Joana d’Arc

Joana d’Arc, camponesa que ficou marcada por liderar tropas francesas contra os ingleses na Guerra dos Cem Anos, foi executada na fogueira após ser condenada por bruxaria.
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Joana d’Arc foi uma camponesa francesa que ficou gravada na história do seu país por liderar tropas contra os ingleses durante a Guerra dos Cem Anos (1337-1453). A francesa alegava ter visões e ouvir vozes que falavam para ela ingressar na luta contra os ingleses. Após conquistar importantes vitórias para a França, foi capturada por aliados dos ingleses, levada a julgamento e condenada à morte na fogueira por bruxaria. Foi canonizada no começo do século XX.

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Origens

Joana d’Arc nasceu em Domrémy (atual Dorémy-la-Pucelle, na França) em 1412. A data correta do nascimento dela ainda é alvo de polêmica, haja vista a dificuldade de comprovação histórica, mas alguns acreditam que ela nasceu em 6 de janeiro. De toda forma, ela pertencia a uma família de camponeses. Seus pais se chamavam Jacques d’Arc e Isabelle Romée.

O casal de camponeses teve cinco filhos no total. Os quatro irmãos de Joana se chamavam Jacquemin, Jean, Pierre e Catherine. A criação dela foi muito católica, como era tradicional na França do século XV. Enquanto camponesa, começou cedo a trabalhar no cultivo das terras de seus pais.

Joana d’Arc ficou marcada na história francesa como aquela que mudou os rumos da França na Guerra dos Cem Anos.[1]
Joana d’Arc ficou marcada na história francesa como aquela que mudou os rumos da França na Guerra dos Cem Anos.[1]

Contexto histórico

Joana d’Arc nasceu no período em que a França travava uma guerra contra os ingleses pelo controle de terras e pelo trono francês. Essa era a Guerra dos Cem Anos, iniciada em 1337 e finalizada em 1453. Ao longo desse período, vários armísticios foram acordados entre as duas coroas.

O fato que iniciou o conflito foi uma disputa dinástica pelo trono francês. Em 1328, o rei francês Carlos IV faleceu sem deixar herdeiros diretos para ocupar o trono da França. Isso abriu a possibilidade para que outros parentes pudessem assumir o trono, e um deles era Eduardo III, rei da Inglaterra.

O rei da Inglaterra era parente de Carlos IV por ligação materna, mas seu interesse no trono francês não foi apoiado pela nobreza francesa, principalmente porque isso representaria o fim da autonomia francesa. Assim, os nobres da França rejeitaram a pretensão de Eduardo III por meio da Lei Sálica, uma lei que impedia que mulheres e seus descendentes assumissem o trono francês.

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Desse modo, outro monarca foi coroado rei da França: Filipe VI. Essa situação prejudicou mais ainda as relações entre Inglaterra e França, e o desgaste que se acumulou nos anos seguintes deu início à Guerra dos Cem Anos. O que estava em jogo eram as posses das terras na Europa Continental e o trono francês.

Essa guerra afetou a vida de muitos franceses, como Joana d’Arc, uma vez que trouxe destruição, doenças e fome. O vilarejo onde a família de Joana d’Arc residia era rodeado por domínios do ducado da Borgonha, aliado dos ingleses no conflito. Por essa razão, ataques inimigos eram comuns, e a vila de Joana d’Arc chegou a ser incendiada em uma ocasião.

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Joana d’Arc e a guerra

Foi nesse contexto que Joana d’Arc gravou seu nome na história. Desde os 13 anos de idade, ela alegava ouvir vozes e ter visões, as quais diziam que ela deveria ingressar na luta contra os ingleses e ajudar na coroação do rei francês, Carlos VII. Segundo a camponesa, as visões e vozes seriam de São Miguel, Santa Catarina de Alexandria e Santa Margarida de Antioquia.

Essas visões e vozes teriam permanecido à medida que Joana d’Arc envelhecia e ela se convenceu de que deveria se juntar ao esforço de guerra em defesa da França e de Carlos VII. Muitos historiadores atualmente procuram desvendar o mistério das visões e vozes que Joana d’Arc afirmava ver e ouvir e duas teorias circulantes apontam para esquizofrenia e epilepsia idiopática parcial.

De toda forma, não existe nenhuma comprovação se Joana d’Arc de fato sofria de algumas dessas doenças. O que importa mesmo é que, na década de 1420, a situação da França na guerra era desesperadora, uma vez que o país acumulava derrotas para os ingleses e o moral das tropas estava extremamente baixo.

A situação para Carlos VII se agravava mais ainda porque Reims, lugar onde historicamente os reis franceses eram coroados, estava nas mãos dos ingleses. Assim, Carlos VII se tornou rei da França em 1422, mas ainda não tinha sido coroado em Reims. Foi Joana d’Arc quem o ajudou a alcançar esse objetivo.

Aos 16 anos, Joana d’Arc procurou Robert de Baudricourt, um funcionário da coroa que trabalhava em Vaucouleurs. Lá ela permaneceu até conseguir convencer Robert a levá-la para Chinon, local onde Carlos VII se abrigava. Em Chinon, ela gostaria de encontrar o rei para apresentar a sua missão de salvar o Reino da França.

