Cultura medieval

A cultura medieval contempla hábitos de quase um milênio. Por isso, é possível observar alguns aspectos comuns, como na ciência, na arquitetura e na culinária.
Pintura de uma cidade na Idade Média, um exemplo artístico da cultura medieval.

A cultura medieval foi aquela observada no período da Idade Média, uma cultura fortemente influenciada pela dominância da Igreja Católica em todos os seus aspectos. Apesar dessa influência religiosa, não se pode dizer que a Idade Média é a “Idade das Trevas”, como ela é comumente conhecida.

A ciência medieval, por exemplo, foi responsável por algumas descobertas importantes, além do invento de técnicas, sobretudo agrícolas. Já a filosofia medieval arriscava-se apenas a investigar possíveis conciliações entre dogmas religiosos e razão filosófica. Quanto à literatura, destaca-se o trovadorismo e suas cantigas de amor, de amigo, de escárnio e de maldizer.

Leia também: Feudalismo — o regime social, econômico e político que esteve vigente durante a Idade Média

Resumo sobre cultura medieval

  • A cultura medieval se deu em um contexto histórico de fim do Império Romano e ascensão do cristianismo.

  • Essa ascensão da Igreja Católica começou a se dar ainda em Roma, com o cristianismo tornando-se a religião oficial a partir de um decreto de Teodósio.

  • Devido a essa ascensão, a cultura medieval foi profundamente influenciada pela Igreja Católica em todos os seus aspectos.

  • No aspecto da educação medieval, alguns que não suportavam tal submissão dos saberes começaram a se organizar para continuarem os estudos. Essas organizações foram chamadas de universitas e deram origem às universidades.

  • A ciência medieval trouxe muitos avanços, entre descobertas científicas e desenvolvimento tecnológico. Pode-se citar o microscópio e o telescópio, além de diversas técnicas agrícolas.

  • A filosofia medieval era também controlada pela Igreja Católica. Assim, os filósofos da época se dedicavam a encontrar respostas a questões que envolvessem a alma, Deus e fé.

  • A literatura medieval caracterizou-se, principalmente, pelo trovadorismo.

  • A arquitetura medieval teve três grandes representantes: a bizantina, a romana e a gótica.

  • A culinária medieval era diferente para nobres e servos, porém o pão foi um alimento comum em quase um milênio e em todas as regiões e estamentos.

Contexto histórico da cultura medieval

A cultura medieval foi a cultura observada durante a Idade Média, um período histórico que vai desde o século IV até o século XV.

Toda essa grande era começou após a queda do Império Romano, em 476 d.C., e só foi encerrada com os turcos-otomanos, que tomaram Constantinopla, então capital do Império Bizantino, em 1453. Ou seja, a Idade Média durou quase um milênio.

Ascensão da Igreja Católica

A Igreja Católica estabeleceu-se na Europa no final do Império Romano, que se esfacelava em brigas internas. Quando a perseguição aos cristãos cessou, em 313, em acordo firmado por Constantino, então imperador de Roma, o catolicismo foi se espraiando. Depois, por meio de outro acordo, em 380, este assinado por Teodósio, tornou-se a religião oficial.

As ditas “heresias” começaram a ser perseguidas. Entre os povos germânicos, a Igreja ainda não era hegemônica, fato que só iniciou a partir da conversão do rei dos francos, Clóvis. O islamismo também se apresentava como um entrave, por isso foi combatido em “guerras santas”. Dessa maneira, a Igreja Católica permaneceu dominante durante os séculos V a XV, ou seja, durante toda a Idade Média.

Seu poder não era apenas religioso, mas também material, visto que muitos membros do clero se tornaram senhores feudais e eram proprietários de muitas terras. A Igreja também era quem ditava as ordens no mundo feudal, ou seja, acumulava, ainda, o exercício da justiça. Para saber mais sobre a ascensão da Igreja Católica nesse período, acesse: Estabelecimento da Igreja Católica na Idade Média.

Aspectos da cultura medieval

A cultura medieval possui alguns elementos em comum em seus vários aspectos, como a educação, a ciência, a filosofia, a literatura e a arquitetura. Por ter durado quase um milênio e acontecido em diversos locais, se difere de uma para outra localidade ou por data. Trataremos aqui das suas características gerais.

Representação de uma cozinha medieval.

