1929, teve efeitos desastrosos na economia mundial.

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Resumo sobre a Crise de 1929

  • A Crise de 1929 foi uma crise econômica de grandes proporções, considerada um dos principais abalos ao capitalismo liberal da história.
  • Seus antecedentes históricos foram o papel dos EUA na reconstrução da Europa do pós-Primeira Guerra e a expansão de sua indústria nesse contexto.
  • As causas da Crise de 1929 foram: a superprodução da indústria americana aliada ao subconsumo dos mercados consumidores, que, desde 1926, reduziam suas compras, situação acentuada em 1928 e 1929.
  • A quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque, em 29 de outubro de 1929, representou a falência de milhares de bancos e empresas e a perda de milhões de empregos.
  • A maior consequência da Crise de 1929 foi a Grande Depressão (1929-1932), materializada em falências de empresas e bancos, desemprego e crise nas produções industrial e agropecuária.
  • As consequências da Crise de 1929 para o Brasil foram a crise do café e a intervenção estatal para estabilizar os preços do produto no cenário mundial.

Videoaula sobre a Crise de 1929

O que foi a Crise de 1929?

A Crise de 1929 foi uma crise econômica de grandes proporções, considerada um dos principais abalos ao capitalismo liberal da história. Ocorrida nos Estados Unidos no contexto do final da década de 1920, portanto, no pós-Primeira Guerra Mundial, gerou efeitos que se alastraram por todo o mundo.

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Antecedentes históricos da Crise de 1929

Os antecedentes históricos da Crise de 1929 foram:

  • Os anos do pós-Primeira Guerra Mundial: os EUA estavam envolvidos na reconstrução da Europa por meio de investimentos e empréstimos às nações. Isso gerou uma expansão em sua produção industrial, chamada de superprodução.
  • A década de 1920, chamada de os Golden Twenties (os anos vinte dourados, em tradução livre): uma época de grande euforia econômica interna nos EUA, de muito consumo dos produtos industrializados, chamado também de superconsumo.
  • O American Way of Life (o modo de vida americano, em tradução livre): um conjunto de valores culturais que envolviam o consumismo e a valorização de novos e modernos produtos industriais. Essa mentalidade foi exportada para o mundo.

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Quais as causas da Crise de 1929?

As causas da Crise de 1929 foram diversas. Em primeiro lugar, é importante ter em mente que o contexto dos anos 1925 e 1926 foi determinante para a crise: os países europeus que estavam, desde 1918, em movimento de reconstrução encerraram esse processo e, portanto, passam a importar menos da indústria dos EUA e a depender menos de seus empréstimos. No entanto, a produção industrial estadunidense não diminuiu, o que gerou o subconsumo.

Em uma análise direta, a crise foi causada pela relação entre dois fatores antagônicos:

  • a superprodução, ou seja, a produção industrial elevada, que produz além do que o mercado normalmente quer comprar;
  • o subconsumo, ou seja, o consumo inferior ao normal, gerado por circunstâncias do contexto histórico específico.

Quebra da Bolsa de Nova Iorque

Multidão em frente à Bolsa de Valores de Nova Iorque, durante a Crise de 1929.
Multidão aglomerada em frente à Bolsa de Valores de Nova Iorque, em 29/10/1929, o dia mais importante da crise.

Desde os anos 1920, as grandes indústrias dos EUA tinham aberto seu capital e suas ações eram negociadas na Bolsa de Valores. Os altos índices de produção industrial e de consumo garantiram que o valor das ações fosse crescente. No entanto, nos anos 1928 e 1929, o preço das ações das indústrias começou a cair, devido à crescente produção e ao consumo em queda.

Ocorre que toda a economia do país estava atrelada ao mercado financeiro: bancos investiam seus recursos em ações, empresas investiam seus capitais em ações, pessoas comuns investiam suas economias em ações. Essa era uma forma relativamente fácil de multiplicar os lucros e, no contexto de uma economia em crescimento eufórico, fazia sentido.

Quando, porém, os países da Europa deixaram de comprar em grande escala dos EUA e passou a ocorrer o subconsumo, a produção industrial, para equilibrar a relação e evitar uma crise, deveria reduzir a produção. Contudo, reduzir a produção significaria a redução de emprego, de vendas e do preço das ações, parte central no esquema econômico do país, o que levou ao descarte dessa estratégia.

Assim, o problema não foi remediado e cresceu, até que, em junho de 1928, deram-se os primeiros sinais da crise: entre junho e novembro de 1929, a queda no preço das ações foi tamanha que levou bancos a emprestarem seis bilhões de dólares para as empresas, num esforço de artificialmente aumentar a produção, mesmo sem o mesmo aumento no consumo, o que, em tese, estabilizaria o valor das ações. A medida não obteve sucesso, e, até outubro de 1929, foram várias as tentativas de recuperar o valor de mercado das indústrias.

O cenário era temerário: gigantescos estoques, esgotamento de capitais para novos empréstimos e consumo em queda. Nesse contexto, chegou o mês de outubro de 1929, no qual, a partir da quinta-feira, dia 24 de outubro, o mercado de ações iniciou suas atividades e não obteve nenhuma ordem de compra.

Na prática, isso significou que o preço das ações caiu até o ponto de não ter valor algum, o que levaria as empresas à falência. No dia seguinte, sexta-feira, a Bolsa de Valores de Nova Iorque não abriu, para que fossem feitos novos arranjos e negociações para salvar as indústrias.

