Santo Graal

O Santo Graal foi uma das lendas mais populares da Idade Média e fazia menção ao suposto cálice utilizado por Jesus durante a Última Ceia.
O Santo Graal foi uma das lendas mais conhecidas de toda a Idade Média.
O Santo Graal foi uma das lendas mais conhecidas de toda a Idade Média.
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O Santo Graal é o nome de uma das principais lendas do período da Idade Média e refere-se ao cálice utilizado por Jesus Cristo durante a Última Ceia. A lenda do Santo Graal surgiu por volta do século XII e rapidamente foi popularizada na Europa medieval. Essa lenda mesclou-se com elementos das lendas arturianas e contou com influências célticas. Atualmente, algumas igrejas na Europa reivindicam o título de possuidora do Santo Graal – apesar de ser impossível comprovar a veracidade do objeto.

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Entendendo o Santo Graal

O Santo Graal é uma lenda que surgiu de um conto publicado por um escritor francês do século XII. Mas antes de entendermos as origens dessa peça mítica e sagrada, é importante que saibamos do que, de fato, se trata o Santo Graal.

O Santo Graal era uma relíquia, isto é, um objeto sagrado que estava relacionado com homens santos ou com o próprio Jesus Cristo. No caso, o Santo Graal estava relacionado com o próprio Jesus Cristo, uma vez que ele foi o cálice utilizado por Jesus Cristo na Última Ceia. Foi nela que Jesus realizou a primeira Eucaristia, sacramento no qual o pão e o vinho transformam-se no corpo e sangue de Cristo. Por ser uma relíquia, acreditava-se que o Santo Graal tinha poderes mágicos.

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Além disso, outras lendas medievais a respeito do Santo Graal falam que além de ser o cálice da Última Ceia, era também o cálice que foi usado por José de Arimateia para recolher o sangue de Jesus Cristo depois que ele foi perfurado pelo soldado romano durante a sua crucificação. Outras lendas também afirmam que o Santo Graal era a tigela (e não o cálice) que Jesus usou para repartir o pão durante a Última Ceia.

A imagem, por sua vez, que se consolidou do Santo Graal foi a de cálice usado durante a Última Ceia. Essa lenda atravessou os séculos e atualmente permanece viva, uma vez que algumas igrejas na Europa reivindicam para si o título de possuidora do Santo Graal. A mais conhecida delas está em Valência, na Espanha.

Localização do “Santo Graal” dentro da Catedral de Valência, na Espanha.*
Localização do “Santo Graal” dentro da Catedral de Valência, na Espanha.*

A Catedral de Valência teve sua construção iniciada no século XIII e alega atualmente possuir o verdadeiro Santo Graal. A história explicada por essa Catedral conta que o cálice foi levado a Roma por São Pedro, depois foi enviada para Huesca, por conta da perseguição aos cristãos no Império Romano. No século XV, o rei Afonso, o Magnânimo assumiu o trono de Aragão e doou o Santo Graal para a Catedral de Valência.

Essa história, porém, é impossível de ser comprovada pelos historiadores, uma vez que faltam evidências documentais que sustentem a alegação da Catedral de Valência. Para deixar essa situação mais complicada, outros locais, como a Basílica de Santo Isidoro, em León, também na Espanha, alegam ser possuidores do Santo Graal.

Influências e origens do Santo Graal

A lenda do Santo Graal sustenta-se em lendas medievais de origem cristã, mas também possui elementos pagãos. Nessa parte, veremos uma breve consideração a respeito de cada uma das influências e das origens do Santo Graal.

  • Paganismo

Muitos estudiosos do assunto apontam que a lenda do Santa Graal teve influência da cultura celta. Isso porque antes de popularizar-se como cálice, o Santo Graal era para muitos uma tigela redonda. Essa imagem aproximava-se de uma lenda celta, povo que habitava as Ilhas Britânicas e parte da Europa Central.

Os celtas acreditavam que existia um caldeirão com poderes mágicos que era capaz de fornecer comida e bebida infinitamente. Os historiadores acreditam que essa visão de um caldeirão mágico capaz de fornecer alimentos e, logo, vigor e vida para as pessoas foi muito importante na construção da primeira história que cita o Graal.

  • Cristianismo

Apesar do elemento pagão presente na lenda do Santo Graal, o grosso de sua história é oriundo do cristianismo. A história do Santo Graal foi publicada pela primeira vez no século XII por Chrétien de Troyes sob o nome de “O Conto do Graal”. Nessa história, temos o primeiro registro da palavra “graal” e o personagem principal – Percival – estava em busca desse objeto sagrado.

Nessa primeira história, os historiadores afirmam que o graal não se tratava de um cálice, mas, provavelmente de uma tigela chamada escudela (daí sua associação com o caldeirão mágico dos celtas). Chrétien de Troyes, posteriormente, resolveu escrever uma continuação para a história de Percival, mas essa continuação ficou inacabada, provavelmente por conta de sua morte.

Posteriormente, com o sucesso da história de Chrétien de Troyes, novas histórias foram escritas pela Europa medieval sobre o tema. Todas elas mesclavam o Santo Graal com as lendas do Rei Arthur e essas histórias possuíam um forte apelo religioso, uma vez que o Santo Graal era um objeto sagrado e trazia à tona toda a importância das relíquias no imaginário da cristandade medieval. Nessas histórias, o Rei Arthur e seus cavaleiros estava à procura do Santo Graal.

O Santo Graal tornou-se de fato um cálice em histórias posteriores à de Chrétien de Troyes. Em outras histórias, como a de Robert Boron, por exemplo, o Santo Graal era um objeto sagrado, mas sem uma forma definida. Aqui, nós podemos perceber que o Santo Graal assumiu três formas nas lendas medievais: uma tigela, um cálice e um objeto de forma indefinida. Dessas, o cálice foi o mais consolidado no imaginário popular.

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Curiosidades

  • A história do Santo Graal mesclou-se com os Templários na mentalidade popular, por meio de uma obra acadêmica de um estudante austríaco chamado Joseph von Hammer-Pugstall. Nessa obra, Hammer-Pugstall afirmava que o Graal era utilizado para fins satânicos pelos cavaleiros templários.

  • No começo do século XX, acreditava-se que o Cálice de Antioquia fosse o Santo Graal, mas novos estudos concluíram que se tratava apenas de uma lâmpada a óleo.

  • O Santo Graal esteve presente em obras do cinema como Monty Python em busca do cálice sagrado e Indiana Jones e a última Cruzada.

  • Na literatura, o Santo Graal esteve presente, por exemplo, no Código da Vinci, de Dan Brown.

  • No século XIX, a Ordem Hermética da Aurora Dourada acreditava que as histórias do Santo Graal escondiam segredos da cristã.

  • Na Inglaterra, de acordo com as lendas medievais, muitos acreditavam que o Santo Graal foi levado para lá por meio de José de Arimateia.

  • A partir do século XVI, a lenda do Santo Graal perdeu força em alguns locais da Europa por conta da Reforma Protestante.

*Créditos da imagem: Kumpel e Shutterstock

Por Daniel Neves Silva