Educação medieval

A educação na Idade Média era toda dominada pela Igreja. Muitas escolas chegavam a ser dentro de mosteiros — chamadas escolas monásticas — ou anexas a catedrais, e quem dava as aulas eram padres de ordens menores.

Não eram ensinadas muitas coisas, pois a Igreja temia que, com conhecimento em mãos, as pessoas poderiam passar a questioná-la. Assim, as disciplinas ensinadas (nomeadas se “sete artes liberais”) eram apenas: Gramática, Retórica, Aritmética, Lógica, Astronomia, Geografia e Música.

Para tentar impedir as limitações impostas pela Igreja, algumas pessoas começaram a se organizar em associações, compostas por estudantes e professores, chamadas universitas, que originaram a palavra “universidade” que conhecemos hoje.

Essas universitas foram, por sua vez, subdivididas em faculdades. Já naquele tempo eram eleitos os decanos que coordenavam cada uma delas. Havia também a figura do reitor, cargo máximo de uma universidade.

As aulas eram todas em latim, e a metodologia era expositiva e dialogada. Ou seja, os estudantes liam os textos previamente, o professor fazia seus comentários acerca dos textos em aula e os alunos poderiam discordar, concordar ou acrescentar informações. Tal método foi batizado de escolástica por São Tomás de Aquino e se espalhou por diversas outras universidades.

Ciência medieval

Durante muito tempo, houve um certo preconceito historiográfico em relação à Idade Média. Muitos e muitas a tratavam como a época do atraso e obscurantismo. No senso comum, ainda é comum que se diga, inclusive, o termo “Idade das Trevas”. Porém, tal atraso já foi contestado por meio de pesquisas históricas e evidências de que o período apresentou inovações tecnológicas e científicas.

Hoje, sabe-se que o microscópio e o telescópio, por exemplo, foram inventados na Idade Média, após a Peste Negra. O microscópio serviu para que se pudesse fazer testes laboratoriais sobre a enfermidade que assolara o continente e matara um terço da população. O telescópio serviu para fazer constatações, como as de Galileu Galilei (que o criou) sobre as crateras da Lua e sobre a Terra não ser o centro do Universo, por exemplo.

Outra criação importante do período foi a prensa móvel, já que por meio dela foi possível reproduzir a escrita sem ser necessário que pessoas passassem horas, dias e meses transcrevendo documentos, como faziam os monges copistas.

Há, ainda, técnicas agrícolas inventadas no período, como o uso do arado, e a invenção de itens de uso comum que vieram das ciências e tecnologia medievais, tais como óculos, relógio mecânico, catapultas, espelho, janelas de vidro (vindas dos vitrais), chaminés e moinhos.

Filosofia medieval

Devido ao total domínio da Igreja Católica sobre todos os aspectos na Idade Média, a filosofia desenvolvida no período tentava conciliar os dogmas com a razão filosófica. Basicamente, a filosofia medieval só ousava falar sobre questões relacionadas à influência de Deus, crenças, lógica e ética.

Buscava-se saber coisas como a natureza da alma humana, como ela existia, qual a relação entre a natureza e Deus e dele com Cristo, qual era a relação entre fé e razão e se existia hierarquia entre elas ou se a fé seria superior à razão. Esses temas ajudavam a explicar certos fenômenos aos fiéis, e muito desses religiosos eram também filósofos que tinham como objetivo conciliar razão científica com fé cristã.

Como estamos tratando de um período longuíssimo na história, de quase um milênio, é certo afirmar que a filosofia passou por diversas fases durante toda a Idade Média, a saber:

  • filosofia dos padres apostólicos;

  • filosofia dos padres apologistas;

  • patrística;

  • escolástica.

Os principais filósofos medievais foram:

  • Santo Agostinho;

  • Escoto de Erígena;

  • Santo Anselmo;

  • Abelardo;

  • Santo Alberto Magno;

  • São Tomás de Aquino;

  • Mestre Eckhart;

  • Duns Escoto;

  • Guilherme de Ockham;

  • Nicolau de Cusa.

â—¦ Videoaula sobre filosofia medieval

Literatura medieval

Após as Invasões Bárbaras em Roma — que fizeram com que houvesse fuga em massa para o campo, o que deu origem ao feudalismo —, a literatura ficou bastante prejudicada, porque sua circulação naquele ambiente em que as pessoas viviam mais afastadas umas das outras era dificultada. Além disso, eram poucos e poucas que sabiam ler. A escrita era toda em latim, e as temáticas eram ou religiosas ou amorosas.