Em 28 de outubro de 1929, uma segunda-feira, novamente a bolsa iniciou seus trabalhos e nenhuma ação foi negociada, fenômeno que se repetiu no dia seguinte, o dia mais importante da crise, a terça-feira, 29 de outubro, na qual 33 milhões de ações foram postas à venda na bolsa, com procura nula. A consequência desse contexto foi a quebra da Bolsa de Nova Iorque.

Consequências da Crise de 1929 no mundo

Protestos de desempregados devido à falência de bancos durante a Crise de 1929.
Protestos de desempregados devido à falência de bancos durante a Crise de 1929.

Como consequências da Crise de 1929, pode-se apontar:

  • A falência de mais de 110 mil empresas e quatro mil bancos.
  • Mais de 13 milhões de pessoas desempregadas.
  • A ocorrência da Grande Depressão (1929-1932), marcada pelo declínio da produção, do poder aquisitivo, e pelo desemprego generalizado.
  • A Crise de 1929 foi internacionalizada, pois grande parte dos países do mundo investia na bolsa de Nova Iorque.
  • A União Soviética não foi afetada diretamente pela Crise de 1929, uma vez que sua economia era fechada ao mundo capitalista.

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Consequências da Crise de 1929 para o Brasil

O Brasil em 1929 vivia o fim da Primeira República, no último governo oligárquico da chamada república do café com leite: o do presidente Washington Luís, que governou de 1926 a 1930. Nessa época, o café era o centro da economia brasileira e o governo se esforçava para investir nos produtores e exportadores.

Com a quebra da Bolsa de Nova Iorque, as exportações de café caíram sensivelmente, sobretudo porque os EUA eram o maior comprador do café brasileiro. Com isso, para não reduzir drasticamente a produção nacional e reverberar a crise em solo brasileiro, o governo comprou toneladas de café e queimou, num esforço de manter os preços altos.

No entanto, essa manobra foi feita com dinheiro público, o que também acarretou prejuízos para o Brasil, que contraiu pesados empréstimos para viabilizar a compra das safras.

Exercícios resolvidos sobre a Crise de 1929

1. Leia o texto.

O dia 24 de outubro de 1929 marcou o início do que muitos historiadores consideram a pior crise econômica da história do capitalismo. Nesse dia, a Bolsa de Valores de Nova Iorque sofreu a maior baixa de sua história e, devido à centralidade dos Estados Unidos na economia mundial, a crise se espalhou para diversos países.

Entre os fatores causadores da crise destacaram-se:

A) a ascensão de regimes nazifascistas, com forte apelo nacionalista, na Itália e na Alemanha, e a aceleração do crescimento econômico do chamado Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).

B) o descompasso entre a produção e o consumo no mercado dos EUA, e a diminuição das exportações desse país para a Europa, o que gerou aumento dos estoques de produtos agrícolas e industrializados e a queda brusca do valor das ações das empresas no mercado financeiro.

C) o endividamento dos Estados Unidos, em consequência da devastação que o país sofreu na Primeira Guerra Mundial, e a falência da França e da Inglaterra, que deixaram de cumprir seus compromissos financeiros com a comunidade internacional.

D) a brusca desvalorização do dólar no mercado internacional, provocada pelo aumento do preço das commodities agrícolas dos países em desenvolvimento, e a política de substituição de importações, adotada pelas economias asiáticas.

E) as medidas protecionistas adotadas pela União Soviética, favorecendo as indústrias dos países do Leste Europeu, e as barreiras alfandegárias impostas aos produtos estadunidenses por parte dos integrantes da Zona do Euro.

Resposta: B. As causas da Crise de 1929 foram a queda no mercado consumidor de produtos americanos e a crescente expansão industrial dos EUA.

2. Leia o trecho:

Logo após a Primeira Guerra Mundial, a economia dos Estados Unidos tornou-se a mais poderosa do mundo. O progresso tecnológico do país favoreceu o crescimento da produção econômica, e a sociedade norte-americana vivia em clima de euforia. Essa época de glória da moderna sociedade industrial criou o chamado “american way of life”. Entretanto, em 1929 a economia dos Estados Unidos mergulhou numa terrível crise.

Adaptado de COTRIM, Gilberto. História Global - Brasil e geral. 8 ed.- São Paulo: Saraiva, 2005. p. 435

Sobre a Crise de 1929, é correto afirmar que:

A) A crise de 1929 não afetou a economia brasileira, que então apresentava grande desenvolvimento devido às exportações de café.

B) O American Way of Life melhorou o padrão de vida de todas as classes sociais, inclusive dos mais pobres. Esse processo só foi interrompido com a Crise de 1929.

C) Uma das características básicas do American Way of Life era o consumismo de automóveis e de eletrodomésticos, que ocorreu maciçamente, não apenas nos Estados Unidos mas também em países da América Latina, como o México, Brasil e Argentina.

D) A Crise de 1929 afetou apenas a população mais pobre, não atingindo os grandes empresários, cujos lucros não diminuíram.

E) Um fator que explica a Crise de 1929 foi a superprodução agrícola e industrial nos Estados Unidos, que ultrapassava as necessidades de compra dos mercados interno e externo.

Resposta: E. A Crise de 1929 foi causada pela superprodução industrial dos EUA e pelo subconsumo dos mercados consumidores.

Fontes

HOBSBAWN, Eric. A Era dos Extremos. São Paulo: Cia das Letras, 2009.

ROTHBARD, Murray. A Grande Depressão Americana. São Paulo: LVM, 2012.

Por Tiago Soares Campos

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