Pangermanismo

Pangermanismo foi uma ideologia e um movimento que defendia que os povos de língua alemã deveriam viver em um mesmo território. A Liga Pangermânica foi sua principal difusora.
Militares alemães sendo saudados pela população austríaca de origem alemã, um exemplo do pangermanismo em prática.
Militares alemães sendo saudados pela população austríaca de origem alemã, na Áustria. Esse é um exemplo do pangermanismo em prática. [1]
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O pangermanismo foi uma ideologia e um movimento nacionalista que pretendia unir todos os povos falantes da língua alemã em um mesmo território e foi muito influente na política alemã entre a segunda metade do século XIX e o fim da Segunda Guerra Mundial. Foi durante as Guerras Napoleônicas que o pangermanismo se originou, ganhando muita força durante a chamada Unificação Alemã.

No final do século XIX foi fundada a Liga Pangermânica, formada por membros da elite econômica e política da Alemanha. No início de sua existência a liga pressionou o Império Alemão para expandir suas conquistas na África e na Ásia. A partir da década de 1910, a liga passou a defender que a Alemanha entrasse em guerra com a França.

Durante a Primeira Guerra Mundial, defendeu o uso irrestrito de submarinos contra qualquer embarcação da Tríplice Entente. Após o fim da Primeira Guerra Mundial, através de seus órgãos de comunicação em massa e influência na grande mídia alemã e no meio político, a liga aprofundou o discurso antissemita e a ideia de que os alemães faziam parte de uma raça superior. Também, defendia a deportação de poloneses e judeus e a eugenia, o que influenciou o nazismo e culminou na Segunda Guerra Mundial.

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Resumo sobre o pangermanismo

  • O pangermanismo foi uma ideologia e um movimento nacionalista que defendia que as pessoas que falavam língua alemã e possuíam a mesma cultura deveriam viver sob o mesmo Estado e governo.
  • O pangermanismo surgiu no início do século XIX e foi muito influente até o fim da Segunda Guerra Mundial.
  • Em 1891 foi fundada a Liga Pangermânica. Essa liga teve grande influência política na Alemanha e Áustria até a Segunda Guerra Mundial.
  • A liga defendeu o imperialismo alemão, a entrada da Alemanha na Primeira Guerra Mundial, teorias racistas e a eugenia, o que influenciou o nazismo e culminou na Segunda Guerra Mundial.
  • O pangermanismo foi um dos principais discursos adotados por Hitler para justificar a anexação da Áustria, da região dos Sudetos e a invasão da Polônia.
  • A Liga Pangermânica via na Primeira Guerra Mundial uma forma de colocar em prática o pangermanismo, com a Alemanha conquistando territórios habitados por grupos de origem alemã.

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Contexto histórico do pangermanismo

No início do século XIX, o território da atual Alemanha era formado por diversos reinos que falavam o alemão. Durante as Guerras Napoleônicas muitos desses reinos se uniram militarmente contra os franceses, e foi justamente nesse momento que se originou o pangermanismo.

Assim, tendo surgido no contexto de união militar entre os reinos que falavam alemão, o pangermanismo ganhou força na segunda metade do século XIX, durante o processo chamado de Unificação da Alemanha. Nesse processo, a Prússia, comandada pelo monarca Guilherme I e pelo chanceler Otto von Bismarck, dominou diversos reinos de língua alemã, formando em 1866 a Confederação da Alemanha do Norte. Em 1871, durante a Guerra Franco-Prussiana, os últimos reinos da região sul da Alemanha se integraram à Confederação da Alemanha do Norte, e foi fundado o Império Alemão em pleno Palácio de Versalhes. Ainda em 1871, Guilherme I foi coroado kaiser, ou seja, imperador alemão.

Após a vitória da Prússia sobre a França, se iniciou na Europa o período chamado Belle Époque. Esse período foi marcado pela segunda fase da Revolução Industrial, que aumentou drasticamente a capacidade de produção de mercadorias na Europa. A Belle Époque foi uma época de relativa paz e marcada por grande desenvolvimento econômico, científico e artístico. Por outro lado, o período também foi marcado pela competição entre os grandes impérios europeus, que disputavam colônias na África e na Ásia. Ainda, foi marcado pela política de alianças, por uma corrida armamentista, pelo nacionalismo exacerbado e pelo revanchismo francês, que desejava retomar a Alsácia e Lorena dos alemães. Durante a Belle Époque, que teve fim com a eclosão da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), o pangermanismo foi formalizado como movimento social com a criação da Liga Pangermânica. A liga defendia que a Alemanha expandisse a conquista de colônias na África e Ásia.

Mapa com as populações de origem alemã na Europa central antes da Segunda Guerra Mundial, influenciada pelo pangermanismo.
Populações de origem alemã na Europa Central no período anterior à Segunda Guerra Mundial.

Outro momento em que o pangermanismo ganhou força na Alemanha foi durante as décadas de 1920 e 1930, momento no qual o nazismo chegou ao poder e passou a governar o país. Milhões de alemães viviam fora do território germânico no Leste Europeu, principalmente na Áustria e na Tchecoslováquia. Adolf Hitler afirmava que os territórios habitados por alemães deveriam ser integrados ao território do Terceiro Reich. O pangermanismo foi o argumento utilizado para a anexação da Áustria, da região dos Sudetos e da Polônia, o que levou à eclosão da Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

O que foi o pangermanismo e o que ele defendia?

O pangermanismo foi uma ideologia e um movimento nacionalista que defendia a união em um mesmo território de todos os povos falantes da língua alemã. Sua origem está intimamente ligada ao nacionalismo romântico do século XIX, as Guerras Napoleônicas e a Unificação da Alemanha.

