A comunidade japonesa presente nos Estados Unidos sofreu forte preconceito a partir do início do século XX. O ataque japonês contra os EUA e a participação dos americanos na Segunda Guerra, aliados a uma forte histeria, levaram a uma perseguição a essa comunidade, que foi instalada em campos de concentração monitorados pelo exército americano.
Esses campos de concentração são chamados nos Estados Unidos de internment camps, o que em português significa “campos de internamento”. Esse termo é criticado por historiadores que consideram sua utilização como recurso para amenizar o impacto dos campos e uma forma de evitar o uso de concentration camps, que significa “campos de concentração” em português.
Preconceito contra a comunidade japonesa nos EUA
A sociedade norte-americana recebeu grande número de imigrantes que, na virada do século XIX para o XX, viram no continente americano uma chance de buscar melhores condições de vida. Um dos grandes grupos a migrarem para os Estados Unidos nesse contexto foram os japoneses. Como o Japão enfrentava mudanças radicais desde a Restauração Meiji, os Estados Unidos foram vistos como um local propício para a imigração.
Os japoneses que migraram para os Estados Unidos nesse momento concentraram-se no Havaí e na Costa Oeste por causa da proximidade geográfica e trabalhavam em diversas aéreas, principalmente em fazendas e em obras de construção das ferrovias. A comunidade japonesa cresceu rapidamente e, por volta da década de 1920, 111.010 japoneses e descendentes de japoneses viviam nos Estados Unidos|1|.
O crescimento dessa comunidade nos Estados Unidos levou ao surgimento de forte preconceito, localizado principalmente na Costa Oeste, com destaque para o Estado da Califórnia. Surgiram grupos comunitários que exigiam leis para implementar medidas descriminatórias (o que de fato acabou acontecendo). O resultado disso foi a proibição da entrada de novos imigrantes orientais nos Estados Unidos a partir de 1924.
Ataque a Pearl Harbor e a vida nos campos de concentração
Durante as décadas de 1920 e 1930, a relação entre Estados Unidos e Japão sofreu grande desgaste. Isso resultou no ataque japonês à base naval americana de Pearl Harbor no Havaí, no dia 7 de dezembro de 1941. A declaração de guerra americana ao Japão aconteceu no dia seguinte. Com o conflito entre essas duas nações, a comunidade japonesa passou sofrer intensa perseguição dentro dos Estados Unidos.
Os descendentes de japoneses, ou nipo-americanos, passaram a ser vistos de maneira estereotipada e sofreram as consequências de boatos infundados e acusações de colaboracionismo. A comunidade nipo-americana passou a ser acusada de espionagem e de preparar-se para apoiar a invasão do exército japonês na Costa Oeste. Os boatos eram infundados, e a inteligência americana sabia que não havia nenhum tipo de colaboracionismo presente na comunidade japonesa.
No entanto, por causa da pressão popular causada pela histeria da guerra, o governo americano, por ordem do presidente Franklin Delano Roosevelt, decretou a Ordem Executiva 9066 em 19 de fevereiro de 1942, permitindo que o exército aprisionasse cidadãos que representassem um risco para o esforço de guerra.
Isso iniciou um processo que resultou no aprisionamento de cerca de 120 mil nipo-americanos. Foram evacuados todos aqueles que possuíssem pelo menos 1/16 de ascendência japonesa. Esses americanos de origem japonesa foram obrigados a abandonar seus empregos e vender seus pertences (casas, carros etc.). Além disso, todos os pertences pessoais eram vasculhados pelo FBI, o Departamento Federal de Investigação dos EUA.
Inicialmente, essas pessoas foram colocadas em campos provisórios, enquanto os campos de concentração eram construídos. Foram construídos ao todo dez campos em diferentes estados americanos. A autoridade dos campos foi entregue a um departamento governamental chamado War Relocation Authority (WRA), que traduzido significa “Autoridade de Relocação de Guerra”.
A vida dos nipo-americanos nos campos foi dura, pois os alojamentos não foram projetados para suportar as variações climáticas de algumas regiões americanas. Além disso, havia pouca privacidade, pouco atendimento médico e quase nenhuma estrutura que tornasse a vida deles mais confortável.
Os campos foram construídos em locais isolados e eram bastante monitorados, possuindo cerca de arame farpado, torres altas de monitoramento e seguranças fortemente armados. Além disso, a WRA utilizava-se de antropólogos para aprender a manipular os internos e mantê-los sob controle para que rebeliões fossem evitadas.
Reconstrução
Com o fim da guerra, a autoridade do WRA sobre os campos perdeu validade, e o último campo foi oficialmente fechado no começo de 1946. Os nipo-americanos tiveram pouca ou, em muitos casos, nenhuma assistência do governo americano para reconstruir suas vidas e grande parte dos ex-prisioneiros nunca conseguiu recuperar o mesmo padrão de vida de antes da guerra.
Ao longo da década de 1950, uma série de grupos comunitários passou a lutar para defender os direitos da comunidade japonesa nos Estados Unidos, o que resultou em um pedido de desculpa formal dado pelo governo americano durante a presidência de Ronald Reagan, em 1988. Além disso, cada prisioneiro sobrevivente foi indenizado em cerca de 20 mil dólares pelo tempo que passou nos campos.
|1| VAN SANT, John E. Pacific Pioneers: Japanese Journeys to America and Hawaii, 1850-80. Urbana: University of Illinois Press, 2000, p. 3.