Guerra de Troia

A Guerra de Troia foi um suposto conflito entre gregos e troianos causado pelo rapto da esposa do rei de Esparta. Durou dez anos e terminou com o lendário Cavalo de Troia.
Cavalo de Troia utilizado no filme “Troia”, de 2004, uma produção cinematográfica sobre a Guerra de Troia.
O Cavalo de Troia é o principal símbolo da Guerra de Troia. Na imagem, o Cavalo de Troia utilizado no filme Troia, de 2004.
Imprimir
Texto:
A+
A-

A Guerra de Troia foi um suposto conflito que ocorreu entre gregos e troianos no final da Idade do Bronze. Ilíada e Odisseia, obras atribuídas a Homero, são as principais fontes da Antiguidade sobre a Guerra de Troia.

Após o “Julgamento de Páris”, onde o príncipe de Troia escolheu Afrodite como a mais bela deusa, ele raptou Helena, a esposa do rei de Esparta. O rei espartano era irmão do mais poderoso rei grego, Agamenon, o rei de Micenas. Ultrajados pelo rapto da rainha as cidades gregas se uniram e partiram para Troia, que se localizada no litoral mediterrâneo da atual Turquia. A cidade possuía uma grande muralha, que os gregos não conseguiram superar, e passaram a sitiar a cidade.

O cerco a Troia teria durado dez anos e só terminou quando os gregos colocaram em ação um ardiloso plano que contou como peça-chave um cavalo de madeira, que foi inserido na cidade de Troia com guerreiros gregos em seu interior. Os gregos venceram o conflito, destruindo Troia, massacrando a maior parte de sua população e escravizando os sobreviventes. Mas, ao contrário do que muita gente imagina, a Guerra de Troia pode não ter acontecido, e as obras homéricas podem ser apenas compilações de antigas lendas e mitos.

Leia também: Guerra do Peloponeso — uma das principais guerras travadas na Grécia Antiga

Resumo sobre a Guerra de Troia

  • A Guerra de Troia foi um suposto conflito entre gregos e troianos.
  • Ela foi travada entre os aqueus (um dos povos que formaram a Grécia), comandados por Agamenon, contra o exército de Troia, comandado pelo rei Príamo.
  • Participaram da Guerra de Troias diversos heróis gregos, como Aquiles, Eneias, Ajax, Helena, Páris, Heitor, Príamo e Odisseu.
  • A Guerra de Troia, segundo as obras homéricas, durou dez anos. Ela foi encerrada quando os gregos utilizaram o Cavalo de Troia.
  • Os soldados gregos escondidos no interior do cavalo abriram os portões da cidade para a invasão do exército grego.
  • A cidade de Troia foi destruída pelos gregos. Helena foi devolvida para Menelau e voltou a ser a rainha de Esparta. Em outra versão Helena morreu no exílio.
  • Eneias foi um dos poucos troianos que sobreviveram à guerra. Os romanos acreditavam ser descendentes de Eneias.

O que foi a Guerra de Troia?

A Guerra de Troia foi um suposto conflito entre gregos e troianos. Envolveu uma aliança de cidades-estados dos aqueus (um dos povos que formaram a Grécia) que lutaram contra o exército da cidade de Troia, localizada no litoral mediterrâneo da Turquia.

As obras de Homero e a tradição oral apontam o rapto de Helena, esposa do rei de Esparta, como o motivo que levou à guerra. Menelau, o rei espartano insultado pelo rapto da esposa, e seu irmão Agamenon, rei de Micenas, lideraram o exército aqueu.

Segundo a Odisseia, os gregos sitiaram a cidade de Troia por dez anos, sem conseguir transpor suas grandes muralhas. Odisseu, chamado pelos romanos de Ulisses, pensou em uma estratégia que utilizaria o Cavalo de Troia para conseguir a vitória.

O cavalo foi construído, alguns guerreiros gregos foram colocados dentro dele e ele foi dado de presente aos troianos. Estes levaram o cavalo para dentro da cidade e comemoram a vitória sobre os gregos. De madrugada os gregos desceram do cavalo, abriram os portões da cidade, que foi invadida pelo exército das cidades gregas.

Após a vitória os gregos promoveram um massacre na cidade, sobrando apenas mulheres e crianças que acabaram escravizadas. Segundo a tradição romana, Eneias conseguiu escapar do massacre junto com algumas pessoas. Eneias e seu grupo eram considerados pelos romanos os seus ancestrais.