Em 1890, o kaiser Guilherme II assinou o Tratado de Zanzibar, em que os alemães aceitavam a autoridade inglesa em Zanzibar em troca de territórios em outras regiões da África. Boa parte da população alemã protestou, alegando que o tratado era desvantajoso para a Alemanha. Em resposta ao tratado foi fundada em 1891 a Liga Pangermânica, composta inicialmente por industriais, banqueiros, intelectuais, políticos e profissionais liberais. Com o passar do tempo, pessoas das camadas populares passaram a fazer parte da liga, e na década de 1920 ela chegou a ter mais de 40 mil membros.

A Liga Pangermânica defendia inicialmente o pangermanismo e o imperialismo. Para os membros da liga, a Alemanha deveria conquistar colônias para obter recursos naturais, mão de obra e mercado consumidor, garantindo assim a sobrevivência do povo alemão. A ideologia da liga, assim como a Alemanha do fim do século XIX e início do XX, era fortemente marcada pelo darwinismo social. Por essa crença, as nações competiam umas com as outras, de forma semelhante aos seres vivos, lutando por territórios e recursos. Para os membros da liga, as nações derrotadas seriam extintas, assim como espécies são extintas na natureza. Com o passar do tempo a Liga Pangermânica passou a difundir ideias antissemitas, a crença na superioridade da raça ariana e a eugenia, ideias que influenciaram diretamente o nazismo.

Veja também: União Soviética — nação formada a partir de um processo de unificação decorrente da consolidação do socialismo bolchevique na Rússia

Principais características do pangermanismo

A primeira característica do pangermanismo é a crença de que os povos de cultura alemã deveriam viver sob o mesmo Estado-nação. Mas não havia consenso entre os que defendiam o pangermanismo sobre quais povos deveriam ser considerados alemães. Existiam dois grupos principais em relação a essa questão. O primeiro defendia que somente os povos germânicos da Europa Central deveriam fazer parte do Estado alemão, com austríacos e parte da população da Tchecoslováquia. Outro grupo tinha uma visão mais ampla sobre quais povos deveriam ser considerados de cultura germânica, incluindo entre esses grupos os ingleses, nórdicos, neerlandeses, belgas e mesmo populações que viviam na América.

Na década de 1910, a liga aprofundou a defesa da ideia de que os alemães eram uma raça superior. Também defendia que a Alemanha conquistasse territórios povoados por eslavos, que estes fossem deportados e que colônias alemãs fossem edificadas nesses locais. Também defendiam que os judeus e poloneses que viviam na Alemanha fossem deportados para outros países.

Pangermanismo na Primeira Guerra Mundial

A Liga Pangermânica teve grande influência no governo alemão no período anterior à Primeira Guerra Mundial. Apesar de relativamente contar com poucos membros, cerca de 30 mil nesse momento, diversos membros do Parlamento, membros do Judiciário, da grande mídia e, principalmente, da elite econômica alemã, faziam parte da Liga Pangermânica. A liga via a guerra como uma forma de colocar em prática o pangermanismo, com a Alemanha conquistando as regiões que possuíam populações de origem alemã.

Durante a guerra a liga emitiu diversos documentos defendendo que a Alemanha utilizasse de forma irrestrita os submarinos, afundando qualquer tipo de embarcação ligada à Entente, inclusive de carga e transporte de passageiros. Após a derrota alemã na guerra a liga perdeu membros, mas voltou a crescer no início da década de 1920.

Pangermanismo na Segunda Guerra Mundial

Na década de 1930 e durante a Segunda Guerra Mundial, Hitler desenvolveu uma política conhecida como “heim ins reich”, algo como “De volta para o reich”. Esta política buscava estimular populações de origem alemã que viviam fora da Alemanha a fazer com que suas regiões “voltassem para casa”, ou seja, que voltassem a fazer parte do reich alemão. A política do “heim ins reich” também defendeu o povoamento do oeste da Polônia por populações germânicas. Nos anos finais da guerra, quando a União Soviética libertou boa parte do Leste Europeu, milhões de alemães foram obrigados a migrar novamente para o Estado alemão, e esse movimento continuou nos anos posteriores à guerra. Cerca de 500 mil alemães morreram nesse processo de migração em massa.

Veja também: Como se deu a reunificação da Alemanha?

Semelhanças e diferenças entre o pangermanismo e o pan-eslavismo

A grande semelhança entre os movimentos pangermânico e pan-eslavo era a forte presença do nacionalismo, atrelado à ideia de que pessoas que compartilhassem a mesma história, língua e cultura deveriam viver em seu próprio território e possuir seu próprio governo.

O pangermanismo pretendia que os povos falantes da língua alemã vivessem sob o mesmo Estado-nação. Ele foi liderado pela Prússia e pela sua sucessora, a Alemanha. O movimento também foi forte na Áustria, nação cuja maior parte da população era de origem alemã. O pangermanismo se localizou geograficamente na Europa Central.

Já o pan-eslavismo pretendia que povos eslavos vivessem sob o mesmo território. Quem apoiou o pan-eslavismo foi a Rússia, que via nesse movimento uma forma de garantir a sua influência no Leste Europeu, sobretudo na região dos balcãs.

Crédito de imagem

[1] Arquivo Federal Alemão / Wikimedia Commons (reprodução)

Fontes

BLANC, Claudio. Primeira Guerra Mundial: a guerra que acabaria com todas as guerras. Camelot, 2014.

CLARCK, Christopher. Os sonâmbulos: como eclodiu a Primeira Guerra Mundial. Companhia das Letras, São Paulo, 2014.

MAGALHÃES, Marionilde Brepohl. Pangermanismo e nazismo. Editora Unicamp, Campinas, 1998.

Por Jair Messias Ferreira Junior