Depois de muita insistência, Baudricourt organizou os preparativos para que Joana d’Arc fosse enviada a Chinon. A viagem de Vaucouleurs até Chinon levava cerca de 11 dias e, antes de ir, Joana decidiu cortar os seus cabelos e utilizar vestimentas masculinas. Na ocasião, ela era uma adolescente de apenas 17 anos de idade e não tinha absolutamente nenhum conhecimento militar.

O encontro de Joana d’Arc com o rei aconteceu em 1429, em uma reunião privada. A grande surpresa desse encontro é que Joana d’Arc conseguiu tudo de que ela necessitava para ir à guerra contra os ingleses. A ela foram entregues armas, vestimentas e autorização do rei para comandar uma tropa com cerca de 7 mil homens.

Os historiadores teorizam o que pode ter acontecido para que Carlos VII tenha aceitado acreditar em Joana. Alguns falam que ela teria sido aprovada em um teste do rei francês no qual ele se disfarçou entre os seus nobres e pediu para que Joana d’Arc o identificasse, o que ela fez com sucesso. Outros historiadores, no entanto, apontam que o ato de Carlos VII de acreditar em uma camponesa jovem, analfabeta e que não dominava técnicas de combate era puro desespero.

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  • Batalha de Orleans

Credita-se a Joana d’Arc o mérito da vitória francesa na Batalha de Orleans.[2]
Credita-se a Joana d’Arc o mérito da vitória francesa na Batalha de Orleans.[2]

A primeira participação de Joana d’Arc na Guerra dos Cem Anos se deu em Orleans. Essa cidade francesa estava sitiada por tropas inglesas desde outubro de 1428. O objetivo do cerco era fazer com que a fome dizimasse a população de Orleans e tornasse a conquista dela mais fácil para os ingleses. Essa decisão também foi tomada porque os ingleses não tinham homens o suficiente para sustentar um ataque frontal.

Em 8 de maio de 1429, a tropa liderada por Joana d’Arc atacou as forças inglesas que cercavam Orleans. Antes disso, ela enviou uma carta ao rei inglês ordenando que ele se retirasse das terras francesas, mas, obviamente, ele não acatou o pedido. O ataque em Orleans foi a resposta e, depois de oito meses de cerco, a cidade francesa foi liberada, com milhares de soldados ingleses mortos.

Muitos historiadores dizem que Joana d’Arc não chegou a participar das batalhas propriamente e, portanto, nunca matou ninguém. Apesar disso, durante a batalha em Orleans, ela se feriu no pé e no peito. Joana d’Arc teria agido mais na preparação da estratégia de batalha e na motivação dos homens. Ela teve sucesso na missão de reforçar o moral dos soldados franceses, que, depois de anos de derrota, conseguiram uma grande vitória militar.

O comando de Joana d’Arc mostrou-se notável e o reforço no moral das tropas francesas trouxe outra vitória expressiva. As tropas lideradas por ela conseguiram conquistar Reims, cidade importantíssima para a monarquia francesa, como já vimos. Com isso, Carlos VII pôde ser oficialmente coroado nessa cidade. A cerimônia de coroação em Reims aconteceu em 17 de julho de 1429.

Captura e morte

O papel de Joana d’Arc, em liderar e elevar o moral das tropas francesas para conquistar duas vitórias expressivas, chamou a atenção dos ingleses. Assim, franceses aliados dos ingleses e os próprios ingleses organizaram-se para capturar a jovem. Isso aconteceu durante a Batalha de Compiègne.

Nessa ocasião, a maré de vitórias de Joana d’Arc tinha passado e ela tinha amargado algumas derrotas nos meses anteriores. Com a captura de Joana d’Arc, os ingleses iniciaram um processo que enumerou dezenas de acusações contra a francesa, das quais se destacam heresia e bruxaria. Joana d’Arc passou oito meses presa, e o rei francês não se moveu para salvá-la.

Em 1431, o julgamento de Joana d’Arc a sentenciou à morte na fogueira. Sua execução aconteceu em uma praça de Rouen, no dia 30 de maio de 1431. Sabe-se que, na ocasião, ela tinha 19 anos, pois ela manifestou ser essa a sua idade durante o julgamento. Joana d’Arc foi amarrada numa estaca de madeira e queimada viva. Conta-se que durante sua execução ela gritava por Jesus.

Anos depois, o julgamento de Joana d’Arc foi anulado pelo papa Calisto III, uma vez que ele considerou a francesa inocente da acusação de heresia e bruxaria. No começo do século XX, a Igreja Católica deu início ao processo de beatificação de Joana d’Arc e, em 1920, ela foi canonizada durante o pontificado de Bento XV.

Atualmente, Joana d’Arc é considerada padroeira da França e é uma das grandes heroínas da história do país. A importância de Joana d’Arc na cultura francesa é tamanha que há um dia dedicado a ela no país: 30 de maio, o Dia da Santa Joana d’Arc.

Créditos das imagens

[1] Cynthia Liang e Shutterstock

[2] Joaquin Ossorio Castillo e Shutterstock

Por Daniel Neves Silva

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