Contexto histórico da Guerra de Troia

Há muitos debates entre arqueólogos, historiadores e outros especialistas sobre se a Guerra de Troia realmente existiu ou não. Também existem dúvidas sobre quando ela teria ocorrido, mas essas datas variam entre o século XIII a.C. e XII a.C.

A partir de 1600 a.C. os micênicos, que se autodenominavam aqueus, construíram uma grande civilização na região da atual Grécia, mantendo relações comerciais com regiões distantes como o Egito, o Levante e a Ásia Menor. As cidades micênicas eram defendidas por muralhas que podiam chegar a oito metros de altura. A principal cidade edificada por eles foi Micenas, que acabou nomeando a civilização.

O período no qual a Guerra de Troia pode ter ocorrido é conhecido como Período Homérico. Nele a civilização micênica entrou em decadência e suas cidades passaram a ser gradativamente abandonadas em um processo que é conhecido como ruralização.

No início do Período Homérico os gregos viviam em comunidades familiares, chamadas de genos, que eram geralmente governadas por um páter, responsável pelo controle da produção agrícola, pela justiça, religião e pela organização militar. A produção do genos era coletiva, assim com o uso das terras e das ferramentas e animais necessários para o trabalho.

No período no qual a Guerra de Troia pode ter ocorrido, segundo as pesquisas arqueológicas, houve redução no comércio entre as cidades gregas, assim como no comércio de longa distância. Também houve redução da população da região da Grécia, e as edificações, como templos e túmulos, se tornaram mais simples.  

Causas da Guerra de Troia

Homero atribui às intrigas dos deuses a origem da Guerra de Troia. Houve uma festa de casamento para a qual Éris, a deusa da discórdia, não foi convidada. Em um canto da festa três deusas conversavam, Hera, Afrodite e Atena. Éris apareceu sorrateiramente e lançou o “Pomo da Discórdia” entre as três deusas, uma maçã de ouro onde estava escrito “Para a mais bela”. O pomo causou discórdia entre as três deusas, e Zeus escolheu Páris, príncipe de Troia, para dar o veredito sobre qual deusa era a mais bela e que deveria ficar com a maçã.

Páris escolheu Afrodite, que em recompensa lhe prometeu a mulher mais bela de toda a Grécia. Em outra versão do mito Hera, enfurecida por não se a escolhida, lançou um feitiço sobre Páris e Helena, rainha de Esparta.

Ao visitar Esparta em uma missão diplomática, Páris raptou Helena, a esposa do rei Menelau. Helena era considerada a mulher mais bela de toda a Hélade. Páris a levou para Troia escondida em um barco. Ao saber do rapto da esposa, Menelau pediu auxílio a seu irmão, o rei Agamenon, de Micenas, então a cidade mais poderosa da Grécia.

Agamenon conclamou todas as cidades da Grécia a unirem forças para vencer os troianos. Odisseu, rei de Ítaca, tentou enganar os soldados de Agamenon para não ir à guerra, fingindo estar louco ao arar a areia da praia. Um general de Agamenon lançou na frente do arado o pequeno filho de Odisseu, Telêmaco, fazendo com que Odisseu parasse de arar, mostrando assim que era lúcido e que tentava enganar os espartanos.

Guerra de Troia na mitologia grega

A maior fonte para o estudo da Guerra de Troia são as duas obras de Homero, Ilíada e Odisseia. Ilíada narra o último ano da guerra dos gregos contra os troianos, o estratagema do cavalo de pau, o saque de Troia e a fuga de Eneias. Odisseia narra o retorno de Odisseu para Ítaca, após o fim Guerra de Troia. Por ter desagradado aos deuses e não ter reconhecido a ajuda que recebeu de Poseidon para seu plano do cavalo funcionar, Odisseu enfrentou diversas aventuras até voltar para casa. Entre as aventuras de Odisseia está a visita à ilha dos ciclopes, o encontro com Circe e com as sereias.

Também existem diversas outras fontes relacionadas à Guerra de Troia, mas todas elas produzidas após o período no qual a guerra aconteceu. A guerra foi representada diversas vezes no Período Clássico grego, assim como na República e Império Romano.

Para gregos e romanos, os próprios deuses atuaram na Guerra de Troia, com Atena, Poseidon, Hefesto, Hera e Tétis defendendo os gregos e Afrodite, Apolo, Ares e Zeus defendendo os troianos.

