Domingo Sangrento

Domingo Sangrento aconteceu no dia 9 de janeiro de 1905 (no calendário juliano), e nele um massacre da população de São Petersburgo foi realizado pelas tropas russas.
Depois do Domingo Sangrento, a imagem de Nicolau diante da população russa ficou extremamente negativa.
Depois do Domingo Sangrento, a imagem de Nicolau diante da população russa ficou extremamente negativa.
Imprimir
Texto:
A+
A-

O Domingo Sangrento aconteceu no dia 9 de janeiro, no calendário juliano (22 de janeiro, no calendário gregoriano). Nesse acontecimento, a população de São Petersburgo fazia uma manifestação pacífica pedindo melhorias na vida dos trabalhadores e maior abertura do país. O resultado foi um massacre da população por parte das tropas que protegiam o palácio do imperador.

Acesse também: Rasputin, o monge louco da Rússia

Resumo sobre o Domingo Sangrento

  • O Domingo Sangrento foi um massacre da população russa, após ter realizado uma passeata em São Petersburgo, em janeiro de 1905.

  • A manifestação era pacífica e pedia melhorias para a vida dos trabalhadores e mais abertura política para o país.

  • A manifestação foi resultado de uma greve geral iniciada pela demissão de quatro trabalhadores operários.

  • Depois do Domingo Sangrento, o imperador passou a ser conhecido como Nicolau, o Sangrento.

  • A revolta causada pelo massacre motivou protestos que fizeram parte da Revolução de 1905.

Contexto histórico do Domingo Sangrento

O Domingo Sangrento foi um acontecimento marcante na história da Rússia, pois deu início a um período de maior tensão da população do país sobre o imperador Nicolau II. Para entendermos melhor esse acontecimento, é importante darmos uma pincelada sobre o contexto desse país no começo do século XX.

Primeiramente devemos começar pelo fato de que a Rússia, no começo do século XX, tinha uma monarquia conhecida como czarismo. Essa monarquia possuía algumas semelhanças com um modelo de monarquia absolutista, e os seus representantes faziam parte da dinastia Romanov, que estava no poder do país desde o século XVII.

Além disso, o czarismo mantinha um poder autocrático na Rússia, no qual não havia espaço para oposição, pois o governo usava da sua polícia política para perseguir os opositores do regime, além de não garantir certas liberdades, como a liberdade de imprensa. Nada melhor exemplifica a falta de liberdade política na Rússia do que a ausência de um Legislativo.

Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;)

Além do fato de ser um país autocrático, a Rússia também tinha grandes problemas econômicos. Sua industrialização foi tardia, e alguns polos industriais surgiram no país no final do século XIX. A industrialização russa não foi acompanhada de investimentos para o desenvolvimento agrícola do país, e, com isso, a produção agrícola era ineficiente.

Essa ineficiência agravava a situação da população pobre. O grosso da população russa era formado por trabalhadores operários e por camponeses, exatamente as maiores vítimas da desigualdade social do país. A fome, a pobreza e a miséria eram realidades muito comuns nessas camadas do país.

Nesse contexto de pobreza, miséria e autoritarismo, as ideias socialistas começaram a ganhar espaço por meio do Partido Operário Social-Democrata Russo, o POSDR. Inspirados nas ideias de Karl Marx, esse partido passou a aproximar-se do movimento operário e das classes populares do país. No seu interior, um dos grupos de atuação eram os bolcheviques, que defendiam uma revolução pela via armada.

Acesse também: Moscou, a maior cidade da Rússia

O que foi o Domingo Sangrento?

Como podemos perceber, a sociedade russa era complexa, e, apesar da relativa popularidade do imperador Nicolau II, a insatisfação já se fazia sentir. O ponto de partida para que o Domingo Sangrento ocorresse se deu no final de 1904, quando quatro trabalhadores foram demitidos de uma fábrica que ficava na cidade de São Petersburgo, então a capital do país.

