Massacre de Katyn

A polícia secreta soviética, sob autorização de Stalin, decretou o fuzilamento de cerca de 22 mil prisioneiros poloneses no que ficou conhecido como Massacre de Katyn.
Memorial polonês, criado em 1995, em homenagem às vítimas do Massacre de Katyn *

O Massacre de Katyn foi um genocídio que ocorreu durante a Segunda Guerra Mundial. Foi realizado pela União Soviética contra prisioneiros poloneses e é um dos eventos pouco conhecidos da Segunda Guerra Mundial. Ao todo, cerca de 22 mil poloneses foram mortos. O massacre foi divulgado pelos nazistas em 1943 como propaganda contra a União Soviética e carrega o nome da floresta de Katyn em referência aos corpos que lá foram encontrados.

Invasão e divisão da Polônia

A Polônia foi um dos países que mais sofreram com a Segunda Guerra Mundial. Alemanha e União Soviética conspiraram contra a Polônia, o que resultou em um acordo chamado de Pacto Germano-soviético. O pacto, além de determinar que Alemanha e União Soviética permaneceriam em paz caso houvesse guerra na Europa, também estipulava a invasão e divisão da Polônia entre eles.

A invasão alemã iniciou-se em 1º de setembro de 1939, o que deu início à Segunda Guerra. Os exércitos poloneses foram rapidamente derrotados pelas tropas nazistas. A invasão soviética na Polônia consolidou-se em 17 de setembro de 1939. As tropas soviéticas alegaram que essa invasão foi uma missão de paz para garantir a segurança de minorias ucranianas e bielo-russas.

A partir daí, a Polônia deixou de existir. Parte do seu território foi ocupada pelos alemães e outra parte foi ocupada pelos soviéticos. Os soldados poloneses que estavam na parte invadida pela União Soviética foram prontamente rendidos e, em 1939, foi iniciado um processo de deportação de poloneses para campos de prisioneiros ou campos de trabalho forçado em diferentes partes da União Soviética.

Entre esses prisioneiros, estavam cerca de 15.000 oficiais do exército polonês, a maioria reservista. Os oficiais reservistas do exército polonês eram, em geral, políticos, cientistas, advogados, professores universitários – em resumo, a elite intelectual polonesa – e foram considerados um risco à União Soviética e, portanto, presos.

Massacre


Josef Stalin foi convencido por Lavrenti Beria a ordenar a execução dos prisioneiros poloneses **

Com a prisão da elite intelectual polonesa, a União Soviética colocou comunistas poloneses no poder dos novos territórios e começou a absorver os novos cidadãos, obrigando-os a aderir à cidadania soviética.

Os 15.000 oficiais poloneses foram agrupados em três campos de prisioneiros: Kozelsk, na Ucrânia, próximo à cidade de Smolensk, e Ostashkov e Starobilsk, localizados na Rússia soviética. Todos os três campos eram administrados pela NKVD (Narodniy komissariat vnutrennikh diel ou Comissariado do povo para assuntos internos, em português), a polícia secreta soviética.

O massacre foi idealizada pelo chefe da polícia secreta, Lavrenti Beria, que convenceu Stalin de que os prisioneiros eram membros de grupos contrarrevolucionários e, portanto, apresentavam um risco para o controle soviético na Polônia. Com a autorização de Stalin, Beria organizou um comitê especial, chamado de troika, para selecionar os prisioneiros que seriam condenados ao fuzilamento.

A seleção realizada pelo NKVD teve a seguinte estrutura:

  • 14.500 dos 15.000 oficiais foram condenados à morte;

  • 3 mil prisioneiros no oeste da Ucrânia;

  • 3 mil prisioneiros no oeste da Bielorrússia;

  • 1.305 outras pessoas que estavam livres e foram consideradas perigosas.

Somente 500 oficiais escaparam do fuzilamento e, segundo Timothy Snyder, “as exceções foram alguns agentes soviéticos, pessoas com antecedentes étnicos alemães e letões, e aqueles contando com a proteção estrangeira|1|.

Ao todo, foram mortos 21.892 prisioneiros poloneses, sendo:

  • 6.314 oficiais presos em Ostashkov;

  • 3.739 oficiais presos em Starobilsk;

  • 4.410 oficiais presos em Kozelsk;

  • 7.429 outros prisioneiros poloneses.

Os prisioneiros foram transportados em grupos pequenos para os locais correspondentes de suas execuções e foram mortos com tiros na nuca, sendo depois enterrados em valas comuns. Essas valas foram encontradas por tropas nazistas em 1943. Os nazistas convocaram inúmeros legistas, que exumaram os corpos e constataram as evidências de execução. O caso foi usado como propaganda pela Alemanha contra a União Soviética, que negou imediatamente a autoria do massacre.

Somente em 2010 a Rússia assumiu a responsabilidade soviética e de Stalin no massacre de Katyn após determinação do parlamento russo.

|1| SNYDER, Timothy. Terras de sangue. Rio de Janeiro: Record, 2012, p.177.

*Créditos da imagem: Marekusz e Shutterstock
**Créditos da imagem: Bissig e Shutterstock


Por Daniel Neves
Graduado em História

Por Daniel Neves Silva