Aquiles e Ajax disputando uma partida, provavelmente de Cinco Linhas, durante uma pausa na Guerra de Troia.
Aquiles e Ajax disputando uma partida, provavelmente de Cinco Linhas, durante uma pausa na Guerra de Troia em vaso romano do século VI a.C. [1]

Aquiles é um dos semideuses que participaram da guerra. Com o corpo blindado por uma poção mágica, derrotou diversos adversários, entre eles o lendário príncipe de Troia, Heitor. Aquiles foi atingido por uma flecha envenenada de Páris, no único local onde seu corpo não era blindado, o calcanhar, morrendo na sequência.

Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;)

Outro herói que lutou na Guerra de Troia foi Ajax, descrito por Homero como enorme, forte e amedrontador. Ajax lutou com Heitor por um dia inteiro, sem que houvesse vencedor. Após a conquista de Troia ele teve um surto de fúria, matando um grande rebanho dos gregos. Ao perceber o que fez, Ajax cometeu suicídio.

Veja também: Homero — detalhes sobre o poeta épico grego que ficou conhecido por ter compilado a Ilíada e a Odisseia

Quem venceu a Guerra de Troia?

No décimo ano da Guerra de Troia, os gregos teriam construído um cavalo de madeira, dentro do qual foram escondidos alguns soldados. A ideia da construção teria sido de Odisseu, o rei da cidade de Ítaca.

Os troianos ignoraram o conselho do sacerdote Laocoonte, que desconfiou do presente deixado na praia pelos gregos. Os troianos levaram o cavalo para dentro de suas muralhas, enquanto o exército grego estava escondido atrás de uma colina próxima da cidade. 

Troianos levando o Cavalo de Troia para a cidade de Troia, situação que colaborou par o fim da Guerra de Troia.
Representação do momento em que os troianos estão trazendo o Cavalo de Troia para dentro das muralhas de Troia.

Durante a noite os troianos comemoram a vitória após o longo cerco. Os gregos que estavam no cavalo desceram e abriram os portões da cidade para a entrada do exército. A invasão pegou os troianos de surpresa e eles foram esmagados pelas tropas gregas. A cidade de Troia foi destruída e incendiada pelos invasores gregos, e os poucos sobreviventes derrotados se tornaram escravos.

Ainda hoje utilizamos dois termos no Brasil relacionados à Guerra de Troia: “presente de grego” e “cavalo de troia”. As duas expressões populares são usadas quando alguém recebe um presente que vai lhe prejudicar.

A Guerra de Troia é mito ou verdade?

Durante toda a Antiguidade as pessoas acreditavam que a Guerra de Troia, tal qual narrada nas obras de Homero, realmente ocorreu. Heródoto, conhecido como o pai da história, acreditava que a guerra ocorreu cerca de oito séculos antes da época na qual ele viveu, no século V a.C. Eratóstenes, um matemático, foi além e estabeleceu a data do conflito em 1184 a.C.

Os romanos acreditavam estar ligados diretamente à Guerra de Troia, sendo descendentes de um dos poucos sobreviventes do lado troiano, Eneias. Em Eneida, Virgílio chegou a descrever como se deu a fuga de Eneias da Troia invadida pelos gregos.

No início da década de 1870, o arqueólogo alemão Heinrich Schliemann encontrou um sítio arqueológico no Oeste da Turquia que ele acreditava ser a antiga Troia. Em 1873 ele encontrou no sítio arqueológico diversas moedas, um pequeno barco de ouro, algumas ânforas e urnas de ouro. Schliemann chamou o conjunto de Tesouro de Príamo, acreditando que ele pertencia ao lendário rei troiano.

Heinrich foi além – em 1874 escavou as ruínas da cidade de Micenas, encontrando o que ele achava ser os restos mortais do próprio Agamenon. Na sua época Heinrich Schliemann sofreu duras críticas da sociedade científica, que apontava que seus estudos eram uma fraude. Ele foi considerado o primeiro arqueólogo showman, e a divulgação dos seus achados atraia multidões.

Não existem fontes arqueológicas e históricas que comprovam que a Guerra de Troia realmente aconteceu. Muitos historiadores apontam que a Ilíada e a Odisseia são obras ficcionais e que possuem muitos erros históricos. A própria existência de Homero é questionada pela maioria dos historiadores. A Ilíada, por exemplo, se refere a acontecimentos da Era do Bronze, mas as roupas e armas descritas na obra são da Era do Ferro, ocorrida séculos depois de quando supostamente a Guerra de Troia teria ocorrido. O próprio Homero, se realmente existiu, viveu quase meio milênio após a Guerra de Troia.