Os trabalhadores demitidos faziam parte da Assembleia dos Operários Fabris Russos, uma associação de trabalhadores formada por ex-marxistas. As demissões, com justificativas não convincentes, incomodaram a classe dos operários de São Petersburgo. Inconformados, os trabalhadores convocaram uma greve geral que teve grande adesão dos operários da cidade.

Houve uma tentativa de negociação para que os trabalhadores demitidos fossem readmitidos, mas esses esforços não avançaram. O agitador que estava por trás da insatisfação dos trabalhadores era um padre ortodoxo chamado Gueorgui Gapon, o líder da Assembleia dos Operários Fabris Russos. Nesse contexto o padre decidiu liderar uma mobilização de trabalhadores pelas ruas da cidade.

  • A marcha

Foto do Palácio de Inverno, mais ao fundo, em São Petersburgo, na Rússia.
O Domingo Sangrento aconteceu quando a população de São Petersburgo realizou uma marcha pacífica até o Palácio de Inverno.

A marcha convocada por Gapon aconteceu no dia 9 de janeiro de 1905, de acordo com o calendário juliano (no calendário gregoriano, em 22 de janeiro). A marcha foi convocada para acontecer nas ruas de São Petersburgo e tinha como destino final o Palácio de Inverno, residência do imperador Nicolau II.

Ao final dessa marcha, os representantes dos trabalhadores apresentariam uma petição para o imperador, propondo que ele desse início a algumas reformas na Rússia. Entre os pedidos estavam uma solicitação para aumento dos salários dos trabalhadores, a redução da jornada de trabalho, além de uma abertura política no país, com a promulgação de uma Constituição e a convocação de eleições livres.

A manifestação que acontecia nas ruas de São Petersburgo era pacífica, e muitos carregavam imagens de santos (a Rússia é um país majoritariamente ortodoxo). Além disso, muitos dos presentes eram defensores do imperador e traziam imagens de Nicolau II como forma de homenagem. Hinos patrióticos e canções religiosas eram cantados pelos presentes.

A reação do imperador foi a pior possível. Ele não compareceu para receber a petição dos trabalhadores e, além disso, autorizou que os soldados que faziam a guarda do palácio a abrissem fogo contra a população. O ataque das tropas russas contra os civis tornou a passeata um verdadeiro massacre, e a violência se espalhou pela cidade.

As estimativas sobre esse acontecimento são bastante desencontradas, mas fala-se que pelo menos 130 pessoas morreram. Outras estatísticas apontam que mais de 1000 pessoas podem ter morrido nesse dia. Acredita-se que a ação das tropas russas tenha sido proposital e que aconteceu com a permissão do imperador.

Acesse também: Guerra Civil Russa (198-1921) – causada pelo Exército Branco contra os bolcheviques

Consequências do Domingo Sangrento

O Domingo Sangrento foi um acontecimento que marcou a Rússia. A sociedade ficou chocada com a violência desnecessária, pois, como vimos, era uma manifestação pacífica e que contava com muitos apoiadores de Nicolau II. O imperador passou a ser mal visto, tido como um inimigo do povo, e chamado pela população de Nicolau, o Sangrento.

Além disso, o Domingo Sangrento serviu como estopim para que a insatisfação tomasse conta do país. Protestos se espalharam pelas grandes cidades russas em uma enorme demonstração de insatisfação popular. A revolta do povo levava em consideração a indignação pelo Domingo Sangrento, mas também por uma série de outros motivos, como:

  • Insatisfação com a pobreza;

  • Insatisfação com o autoritarismo da monarquia;

  • Insatisfação com a derrota na Guerra Russo-Japonesa.

Os protestos que aconteceram no país, em 1905, receberam o nome de Ensaio Geral e foram entendidos como uma espécie de demonstração do que estava por vir em 1917.

Por Daniel Neves Silva