Por Me. Cláudio Fernandes
Diferentemente de Atenas, que se caracterizou por uma estrutura política amplamente aberta à discussão e à deliberação – entre os homens livres e aptos a participarem da vida na pólis –, Esparta possuía uma estrutura política completamente associada à rígida formação militar dos membros que a compunham. Foi dessa rigidez e da consequente ausência de deliberação em assuntos políticos que nasceu a expressão laconismo.
Em Atenas, a discussão na Ágora (praça) entre os cidadãos livres e a reflexão sobre o exercício da vida na pólis (cidade-estado grega) – que ficou conhecida pela palavra política –, necessitavam de um elevado e sofisticado uso da retórica. Mas não retórica entendida no sentido pejorativo atual, de enganação, mas entendida no sentido original: uma arte (uma técnica) do bem falar, que era usada para chegar a um consenso sobre algum problema. O filósofo Aristóteles, que viveu em Atenas, escreveu um dos mais importantes tratados sobre política, mas também um igualmente importante sobre as funções da retórica entre os atenienses.
Esparta, por sua vez, concebeu sua estrutura política como expressão de sua formação guerreira, rígida e praticamente inflexível. Remete-se a fundação de sua legislação ao mítico rei Licurgo, que teria fixado as leis da cidade e as apresentado aos conselhos de anciãos, que as acatavam e as aplicavam. A rigidez das leis e o comportamento disciplinar, vindo da educação militar que vigorava desde a infância, tornaram os espartanos pouco afeitos à discussão política e à deliberação sobre temas que gerassem polêmica e embates.
Dessa forma, entre a sociedade espartana, não houve a necessidade do aprimoramento da arte retórica e de suas técnicas de persuasão e convencimento. Os espartanos, por essa razão, ficaram conhecidos como um povo de “vocabulário curto” ou “vocabulário reduzido”. Como era da região da Lacônia, o termo lacônico passou a designar esse tipo de comportamento pouco afeito à conversa e à discussão.
A brevidade de argumentos e a inflexibilidade política tornaram-se uns dos aspectos mais impressionantes da sociedade espartana.