Os historiadores destacam que a Guerra de Troia só aparece em fontes gregas e que não existem fontes escritas por outros povos sobre o conflito. Uma guerra tão longa deixaria diversas fontes. A Batalha de Cades, travada entre egípcios e hititas, muito antes do suposto período da Guerra de Troia, deixou várias fontes em todo o Mediterrâneo.

Guerra de Troia no cinema

A Guerra de Troia foi sucesso na indústria do entretenimento, isso desde a Grécia Antiga. A guerra foi retratada em diversas peças teatrais, em afrescos, em mosaicos, pinturas de vasos, e foi recitada por poetas e cantada por diversos artistas na Antiguidade grega e romana. No Renascimento esse interesse por Troia voltou e, no século XIX, com as escavações de Heinrich Schliemann, o tema se tornou mais uma vez popular.

No século XX, com a popularização do cinema, a Guerra de Troia sempre foi tema da sétima arte. O primeiro filme que teve como enredo a guerra foi Helena de Troia, de 1924. O filme foi dirigido por Manfred Noa, que, em 1931, gravou um novo filme sobre Troia, chamado de A Rainha de Esparta.

Durante todo o século XX dezenas de filmes sobre a Guerra de Troia foram produzidos, em diversos países do mundo. Os filmes com maior bilheteria foram Helena de Troia, de 1956, e A Odisseia, de 1997.

Em 2004 foi lançado o filme Troia, que contou com Brad Pitty no papel de Aquiles. O filme foi considerado um sucesso de bilheteria e arrecadou quase meio bilhão de dólares nos cinemas de todo o mundo.

Exercícios resolvidos sobre a Guerra de Troia

Questão 1

(Mackenzie) “Conta a história que, com a ajuda de Atena, Epeu construiu um grande cavalo de madeira, onde escondeu guerreiros. Ulisses ardilosamente introduziu-o em Troia para que os guerreiros a saqueassem.” Em sua obra, o autor transformou a luta pelo controle do estreito de Dardanelos (Helesponto) num conflito envolvendo deuses e heróis. A obra e o respectivo autor são:

A) A República - Platão.
B) Édipo Rei - Sófocles.
C) A Ilíada - Homero.
D) Os Sete Contra Tebas - Ésquilo.
E) A História da Guerra do Peloponeso - Tucídides.

Resolução:

Alternativa C.

Foi na Ilíada que Homero escreveu sobre o lendário cavalo de madeira que colocou fim à Guerra de Troia, que já durava dez anos.

Questão 2

(FMABC)

“A Ilíada e a Odisseia são, certamente, fruto de uma longa tradição oral em que os poetas (chamados aedos) declamavam os episódios da Guerra de Troia e as aventuras de Odisseu. Esses relatos eram cantados acompanhados por música, e passados de geração em geração, tendo sofrido muitas alterações e adaptações. Só mais tarde, cerca de 550 a.C., os poemas foram escritos pela primeira vez.”

Marcelo Rede. A Grécia antiga. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 16.

A partir do texto e de seus conhecimentos, pode-se afirmar que a Ilíada e a Odisseia são:

A) relatos que, à época, alimentavam a profunda rivalidade e os ininterruptos conflitos, hoje bastante estudados, entre gregos e troianos.

B) fonte importante para os historiadores, pois acumulam informações sobre diferentes épocas e sobre o funcionamento da sociedade grega.

C) registros sobre uma guerra decisiva, cuja precisão e veracidade podem ser confirmadas pela farta documentação hoje conhecida sobre Troia.

D) poemas interessantes, mas inúteis para os historiadores, pois suas informações não são verdadeiras e suas bases não são científicas.

Resolução:

Alternativa B

Odisseia e Ilíada, obras atribuídas a Homero, são importantes para o estudo da Grécia Antiga. As obras nos dão importantes pistas sobre a religiosidade grega, suas crenças, organização social, estratégias militares, entre muitos outros aspectos.

Crédito de imagem

[1] Ivan Moreno sl / Shutterstock

Fontes

CARTLEDGE, Paul. Grécia Antiga. Editora Ediouro, São Paulo, 2009.

FUNARI, Pedro Paulo. Grécia e Roma. Editora Contexto, São Paulo, 2011.

SILVA, Lorena Pantaleão da. Grécia e Roma e seus reflexos nos dias atuais. Editora InterSaberes, Paraná, 2017.

Por Jair Messias Ferreira Junior