Nos séculos XII a XIV, prevaleceu o trovadorismo, com suas cantigas trovadorescas ou provençais, que, por sua vez, eram divididas em líricas ou satíricas, sendo as primeiras as cantigas de amor e de amigo e as segundas de escárnio e de maldizer.

As de amor, como o nome diz, falavam sobre o amor romântico, com declarações à pessoa amada e, geralmente, rejeição desta. Já as de amigo eram feitas por homens, mas tinham o eu lírico feminino. As de escárnio eram irônicas e apresentavam críticas indiretas. Já as de maldizer difamavam diretamente e chegavam a ser ofensivas e grosseiras.

Arquitetura medieval

Uma característica fundamental sobre a arquitetura medieval, já que a sociedade era toda organizada em torno da Igreja e da fé, é que as construções foram profundamente influenciadas pelo teocentrismo. Ao longo de todo o tempo da Idade Média, a arquitetura também variou bastante, mas pode-se dizer que predominaram três estilos: bizantino, românico e gótico.

  • Arquitetura bizantina: foi aquela feita durante o Império Bizantino, que substituiu o Romano no início da Idade Média, e era caracterizada por pinturas sacras em madeira, mosaicos de vidro, além de ser tríptica (os interiores se dobravam sobre o meio).

  • Arquitetura românica: vigente do século X ao XII, fortemente influenciada pela romana antiga, era caracterizada por janelas pequenas e paredes robustas. Foi substituída pela gótica.

  • Arquitetura gótica: foi uma evolução da arquitetura românica e suas características são: verticalidade (edifícios longitudinais, fazendo com que os olhares se voltem para cima), abóbadas (construções em forma de arcos) ogivais (com dois lados iguais, formando um ângulo curvilíneo), gárgulas (partes salientes dos telhados que, nesse estilo, tinham formatos de monstros e aves) e vitrais.

Quanto às cidades medievais, pode-se perceber, além da arquitetura, alguns aspectos do urbanismo medieval, pois as cidades eram fortificadas por fora. No fim da Idade Média, essas cidades passaram a ser fora dos fortes, caracterizando os primeiros burgos, o surgimento da burguesia e a passagem para a Idade Moderna.

Veja também: Como era a fabricação dos vitrais na Idade Média?

Culinária medieval

A culinária medieval passou por alterações ao longo de quase um milênio e, também, de região para região. É possível apontar alguns elementos em comum, como o protagonismo do trigo e seus derivados. O pão, por exemplo, foi, durante todo esse tempo e em todos os lugares, um dos alimentos básicos. Massas e mingaus derivados de cereais também eram comuns.

Por sua vez, as carnes não eram tão comuns, principalmente para os pobres. Os nobres sempre as comiam — principalmente porco e aves —, mas servos, não. O tipo de alimentação apontava as distinções sociais. Para se alimentarem, junto aos pães e demais derivados de outros cereais, como a aveia, os mais pobres complementavam a dieta com legumes.

O pão e o vinho eram muito propagados por causa da Igreja Católica, dominante no período, que usava — e ainda usa — esses dois elementos culinários para o Sacramento da Eucaristia em todas as celebrações. A fé influenciava até nos períodos em que se podia comer alimentos específicos, pois, além da Quaresma — segundo a Bíblia, diz respeito aos 40 dias que Jesus passou no deserto jejuando —, eram estipulados ainda outros tipos de jejuns e podia-se comer apenas alguns alimentos (nada de origem animal, exceto peixes, por exemplo).

Atualmente, nós ainda comemos alguns pratos que eram típicos da culinária medieval, como o churrasco. Há pesquisadores, como Renato Toledo Amatuzzi, que apontam que, apesar do que sempre se acreditou sobre tal período, a cozinha na Idade Média apresentava muitas técnicas e qualidade nos ingredientes. Ele chega a chamá-la de época injustiçada|1|. Como pudemos perceber em ciências e inovação, esse preconceito também ocorreu.

Notas

|1| SCHIOCHET, Flávia. Do churrasco à pera ao vinho, os pratos da Idade Média que se comem ainda hoje. Gazeta do Povo. Disponível aqui.

Por Mariana de Oliveira Lopes Barbosa